Do Marco Zero de Fortaleza para o Sul. Da praia para a Arena Castelão. A história de Caio Vidal é a de todo sonhador cearense que busca a sobrevivência no futebol. Com 21 anos, o agora atacante do Internacional entrou para o rol dos heróis da própria história ao marcar um dos gols do time gaúcho no triunfo sobre o Ceará, na última quinta-feira, em Fortaleza, pela 29ª rodada da Série A do Campeonato Brasileiro.
Natural da Barra do Ceará, ascendeu de família humilde, perdeu o pai, Raimundo Nonato Rocha, na infância e acompanhou o sofrimento da mãe Marinete, hoje com 49 anos, com os demais filhos Caiane e Carlos Eduardo: trabalhava o dia inteiro como comerciante para cuidar de todos. Assim, herdou de berço a bravura e seguiu pelo Brasil.
"Estava assistindo (ao jogo) com a irmã dele. Quando Caio caiu, eu disse que iam 'judiar' com ele, mas ele vai vencer. Eu chorei (no gol), pra mim o mundo acabou, fiquei emocionada, depois levantei a cabeça. Ele veio ao Ceará e fez o gol", relatou a matriarca.
O começo da carreira foi no Ferroviário. Depois, o atleta acumulou passagens por equipes locais até receber oportunidade no Porto (PE). A trajetória no Inter teve início em 2019, após participação na Copa São Paulo de Futebol Júnior. Com contrato até 2022, tem multa rescisória de ? 50 milhões (cerca de R$ 331 mi).
"Um tempo atrás eu estava aqui nesse estádio assistindo Fortaleza x Ceará com meu pai, que hoje está no céu. Ele era Fortaleza 'doente', hoje ele está gritando lá (no céu), e minha mãe, que é uma guerreira. Trabalhava em uma barraca na Barra do Ceará. Guerreira, sofredora como eu, que estou realizando um sonho. Não podia ser diferente, na minha cidade, no Castelão, o meu primeiro gol pelo Internacional", declarou Caio Vidal.
Hoje, a distância é uma dificuldade no processo. Os reencontros ficam escassos, principalmente devido à pandemia de Covid-19, com o jovem atacante morando no Rio Grande do Sul. A irmã entregou o carinho. "Ele é gente boa, atencioso, brincalhão, sempre presente", afirmou.
Sonho
Os capítulos são escritos aos poucos, mas a pretensão é chegar à Seleção Brasileira. Repetir os efeitos de grandes nomes, como o do também cearense Everton 'Cebolinha', agora atacante do Benfica, de Portugal, e campeão da Copa América sob comando do técnico Tite.
Assim, os desafios são avaliados. Da chuteira - equipamento essencial - adquirida por R$ 400 sem que houvesse nenhuma condição financeira positiva, Caio fez o talento florescer e hoje ajuda a família. "Todo dia eu sonho com isso (a Seleção). A gente começa aos poucos. Começou na beira da praia e olha onde está", brincou Marinete.
Para tal, manter-se em alto nível é importante. Conquistando títulos na equipe sub-20, chamou a atenção do treinador Abel Braga após um único treino e logo foi promovido ao profissional. "Ele me deu moral: 'aqui na tua cidade, agarre a oportunidade e seja feliz'. O professor Abel é um cara sensacional, sou muito grato", contou Caio.
Na atual edição do torneio, ele soma cinco partidas e um gol. Ao todo, são 329 minutos na 1ª divisão.