Legislativo Judiciário Executivo

São quase três séculos de emancipação de Fortaleza. Contudo, os 298 anos de história da capital cearense não se revertem em participação direta da população na escolha de quem comanda a cidade. A disputa eleitoral pela Prefeitura de Fortaleza em 2024 será apenas a 16ª vez em que os fortalezenses escolhem, por voto direto, quem irá ocupar o cargo de prefeito. 

A campanha eleitoral que se avizinha deve ser uma das mais acirradas de Fortaleza desde a redemocratização. Os partidos ainda têm quatro meses até o prazo de confirmação das candidaturas — nas convenções partidárias. Contudo, as definições tendem a ocorrer bem antes disso. 

Esta reportagem integra o especial “Fortaleza: Que História é Essa?”. A proposta da série é apresentar lugares, pessoas e eventos históricos marcantes na existência de Fortaleza, mas que nem sempre são lembrados no cotidiano da cidade. 

Até o momento, seis pré-candidatos estão confirmados. Um deles é o atual prefeito de Fortaleza, José Sarto (PDT), que deve tentar a reeleição. Apesar das perdas de apoio desde a primeira eleição, em 2020, o gestor municipal continua sendo quem tem maior apoio na Câmara Municipal — fator relevante ao pensar na capilaridade da campanha eleitoral. 

Contra ele está o ex-deputado federal Capitão Wagner (União), que chega ao pleito de 2024 após experiências de candidaturas ao Executivo, tanto a Prefeitura de Fortaleza — em 2020, por exemplo, perdeu para Sarto por uma margem pequena de votos — como ao Governo do Ceará — quando, apesar de derrotado no estado, teve 41,5% dos votos na Capital.

O deputado federal André Fernandes (PL) também teve a pré-candidatura a prefeito de Fortaleza confirmada. Recordista de votos ao legislativo tanto em 2018 como em 2022, essa será a primeira disputa ao Executivo do parlamentar. Ele chega, no entanto, com a estrutura oferecida pelo PL, partido com maior parcela do Fundo Eleitoral e maior tempo de TV e rádio.

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Além deles, também estreia em disputas ao Executivo, o senador Eduardo Girão (Novo), um dos primeiros a lançar pré-candidatura ao Paço Municipal. Federados, Psol e Rede lançaram candidatos distintos: o produtor cultural Técio Nunes (Psol) e a ambientalista Cindy Carvalho (Rede).  

5 de agosto
É a data final para os partidos confirmarem as candidaturas

Ainda sem um nome confirmado, o PT também terá candidatura à Prefeitura de Fortaleza — em um momento em que o partido ocupa o Governo do Ceará e a presidência da República.

O pré-candidato deve ser escolhido em Encontro Municipal no próximo dia 21 de abril. O presidente da Assembleia Legislativa do Ceará, Evandro Leitão (PT), conseguiu maioria de delegados em votação no último dia 7 de abril, mas a deputada Luizianne Lins (PT) deve polarizar a disputa. 

PDT de olho na reeleição

Sigla que comanda a Prefeitura de Fortaleza desde 2015, o PDT tentará garantir mais quatro anos à frente do Município com o atual prefeito José Sarto (PDT) disputando a reeleição em outubro deste ano. Desde o fim do ano passado, o político intensificou a agenda de entregas de equipamentos públicos, assinatura de ordens de serviço e visitas a obras públicas.

Contudo, Sarto terá pela frente fortes grupos oposicionistas. Um deles é o PT, que tem um histórico de oposição ao grupo na Capital desde 2012, mas preservava a aliança a nível estadual. Com o rompimento entre as duas siglas também no Estado em 2022, petistas prometem entrar de cabeça na campanha para impedir a reeleição do político — contando com apoio do governador Elmano de Freitas (PT) e do presidente Lula (PT).

Entre suas armas na disputa, Sarto conta com uma ampla base de vereadores, que chega a 24 parlamentares. O pedetista conseguiu manter a maioria na Câmara de Fortaleza mesmo com baixas durante a gestão, como o PSD e o PSB, que agora integram a oposição. 

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Legenda: Sarto ao lado de aliados
Foto: Divulgação

Considerando a “frente ampla” que se formou em torno da candidatura dele no segundo turno das eleições de 2020, a perda de aliados foi ainda maior. À época, para derrotar Capitão Wagner, Sarto contou com apoio de mais 15 siglas, incluindo PT, UP e PL.

Agora, o político conta com siglas com menos expressividade na Câmara dos Deputados, o que significa um menor acréscimo no tempo de propaganda eleitoral gratuita no rádio e na televisão, além dos menores volumes de recursos financeiros de campanha.

No pleito deste ano, o PDT Fortaleza deve contar em seu arco de aliança com PSDB, Agir, Mobiliza, Cidadania, Avante, PMB, PRD, CD e PMN.

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Como principais fiadores da pré-candidatura, Sarto tem o ex-prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio (PDT), e o ex-ministro Ciro Gomes (PDT). A dupla também tenta reverter com a Prefeitura da Capital o último revés eleitoral, quando o ex-prefeito ficou em terceiro lugar na disputa pelo Governo do Ceará e o ex-ministro terminou em quarto na disputa pela Presidência da República em 2022.

Além deles, Sarto conta com apoio do ex-senador Tasso Jereissati (PSDB), que deve indicar novamente um tucano para candidato a vice-prefeito. Élcio Batista, atual ocupante da função, ainda não é um nome confirmado para disputar a reeleição.

PT aposta em alianças para retomar Prefeitura

Fortalecido nas eleições de 2022, com a vitória do presidente Lula e do governador Elmano de Freitas — ainda no primeiro turno —, o PT tentará retomar o comando da Prefeitura de Fortaleza após 12 anos. Desta vez, a legenda deve contar com o apoio de um amplo arco de aliança que inclui: PSB, PSD, MDB, PP, PCdoB, PV, Republicanos, Solidariedade e PRTB. Essas siglas também garantem acréscimos significativos no tempo de propaganda eleitoral.

A própria escolha do nome petista para liderar a chapa tem sido motivo de acirrada disputa interna entre a deputada federal Luizianne Lins (PT) e o presidente da Assembleia Legislativa do Ceará (Alece), Evandro Leitão (PT).

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Legenda: Luizianne e Evandro polarizam disputa no PT
Foto: 1. Kid Jr; 2-3. Thiago Gadlhea

A escolha entre eles será por meio de um encontro municipal, marcado para o próximo dia 21 de abril. Nessa eleição interna, irão votar 200 delegados que foram escolhidos por votação aberta a todos os filiados no último domingo (7). Já nessa etapa da disputa Evandro Leitão garantiu apoio da ampla maioria de delegados — cerca de 60% — e abriu vantagem na corrida rumo à candidatura.

A principal adversária interna do político é Luizianne Lins, que tem quase 30% dos delegados e tenta ampliar o apoio de correligionários ao seu nome para disputar mais uma vez o Executivo da Cidade. Evandro, por outro lado, tem aliados de peso, como o ministro Camilo Santana (PT) — seu principal fiador —, o líder do Governo Lula na Câmara dos Deputados, José Guimarães (PT), e o também deputado federal José Airton (PT).

O PT tem ainda outros três pré-candidatos: o presidente do diretório municipal, Guilherme Sampaio (PT); a deputada estadual Larissa Gaspar (PT); e o assessor especial do Governo do Ceará, Artur Bruno (PT). O trio, no entanto, não teve um desempenho expressivo na eleição dos delegados e podem apoiar Luizianne ou Evandro na reta final da escolha.

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Outro ponto de disputa na chapa petista é o espaço de vice-prefeito. Além do MDB, comandado pelo deputado federal Eunício Oliveira, que já demonstrou interesse em indicar um nome para a vaga, PSB e PSD têm se fortalecido para garantir o espaço na chapa petista.

O PSB passou por uma mudança de rumos no ano passado. A sigla deixou a base do prefeito José Sarto e alçou ao comando do partido o ex-deputado Eudoro Santana. O PSB também recebeu o grupo cidista — e o próprio senador — que deixou o PDT após o racha na sigla no pleito de 2022. Já o PSD se fortaleceu na janela partidária. A sigla agora conta com sete vereadores, sendo a segunda maior bancada da Casa, atrás apenas do PDT. 

Por outro lado, o PSD não descarta a possibilidade de lançar candidaturas próprias. O candidato seria o deputado federal Célio Studart.

A Direita em 2024

A fragmentação de candidaturas não é exclusividade da antiga aliança formada por PT e PDT. A oposição à direita também chega dividida para a eleição da Capital cearense em 2024. 

Indo para a terceira disputa eleitoral pela Prefeitura de Fortaleza, Capitão Wagner é uma liderança consolidada da oposição, tanto a nível municipal como estadual. Contudo, desde a ascensão do bolsonarismo como força política, essa será a primeira vez que ele irá enfrentar uma candidatura alinhada ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). 

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Apesar de, em 2020, o PSL — então partido de Bolsonaro — ter lançado a candidatura do ex-deputado federal Heitor Freire (União), Bolsonaro apoiou a candidatura de Capitão Wagner — o que foi seguido por outras lideranças aliadas ao então presidente da República. 

Desta vez, no entanto, o PL — atual partido de Bolsonaro — lançou a pré-candidatura do deputado André Fernandes. O evento para lançamento contou, inclusive, com a presença do ex-presidente e de outras lideranças bolsonaristas nacionais, como o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) e o senador Magno Malta (PL-ES). 

Por enquanto, a perspectiva é de que tanto as chapas encabeçadas tanto por Capitão Wagner como por André Fernandes sejam pura, já que até o momento nenhum dos dois pré-candidatos anunciou alianças com outras legendas.  

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Legenda: 1. Capitão Wagner; 2. André Fernandes; 3. Eduardo Girão
Foto: Divulgação

Com o fim da janela partidária, os dois partidos tiveram perdas no tamanho da bancada na Câmara Municipal de Fortaleza. 

O PL sofreu com uma baixa de quatro vereadores. Contudo, o cenário não é inesperado. Desde a saída do prefeito do Eusébio, Acilon Gonçalves (PL), do comando do PL Ceará, a divisão dentro do partido se acentuou. 

Vereadores de Fortaleza filiados ao PL antes da chegada de Bolsonaro ao partido, em 2021, permaneciam na base aliada a José Sarto, enquanto parlamentares bolsonaristas chegaram ao PL como oposicionistas à atual gestão. 

Com a janela partidária, Ana do Aracapé (Avante), Pedro Matos (Avante), Tia Francisca (PSD) e Bruno Mesquita (PSD) deixaram as fileiras do PL. Permaneceram Priscila Costa (PL) e Inspetor Alberto (PL), enquanto Julierme Sena (ex-União) passou a integrar os quadros da legenda.

Além de Sena, o União Brasil também perdeu o vereador Marcelo Lemos (Avante). Na janela partidária, o partido conseguiu atrair apenas um parlamentar: Márcio Martins (União) — que já tinha integrado, anteriormente, partidos comandados por Capitão Wagner. 

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Um terceiro nome da direita cearense deve concorrer com Wagner e Fernandes pelo eleitorado: o senador Eduardo Girão (Novo). Ele teve a pré-candidatura lançada pelo Novo ainda em novembro de 2023. Essa será a primeira vez que Girão concorre a um cargo no Executivo. 

Apesar de nenhum dos três dar indicativos de abrir mão da pré-candidatura, tanto eles como aliados — incluindo dirigentes partidários — admitem que conversas continuam acontecendo e não descartam uma união, pelo menos no 2º turno da disputa eleitoral. 

Disputa na Federação

Em outubro, será a primeira vez que federações partidárias irão participar de uma eleição municipal. Três federações devem participar do pleito em 2024: PT, PCdoB e PV; PSDB e Cidadania; e Rede e Psol. Contudo, ao contrário das demais, Rede e Psol devem passar por um processo de disputa interna a respeito da eleição para Prefeitura de Fortaleza. 

Os dois partidos, apesar de federados, lançaram pré-candidaturas separadas. O Psol escolheu o produtor cultural Ténio Nunes, que também é presidente do Psol Fortaleza, para concorrer. Por outro lado, a ambientalista e presidente da Rede Ceará é a pré-candidata a prefeita de Fortaleza da Rede. 

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Legenda: 1.Psol lançou Técio Nunes; 2. Já Rede lançou Cindy Carvalho
Foto: Divulgação

Segundo a legislação eleitoral, no entanto, partidos federados precisam apoiar a mesma pré-candidatura — seja pertencente à federação ou de outro partido. Neste caso, será necessário que os dois partidos escolham apenas um nome para concorrer ao Paço Municipal. 

O mesmo funciona, por exemplo, para a eleição para a Câmara Municipal: os dois partidos devem formar uma só chapa para concorrer às vagas para vereador. Atualmente, a Rede não possui nenhum parlamentar — Estrela Barros, única eleita pelo partido em 2020, foi para o PSD —, enquanto o Psol manteve a bancada de dois vereadores. 

Indagado pelo Diário do Nordeste, o presidente do Psol Ceará, Alexandre Uchoa, informou que "a regra da federação dá a condição de escolha ao partido com votação maior na última eleição a vereança". Neste caso, "o PSOL é o partido com o direito de escolha". "A homologação do nome será feita pela Federação PSOL/Rede de Fortaleza. O nome é o de Tecio Nunes", garantiu.

Por sua vez, Cindy Carvalho informou à reportagem que a Rede Sustentabilidade ainda deve dialogar com a direção do Psol. "Ainda não temos decisão", rebateu. "Eles são a maioria em Fortaleza. Porém, isso não define. O que define é o diálogo que precisa ser feito na federação REDE-PSOL, lá nós iremos escolher em conjunto a melhor escolha".