Nicolás Maduro mobiliza tropas da Venezuela após chegada de navio de guerra britânico à Guiana
A Guiana é ex-colônia do Reino Unido e negou ter planos de "uma ação ofensiva" contra o vizinho latino
O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, convocou mais de 5,6 mil combatentes para participar, desde essa quinta-feira (28), de exercícios militares em resposta à chegada de um navio de guerra britânico à costa da Guiana. Esta, ex-colônia do Reino Unido, negou ter planos de "uma ação ofensiva".
O envio da embarcação HMS Trent pelo antigo colonizador quebra uma frágil trégua entre os dois países, que enfrentam uma escalada na disputa secular pelo território de Essequibo, região rica em petróleo.
"Ordenei a ativação de uma ação conjunta de toda a Força Armada Nacional Bolivariana sobre o Caribe Oriental da Venezuela, sobre a Fachada Atlântica, uma ação conjunta de caráter defensivo e em resposta à provocação e à ameaça do Reino Unido contra a paz e a soberania de nosso país", disse Maduro em uma transmissão de rádio e de televisão, acompanhado do alto comando das forças armadas.
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"Estas são medidas de rotina que são planejadas há muito tempo, são parte da construção da capacidade defensiva", disse nesta quinta-feira durante uma coletiva de imprensa o vice-presidente do país, Barrat Jagdeo, ao ser questionado sobre os exercícios militares realizados pela Venezuela.
"Não planejamos invadir a Venezuela, o presidente [Nicolás] Maduro sabe disso [...] Não temos nenhum plano de tomar uma ação ofensiva contra a Venezuela", insistiu Jagdeo, que descartou cancelar "a atividade programada" com os britânicos.
Uma fonte do Ministério das Relações Exteriores da Guiana afirmou à AFP que o HMS Trent chega a costa nesta sexta-feira (29) e ficará em seu território por "menos de uma semana" para exercícios de defesa em mar aberto. Não está previsto que atraque em Georgetown.
Exercícios militares venezuelanos
A primeira fase dos exercícios militares venezuelanos contou com 5.682 combatentes, segundo a transmissão, que mostrou aviões de guerra patrulhando a área e o slogan no rádio de "papel de combate".
Participaram caças F-16 e Sukhoi russos, além de embarcações, navios-patrulha, lanchas armadas com mísseis e veículos anfíbios. Os exercícios foram mobilizados a partir do estado de Sucre (nordeste), perto de Trinidade e Tobago, em frente aos limites das águas disputadas com a Guiana.
O governo venezuelano pediu anteriormente à Guiana, em um comunicado, que "tome ações imediatas para retirar o navio HMS Trent e se abstenha de envolver potências militares na controvérsia territorial".
Apoio britânico
Em 18 de dezembro, o chefe da diplomacia do Reino Unido nas Américas, David Rutley, reafirmou o apoio do governo britânico à Guiana, em um encontro em Georgetown com o presidente guianense Irfaan Ali.
A Venezuela afirma que o Essequibo, uma região de 160.000 km² rica em recursos naturais, faz parte de seu território, como em 1777, quando era colônia da Espanha, e apela ao Acordo de Genebra, assinado em 1966, antes da independência da Guiana do Reino Unido, que estabelecia as bases para uma solução negociada e anulava um laudo de 1899, que Georgetown pede que a Corte Internacional de Justiça (CIJ) ratifique.
As tensões entre os dois países se intensificaram após a realização de um referendo sobre a soberania de Essequibo em 3 de dezembro na Venezuela, o que despertou o temor de um conflito armado entre os vizinhos.