Flordelis chora ao ouvir relato de desembargador e pede desculpas a ele: 'estou muito envergonhada'
No quarto dia de julgamento da morte do pastor Anderson do Carmo, foi ouvido o desembargador Siro Darlan, que fiscalizava a custódia das crianças adotadas pela ex-deputada
O desembargador Siro Darlan, ex-juiz da Vara da Infância e Adolescência do Rio de Janeiro entre 1990 e 2005, prestou depoimento nesta quinta-feira (10), no julgamento que trata da morte do pastor Anderson do Carmo. A ex-deputada federal Flordelis dos Santos de Souza, uma das acusadas do crime cometido em 2019, se emocionou ao ouvir a testemunha e, ao levantar para sair da sala, chorou e pediu desculpas ao desembargador.
"Me perdoa, doutor Siro. Obrigada por tudo o que você fez por mim. Sou inocente. Estou muito envergonhada", disse a ex-parlamentar, que precisou ser retirada do plenário pela sua defesa para se acalmar. As informações são do jornal O Globo.
Este é o quarto dia de julgamento do caso da morte do pastor Anderson do Carmo. Além de Flordelis, são acusados outros réus, como filhos adotivos e outros biológicos da ex-deputada.
Siro Darlan, ainda conforme O Globo, relatou que, na década de 90, como titular da 1ª Vara da Infância e Adolescência, foi procurado por empresários que queriam ajudar Flordelis. À época, ela morava em um barraco na favela do Jacarezinho, na Zona Norte do Rio, com aproximadamente 25 crianças.
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"Até 2004, a família [de Flordelis] estava tratando as crianças com dignidade e respeito. Mas nunca deixei de fazer parte da história deles porque os empresários sempre me comunicavam o progresso da família, que havia se transferido para uma casa maior e melhor", contou o desembargador, uma das testemunhas arroladas pela defesa da pastora.
A testemunha disse ainda que, para regularizar a situação das crianças que viviam sob os cuidados da ex-deputada, uma das exigências feitas por ele foi a pastora explicar a origem das crianças, o que nunca foi feito.
"Tínhamos notícias dadas por ela e Anderson, mas nunca constatamos a veracidade. [As crianças] Nunca foram reclamadas pelas famílias biológicas, então, estavam abandonadas. Melhor acolher nessa família do que abandonadas na rua", justificou o jurista.
Último contato com Anderson
Darlan também classificou o crime como um "desastre" e revelou que seu último contato com o pastor Anderson foi três dias antes dele morrer. "Ele me ligou dizendo que queria uma audiência comigo e com a Flor para discutirmos um projeto de lei sobre a proteção de crianças e adolescentes. Mas, como estava viajando, falei para marcamos um mês depois".
O desembargador também afirmou que sempre achou o casal "unido" e descreveu sua relação com Anderson:
"Anderson passou por várias etapas: conheci como filho, depois ele casou com a Flor e assumiu protagonismo tal que, quem falava comigo, não era a Flor, mas o Anderson. E assumiu uma posição de pai desses filhos/irmãos. Passou a ser um gerente, o cara que decidia e comandava esse produto 'família Flordelis'. Flor quase nem falava comigo e, quando falava, era de cabeça baixa. Já o Anderson, não. Anderson era o cara", discursou o jurista, segundo o G1.
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'Completamente desequilibrada'
Após a sessão, questionado pela imprensa sobre o pedido de perdão feito por Flordelis, o desembargador respondeu que "ela está completamente desequilibrada, sentada onde está [banco dos réus]" e que pode ter sido uma frase de desabafo ou apenas pelo fato de ele estar sendo testemunha do processo e já estar estado com ela "no auge".
Sobre o reencontro no tribunal, conforme O Globo, ele disse: "Isso é lamentável para toda a sociedade, né? Porque nós tínhamos uma imagem de uma mulher heroica que protegia crianças e adolescentes e, hoje, está sentada no barco dos réus. Isso é motivo de tristeza para todo mundo. Para toda a sociedade", disse.
Além disso, Darlan afirmou que espera que seja feita "justiça". "Esperamos que os jurados que representam essa sociedade façam justiça. Esse histórico da família Flordelis e Anderson é um marco na minha vida como juiz, um exemplo de como a sociedade deve cuidar de crianças e adolescentes", concluiu.