Quando o amor joga junto: Renata e Marcella vivem sonho por acesso do Ceará Vôlei
Ponteira e levantadora se conheceram em 2020 e hoje defendem a equipe alvinegra na Superliga B
As mãos de Renata Calandrine e Marcella dos Santos contam muitas histórias. Fora de quadra, elas constroem uma vida. Entre as quatro linhas, as atletas levantam a bola para levar o Ceará Vôlei ao lugar mais alto do pódio. A equipe disputa a Superliga B pela segunda vez consecutiva e busca o sonhado acesso à elite nacional da modalidade. Juntas há cinco anos, as atletas relembram o início da relação, o apoio durante os jogos e a vontade de subir mais um degrau na carreira.
O amor pelo esporte começou ainda na infância para as duas. Renata, levantadora, joga desde os oito anos. A trajetória teve início no Clube Assembleia Paraense. Após se destacar, precisou deixar o estado e passou por clubes como Taubaté (SP), antes de seguir rumo ao Paraná. Marcella, ponteira, entrou em quadra ainda jovem. Antes do vôlei, chegou a praticar atletismo, mas ouviu a melhor amiga e mergulhou de vez na nova modalidade.
“Comecei a jogar com 13 anos, mas antes disso eu fazia atletismo. Foi ali que tive meu primeiro contato com o esporte. Acabei trocando por causa da minha melhor amiga. Até agradeço a ela, porque, se eu não tivesse mudado de esporte, não a teria conhecido”, afirmou a ponteira em entrevista ao ge.
“Ela [a amiga] brinca muito com a gente. Diz: ‘Viu? Se não fosse eu ter te mandado para o vôlei, tu não teria conhecido ela’. O vôlei me ajudou a estudar. Sou formada com a ajuda do esporte, viajei por muitos estados através do vôlei e, até hoje, minha vida é escrita por meio dele”, completou a levantadora, aos risos.
O ENCONTRO
Não demoraria para as duas se encontrarem em Foz do Iguaçu. E aconteceu, em 2020, através do vôlei. A convivência em alojamentos forjou o companheirismo na amizade, que amadureceu e virou amor. A união fora de quadra enveredou na carreira. As duas sempre buscam atuar na mesma equipe.
“Nossa primeira vez assim, conversando, acho que a gente tinha os mesmos assuntos. E a gente é bem parecida mesmo”, relembrou Marcella.
“A gente gosta dos mesmos esportes, das mesmas coisas, do mesmo estilo musical. Acho que a cumplicidade ali ajuda bastante. Acredito que se a gente não fosse jogadora não aconteceria essa conversa, essa liberdade entre a gente”, completou Renata.
Antes da chegada ao Ceará comandado pelo técnico Raphael Dantas, elas passaram por cinco clubes diferentes e já jogaram uma contra a outra.
Renata e Marcella citam episódios de preconceito, que infelizmente ainda perpassam a vida delas. Olhares diferentes, falas atravessadas… Apesar dos desafios, costuram a carreira no esporte com muito respeito e profissionalismo. Sempre com o apoio da família.
A VEZ DO CEARÁ
O Ceará disputa a Superliga B feminina de vôlei pelo segundo ano seguido. O convite para defender o Alvinegro partiu da capitã Ariadna Borges. Encaixou, já que parte da família de Renata reside na capital cearense. E ela mesma tinha o desejo de fixar moradia na cidade. A decisão foi rápida.
“Já vamos indicar a Marcella, já comecei a conversar com ela. Aí surgiu a proposta, mas ela queria jogar com a Renata. Então ela declinou. Foi uma coisa que a gente riu um pouco. Depois de um tempo surgiu a opção de ter a Renata aqui como levantadora também”, relembrou Ariadna, que já havia dividido quadra com a dupla em outras equipes.
O companheirismo é amigo da rotina dura de treinos e jogos. Quando ficaram em equipes diferentes, ficou mais difícil.
"Acho que a distância pega bastante. principalmente porque, assim como jogamos em três clubes juntas, a gente jogou também separadas. E foi bem difícil. E período de Superliga B é muito intenso. A gente treina três vezes ao dia e acaba se cansando”, pontuou Marcella.
“Acordo mais cedo, faço café da manhã, ela chega e toma café. E ela cuida do café da tarde. A gente não vê isso como uma obrigação. Mas entendemos que, para ela descansar um pouco mais, eu preciso fazer um pouco mais. Pra eu descansar, ela acaba entregando um pouco mais. Se todas nós, atletas, tivéssemos mais essa parceria, de dividir as funções da casa mesmo, do dia a dia, seria mil vezes melhor”, completou.
SINTONIA EM QUADRA
A sintonia fora das quatro linhas também se reflete no jogo. As duas garantem que o amor fora de quadra irradia na entrega para defender a camisa alvinegra.
“É óbvio que a gente tem essa parceria de anos jogando juntas também. O que facilita. Ela já sabe minha bola de cor, eu brinco com ela. Torna mais fácil. Viemos de outras equipes juntas e isso agrega muito para a gente”, explicou a ponteira.
“Tem gente que diz que não dá certo, mas eu acho que dá certo”, completa a levantadora.
Juntas compartilham o desejo de levar o Ceará Vôlei a outro patamar da elite da modalidade.
"Nossa temporada começou a todo o vapor. É uma competição em um período curto, mas com muita intensidade. Estamos felizes por, nesses primeiros quatro confrontos, termos pontuado em todos eles. Estamos no início do trabalho, ainda tem coisas para ajustar. Mas, com o pé no chão, dedicação e muito trabalho, vamos, juntos, para conseguir, se Deus quiser, o tão sonhado acesso para a Superliga A", destacou Marcella.
O Ceará é o terceiro na tabela da Superliga B com nove pontos somados. A pontuação é a mesma do vice-líder Pinheiros e do líder Abel Moda Vôlei. A equipe venceu três dos quatro jogos disputados. As alvinegras superam Recife Vôlei, Flamengo e Ascade. A única derrota ocorreu diante da Chapecó.
O próximo desafio será no dia 6 de janeiro, fora de casa, quando encara o ASA Alumínio Vôlei. Campeão e vice da competição conquistam o acesso para a elite do vôlei nacional e vão disputar a Superliga A na próxima temporada. Quando o amor joga junto, a quadra vira casa, a parceria vira força em busca do sonho coletivo.