Ucrânia captura petroleiro russo em retaliação por incidente de 2018

Confrontação militar direta entre os dois países permanece como um dos temas mais sensíveis entre os governos de Kiev e Moscou

Escrito por AFP ,
Legenda: Navio Nika Spirit foi capturado no porto de Izmail
Foto: Foto: Reprodução

A Ucrânia anunciou nesta quinta-feira (25) a retenção em um de seus portos de um navio-tanque russo, alegando suspeita de envolvimento desta embarcação em um imbróglio naval bilateral no fim de 2018, o que gerou uma advertência de Moscou.

Oito meses após o apresamento, por parte da Rússia, de navios de guerra ucranianos ao longo da Crimeia e da captura de 24 marinheiros desta nacionalidade, esta primeira confrontação militar direta entre os dois países em cinco anos de crise permanece como um dos temas mais sensíveis entre Kiev e Moscou.

O petroleiro teria participado desse incidente, segundo os serviços ucranianos de segurança, barrando navios desta bandeira na entrada do Estreito de Kertch. Seus proprietários russos então alteraram seu nome de "Neyma" para "Nika Spirit", com o objetivo de "esconder seu envolvimento neste ato de agressão".

Ao atracar na quarta-feira no porto ucraniano de Izmail, situado no estuário do Danúbio, na região de Odessa, o cargueiro foi capturado, relataram os Serviços de Segurança Ucranianos (SBU) em um comunicado.

"Um grupo de investigadores do SBU revistou o navio-tanque retido", "apreendeu documentos" e "interrogou os membros da tripulação", detalhou a mesma nota.

"Trata-se de uma tomada de reféns russos. Isso será considerado uma violação grosseira do Direito Internacional, e as consequências não vão tardar", advertiu o Ministério russo das Relações Exteriores, ressaltando que o governo vai estudar a situação para tomar "as medidas adequadas".

Posteriormente, o ministério das Relações Exteriores russo informou que dez tripulantes russos deixaram o território ucraniano e já estavam em território nacional. Segundo o jornalista ucraniano Yuri Butussov, especializado em questões de segurança, o petroleiro seguia para Izmail para reparos e viajava sem carga.

"O apresamento foi aprovado na véspera pelo presidente Volodymyr Zelensky", completou.

Liberação negociada 

No final de novembro, as autoridades russas apreenderam três navios de guerra ucranianos que tentavam penetrar o mar de Azov, compartilhado entre os dois países, pelo estreito de Kertch que o separa do mar Negro. Este é o primeiro incidente armado direto entre os dois países, cujas relações atravessam uma grave crise desde 2014. Desde então, 24 marinheiros ucranianos são mantidos presos na Rússia.

Em maio, o tribunal marítimo internacional de Hamburgo, na Alemanha, pediu a Moscou que solte "imediatamente" os militares. O Kremlin rejeitou a decisão, avaliando que a instância não era competente para tal.

Enquanto Kiev e Moscou negociam sua eventual libertação, o novo presidente ucraniano, o ex-comediante Volodymyr Zelensky, pediu no fim de junho ao presidente russo, Vladimir Putin, que solte os marinheiros. Em meados de julho, a Justiça russa voltou a prolongar sua detenção por três meses.

As relações entre Ucrânia e Rússia estão sob forte tensão desde a chegada dos pró-ocidentais ao poder em Kiev, em 2014. Agravou-se com a anexação da Crimeia e com um conflito com separatistas pró-russos no leste. Estes confrontos já deixaram quase 13 mil mortos em cinco anos.