O que pode mudar na Petrobras com a indicação de Jean Paul Prates à presidência da companhia?
Economistas discutiram possíveis mudanças de estratégia da Estatal após confirmação de indicação do senador Jean Paul Prates (PT) na presidência da empresa
A indicação do senador Jean Paul Prates (PT) como próximo presidente da Petrobras sinaliza ao mercado muito mais do que uma mudança no principal posto da empresa. Segundo economistas ouvidos pela coluna, as estratégias, previsões de resultado e postura relacionada a retorno para investidores deverá mudar nos próximos meses.
Nesta quarta-feira (4), durante a cerimônia de posse de Geraldo Alckmin no Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic), Prates descartou intervenção na Petrobras e desvinculação do preço internacional.
“Não vai desvincular do preço internacional, vai desvincular da paridade de importação, sem impor tabelamento, sem absolutamente nenhuma intervenção direta no mercado, apenas usar a vantagem competitiva”, completou.
Após as falas de Prates, as ações ordinárias da Petrobras (com direito a voto) subiram 1,94%, e as preferenciais (com prioridade para o pagamento de dividendos) tiveram alta de 2,82% nesta quarta-feira. O índice Bovespa subiu 1,12%, chegando a 105.334 pontos.
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Possíveis mudanças
A primeira mudança será sobre o papel da estatal, segundo Fran Bezerra, economista e membro do Conselho Regional de Economia do Ceará (Corecon-CE). Ele destacou que a empresa deverá ter uma importância social maior durante o governo Lula ante os últimos 4 anos, sob a gestão do governo de Jair Bolsonaro.
O foco dos resultados ao mercado deve dar lugar, na avaliação de Bezerra, ao cuidado social para não deixar com que as flutuações do preço do petróleo interfiram tanto nas bombas dos postos de gasolina pelo País.
"A já anunciada nomeação do senador Jean Paul Prates para a Presidência da Petrobras deverá trazer consigo algumas mudanças na própria visão sobre o papel a ser desempenhado pela empresa junto à sociedade brasileira", disse.
"O Governo que se extinguiu a considerava apenas uma empresa de mercado, a qual teria o único compromisso de ampliar o patrimônio de seus acionistas. Com isso foi implantado o regime de preços baseado no PPI, ou seja, na paridade de preços internacionais, a privatização de unidades de refino e outros negócios e a política de pagamentos de dividendos máximos, claramente afetando o caixa e a capacidade de geração de recursos da empresa", completou.
Essa perspectiva, corroborada por Eldair Melo, economista e conselheiro Corecon, também deverá fazer com que a Estatal reveja a política do Preço de Paridade Internacional (PPI). Os economistas ainda projetaram que a Petrobras poderá criar um fundo de compensação para reduzir os impactos da oscilação do preço do barril de petróleo no mercado internacional.
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"Jean Paul Prates é um severo crítico da política de preços atual da Petrobras, o PPI, então com certeza ele vai mexer na forma de praticar o preço na estatal e deverá criar um fundo de estabilização para conter a variação dos combustíveis, que devem ser usados em momentos de exceção. E a empresa deve focar em investimentos públicos em energia e petróleo", disse Melo.
Investimentos em refino
A forma de encarar os investimentos também deverá ser alterada, segundo os economistas, com a empresa, provavelmente reforçando a atividade de refino no Brasil. Além disso, Jean Paul Prates poderá, também, ajustar a política de venda de ativos, reduzindo a quantidade de alienações da companhia.
"Ele também é crítico do projeto de alienação dos ativos da estatal, em especial das refinarias, então ele deve interromper esse processo de venda de ativos da Petrobras", disse Melo.
"E como ele também é mais voltado para o aumento do investimento público na Petrobras, ele também deve rever a estratégia da empresa no investimento no refino nacional, então essas são as principais possibilidades", completou.
Valerá a pena investir na Petrobras?
Com essas estratégias mudando, e com a perspectiva de que a empresa deverá focar mais no mercado de energias renováveis no futuro após Prates assumir a presidência, a Petrobras deverá dar um retorno maior aos investidores no longo prazo.
Segundo Fran Bezerra, além da disposição de ampliar o leque de atuação da empresa – apostando em um segmento mais focado no futuro –, o novo presidente da Petrobras deverá reduzir os ganhos a partir de pagamentos de dividendos para o limite mínimo de 25%.
Isso deverá reduzir os ganhos com os papéis da estatal na Bolsa de Valores no curto e médio prazo, devendo ficar no radar de investidores para possíveis ajustes na estratégia de montagem das carteiras.
"A política de dividendos deve ser revista, talvez caminhando para o pagamento mínimo, de 25% sobre o lucro líquido apurado. Do ponto de vista do investidor, o relevante a ser analisado é justamente a estratégia de longo prazo da companhia, em termos de suas políticas de preço e de investimentos", disse Fran Bezerra.
"Observe-se que as mudanças aventadas claramente sinalizam uma recuperação da capacidade de investir da empresa, o que significa ganhos menores para os investidores no curto e médio prazos, porém ganhos bem mais expressivos no futuro.
"Mais ainda se a Petrobras passar a ser vista não apenas como uma empresa produtora de petróleo, e sim de energia, passando a competir globalmente no amplo mercado de energia limpa e sustentável que ora se descortina, sendo o único player de capital nacional capaz de concorrer em condições de igualdade", completou.