Prática do kitesurfe retorna no Ceará com protocolos avançados

Eventos tiveram reinício seguindo orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS). Entre eles, o Surfin Sem Fim (SSF), com rota que passa pelo Estado, saindo de São Miguel do Gostoso (RN) e indo até Atins, no Maranhão

Legenda: Eventos, como o Surfin Sem Fim, já foram liberados para ocorrer, obedecendo aos protocolos
Foto: Leca Mir

O Estado do Ceará é elementar. No encontro da terra com o mar, o vento conduz ao céu os viajantes e aventureiros do litoral paradisíaco: tudo através da prática do kitesurfe. Um dos esportes mais tradicionais do povo cearense encontrou resistência com a pandemia do novo coronavírus, mas se adaptou e ressurgiu no velejo das velas ao sol. Aos poucos, a modalidade é retomada, ainda com restrições.

Os protocolos de segurança são montados para impedir a propagação da Covid-19 entre os atletas, apesar do traquejo ocorrer de modo individual. Na solidão das águas e do agito das ondas, os velejadores se conectam ao litoral e seguem rotina de cuidados desde o fim de agosto.

Aos competidores do Circuito Mundial, a vantagem é "estar preso" na Meca do Kite mundial. Com excesso de ventos, águas mornas e imensidão de faixas de areia, o território cearense recebe anualmente os principais nomes do desporto radical.

Treino em casa

Assim, o ano de 2020 surge como retorno às origens e aos nativos: praias e velas tomadas por cearenses privilegiados. "Para essa temporada, os meus planos agora são ficar no Brasil treinando para tentar colocar meu nível mais alto e entrar com mais força (no Mundial). Todo mundo tem que treinar no seu país, e estou no Brasil, o melhor canto para treinar no mundo. Estou feliz. Na Alemanha, não dá para velejar, por exemplo. Vou ficar treinando e indo para academia", relata a cearense Mikaili Sol, a Mika, uma das atletas que seguem treinando em solo cearense.

Natural da Praia do Preá, no município de Cruz, distante 235 quilômetros de Fortaleza, a jovem cearense carrega um dos maiores currículos da história do esporte. Tetracampeã mundial na categoria júnior e atleta mais jovem a vencer uma prova, Mika tem 15 anos e soma três títulos do principal circuito de kitesurfe profissional.

"Esse ano é estranho, tudo que não podia acontecer, aconteceu. Com as competições paralisadas, o mundo inteiro parou por uns meses, mas agora está começando a voltar ao normal", explica.

Os eventos tiveram reinício seguindo orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS). Um dos pontos de referência mundial na modalidade, o Rancho do Peixe também lançou cartilhas para instruir os atletas antes e durante as idas ao mar.

A instituição é uma das sedes do projeto Surfin Sem Fim (SSF). O movimento organiza rotas nacionais e internacionais, com percursos que podem partir de 40 até mil quilômetros percorridos pelo mar. Os trajetos são realizados unicamente através do velejo. Atualmente, há a realização do "Terra do Vento", partindo de São Miguel do Gostoso (RN) e chegando em Atins, no Maranhão.

Legenda: Prática do kitesurfe no litoral cearense precisa manter o distanciamento mesmo dentro d'água
Foto: Ydwer van der Heide

"O cuidado é desde a hora que chegam no aeroporto. Mudou completamente, tivemos que nos reeducar e reaprender a estar próximo. Foi uma boa chacoalhada que tomamos porque a gente realmente se profissionalizou mais. Nós estamos sentindo as mudanças, mas acho que a médio prazo e a gente está com uma perspectiva muito boa", aponta o instrutor Eduardo Fernandes.

Regras rígidas

As medidas aplicadas no Estado do Ceará para a sequência da prática do kitesurfe no Surfin Sem Fim (SSF) começam com a avaliação de saúde de todos os participantes, seja atleta ou instrutor. Todos os membros da equipe precisam estar assintomáticos por, no mínimo, 15 dias. Caso qualquer integrante apresente indícios de contaminação por Covid-19 deve permanecer em isolamento por duas semanas.

O uso do álcool em gel e a higienização são obrigatórios nos equipamentos e veículos utilizados pelos atletas. Há também a medição da temperatura digital constante. As instruções geram flexibilização quanto à presença de estrangeiros na modalidade, apesar de menor fluxo.

"Essa parte de protocolos de segurança foi imprescindível para a gente poder continuar com o projeto. Esse ano, a gente deu uma enxugada porque os estrangeiros não começaram a vir ainda e a gente teve que dar uma reestruturada no calendário", afirma Eduardo.

Mesmo na praia, o uso de máscara é solicitado para prática do kite. Os participantes devem velejar mantendo o distanciamento no mar e portar álcool em gel.

Em caso de downwind - percursos longos na direção do vento - as pausas para alimentação precisam ser montadas em locais arejados.

O protocolo entrou em vigor acompanhando o plano estadual de retomada da economia no Ceará. Vale ressaltar que não há restrições impostas para contingente de hóspedes em hotéis desde que as regras específicas de hotelaria sejam cumpridas. No escopo de esportes, o kite é avaliado como uma modalidade impulsionadora do turismo local pelo número de turistas praticantes no litoral cearense.


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