Procurador de SP diz que mulheres têm 'obrigação sexual' e associa feminismo a transtorno mental

Por causa disso, Anderson Vagner Gois dos Santos é alvo de duas representações no MPF

Escrito por Redação ,
Fachada da Procuradoria da República em São Paulo.
Legenda: Procurador disparou mensagens para lista interna do MPF nesta segunda-feira (18).
Foto: Shutterstock

Anderson Vagner Gois dos Santos, procurador da República de São Paulo, é alvo de duas representações na corregedoria do Ministério Público Federal (MPF) após enviar mensagens a uma lista interna do órgão relacionando o feminismo a um transtorno mental e sugerindo que mulheres casadas têm "obrigações sexuais" com os cônjuges.

O caso veio à tona na GloboNews e na coluna da jornalista Malu Gaspar, do O Globo.

De acordo com a colunista, Santos disparou as mensagens em uma lista de e-mails com centenas de integrantes do MPF em todo o Brasil. Intitulado "Feministos e Feministas", o texto do procurador afirma que "a feminista normalmente é uma menina que teve problemas com o (sic) pais no processo de criação e carrega muita mágoa no coração".

Alguns integrantes do MPF, segundo a jornalista do O Globo, enxergam o comportamento de Santos como uma discriminação contra mulheres e que pode acarretar "quebra de decoro funcional".

O procurador foi procurado por Malu Gaspar para se posicionar diante da denúncia e disse que reiterava o teor das mensagens.

"O que percebo hoje no Brasil, dentro das instituições, é um grande aparelhamento de esquerda, que dificulta enormemente qualquer governo que não compactue com uma série de agendas, dentre as quais a agenda feminista, LGBT, racialista, a agenda ambientalista extrema, que no final das contas nos impede de nos desenvolvermos economicamente, e isso causa muitos dissabores", respondeu Santos à coluna do O Globo.

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Críticas ao feminismo

No e-mail enviado aos colegas do MPF, Santos escreveu ainda que uma mulher feminista "normalmente é uma adolescente no corpo de uma mulher". "Desconhece uma literatura de qualidade e absorveu seus conhecimentos pela televisão e mais recentemente pela internet", continuou. O texto foi encaminhado na segunda-feira (18).

E não parou aí: Santos afirmou ainda que feministas buscam empoderamento numa "tentativa de suprir profundos recalques e dissabores com o sexo masculino gerado pelas suas próprias escolhas de parceiros conjugais". 

“Muitas em verdade tem (sic) vergonha da condição feminina. Acredito que daqui a algum tempo deverá existir um CID para esse transtorno mental", complementou o procurador. "CID" é a Classificação Internacional de Doenças.

'Débito conjugal'

Com a justificativa de querer levantar debate sobre monogamia e se deveria existir a criminalização do adultério, segundo ele mesmo informou à GloboNews, o procurador escreveu ainda que mulheres têm "débito conjugal" com os maridos e que elas deveriam sofrer prejuízos financeiros caso não quitassem esse "débito".

O progressismo nos convenceu que o cônjuge não tem qualquer obrigação sexual para com o seu parceiro, levando muitos à traição desnecessária, consumo de pornografia e ao divórcio. (...) Esse é um drama vivido muito mais pelos homens diante das feministas ou falsas conservadoras. A esposa que não cumpre o débito conjugal deve ter uma boa explicação sob pena de dissolução da união e perda de todos os benefícios patrimoniais”.
Anderson Vagner Gois dos Santos
Procurador da República de São Paulo, em e-mail enviado a colegas no MPF

À GloboNews, Santos negou a defesa ao estupro marital. Ele reforçou que levantou o questionamento após decisões judiciais anularem casamentos considerando a falta da prática sexual.

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Investigação interna

Anderson Santos é investigado internamente pelo MPF. À coluna Universa, do Uol, a Procuradoria-Geral da República (PGR) informou que a corregedoria do órgão está analisando o caso e que, por ora, não há mais informações.

Caso seja punido pelo comportamento, o procurador pode receber advertência, censura ou suspensão das funções. Em casos extremos, o órgão demite o servidor.

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