Emergência climática, temporais e ondas de calor: você está olhando para cima?

Muito se comenta sobre o calor descomunal e as chuvas intensas no sul, mas a sua bolha está mesmo levando a sério que vivemos a emergência climática?

Legenda: O calor recorde deste ano tem múltiplos fatores: vai da forte ação do fenômeno El Niño aos efeitos das mudanças climáticas provocadas pelas emissões de gases de efeito estufa e pela destruição das florestas.
Foto: Arquivo Diário do Nordeste

A quentura é tema desde sempre no nosso rincão cearense. Como está o interior? Tá ótimo, tem um sol pra cada um. Quando abrem as portas do aeroporto de Juazeiro do Norte, o bafo é grande. Tem dia que, meidiinha, não tem quem aguente fazer nada a não ser estirar o corpo no chão geladinho de cimento queimado. Mas Deus nos ajude a atravessar o be-erre-o-bró inteiro em tempos de emergência climática e ondas de calor. Será que o xiringador que o prefeito de Fortaleza mandou instalar na Beira-Mar vai ajudar? Haja xiringada que o assunto é sério!

Você já se perguntou se está olhando para cima? Explico: quando assisti o filme Don't Look Up (Não Olhe Para Cima, em português), quase me pareceu estúpido que a humanidade fosse ignorar os alertas do apocalipse lançados por dois cientistas. O filme conta a história de um cometa que está prestes a se chocar com a Terra, mas o ser humano ri e faz piada porque está mais preocupado com os likes das redes sociais.

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A sátira exagerada só não deixou a impressão de que aquela reação negacionista coletiva de não olhar para cima e acreditar que o cometa se aproximava seria impossível porque ainda estávamos, na época de lançamento do filme, vivendo nossa própria dose de negacionismo com a pandemia do coronavírus.

Mas agora não estamos mais em quarentena e talvez os sinais apareçam "suavizados" no nosso dia a dia. Ou mesmo pareçam difíceis de serem vistos, já que sempre estiveram aqui. É como o calor que, apesar de potencializado, sempre esteve nas nossas piadas nordestinas. Ou das secas que sempre estiveram aqui. Mas vocês já notaram que até a chuva do caju às vezes parece que está vindo meio fora de época?

Deserto

Quem cresceu rezando para chover no dia 19 de março, dia de São José, há de se espantar com as enchentes que vimos neste ano no Ceará. Vamos dar um zoom out e olhar para o país? Temporais e tornados no Rio Grande do Sul. Uma cidade no Piauí chamada Gilbués se tornou um deserto maior que Nova York. Uma sensação térmica de quase 60 graus no show da Taylor Swift no Rio de Janeiro, com mil pessoas passando mal de calor. Uma fã morreu. Quedas de energia que duraram vários dias em São Paulo.

No X (finado Twitter), pesquisadores lembram que as ondas de calor que estão tomando o país podem afetar as redes de energia e o funcionamento dos nossos eletrodomésticos. Fique de olho se seu congelador está funcionando bem e preservando a comida. Pratica exercícios físicos? Atente para a temperatura do dia para evitar um Heat Stoke, quando o calor e a umidade são muito altos e causam um colapso. Há quem defenda a paralisação de atividades escolares ou laborais em dias muito quentes. Dicas para os novos tempos.

E que novos tempos são esses? Tempos de emergência climática, com a necessidade de ações urgentes para reduzir ou cessar a mudança do clima com o objetivo de prevenir danos ambientais que podem ser irreversíveis. E que podem matar. Na verdade, já estão matando: dos midiáticos desastres que costumam afetar populações mais pobres às mais silenciosas ondas de calor.

Na última sexta-feira (17 de novembro), a média global de temperatura ultrapassou os 2°C de anomalia e atingiu 2,07°C acima dos níveis pré-industriais (1850-1900). Um recorde mundial que assustou os cientistas: embora estes dois graus sejam referentes a um período muito menor do que a média de dois graus que os países acordaram que iriam agir para evitar durante o Acordo de Paris, eles servem de alerta.

A ocorrência de períodos extremamente quentes tem aumentado nas últimas décadas. No Brasil, o número de dias em que vivemos ondas de calor já passa, em média, de 50 por ano, segundo uma análise feita pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Dos anos 1960 aos anos 1990, essa média era de até sete dias. 

O calor recorde deste ano tem múltiplos fatores: vai da forte ação do fenômeno El Niño aos efeitos das mudanças climáticas provocadas pelas emissões de gases de efeito estufa e pela destruição das florestas. Os aumentos de temperatura e o aumento dos eventos extremos estão mais acelerados do que os modelos previam. E você, está olhando para isso?

No Ceará, Jaguaribe, Barro e Crateús registraram 16 picos de temperatura acima dos 40 °C no mês passado. Neste mês, Santa Quitéria bateu os 40 graus. Aqui a gente sabe que, no Be-erre-o-bró, de setembro a dezembro, as temperaturas sempre subiram porque há menos nuvens e a radiação solar afeta o Estado sem essa “barreira” natural. Mas tem mais coisa acontecendo. Vamos olhar para cima?