Os consumidores cearenses iniciaram 2023 pagando o maior valor do Brasil pelo litro da gasolina. Em média, segundo dados da ANP (Agência Nacional do Petróleo), o valor cobrado pelos postos no Estado é de R$ 5,49, o que representa 53 centavos a mais que a média nacional.
Nas últimas semanas, mesmo sem repasse de aumentos por parte da Petrobras — pelo contrário, a última atualização oficial da companhia foi de redução de 6,1% no preço, no início de dezembro —, os revendedores elevaram a cotação em 60 centavos (chegando a R$ 1 em alguns casos), o que acabou por descolar o Ceará da realidade nacional.
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Para se ter dimensão, o litro no Ceará é quase 90 centavos mais caro do que o registrado no Amazonas, estado com o preço mais baixo do País. Até mesmo em relação ao segundo lugar do ranking da carestia, o Distrito Federal, a diferença é de 17 centavos.
Cria-se aqui um desequilíbrio preocupante tanto para os motoristas, que veem o custo de vida subir; como para a economia cearense, cujas empresas de diversos setores perdem competitividade.
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Mas qual é a explicação para esse sobressalto nos preços? Para o economista Ricardo Coimbra, um conjunto de motivos ajuda a elucidar a questão.
"Uma parte disso pode estar relacionada com o volume maior do que vem de importação de outras distribuidoras que não da própria Petrobras. A gente sabe que hoje a Petrobras não é a única fornecedora de gasolina no mercado nacional. Talvez a composição do que está vindo para o Ceará seja mais das outras distribuidoras independentes", pontua o especialista.
Estima-se que a Petrobras esteja atuando com uma defasagem de 11% no preço da gasolina, enquanto outras empresas já estão repassando esse custo para os postos.
"Talvez os postos já estejam trabalhando com essa possibilidade de margem, uma antecipação desse novo preço, com uma especulação do mercado varejista final", avalia Coimbra.
Ele lista ainda a volatilidade do mercado de combustíveis global e as recentes variações do câmbio como fatores para os aumentos.
Já Bruno Iughetti, consultor na área de Petróleo e Gás, acredita que a disparada no Ceará deveu-se à antecipação dos efeitos gerados pela expectativa do término da desoneração dos tributos federais incidentes sobre os combustíveis.
No entanto, o novo Governo Federal decidiu pela prorrogação do imposto zero até o fim de fevereiro.
"Felizmente, a desoneração acabou não acontecendo e os preços começam a ser praticados num patamar anterior a onda altista ocorrida", prevê Iughetti.
Nesta quarta-feira (4), o presidente do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), Alexandre Macedo, determinou a abertura de inquérito para investigar o aumento nos preços de combustíveis em postos pelo Brasil.
Será apurado se o aumento generalizado se enquadraria como "infração concorrencial da classe colusiva, ou seja, assemelhada a cartel e, portanto, possuindo os mesmos efeitos danosos à concorrência".