Corridas de rua devem movimentar R$ 6 milhões no Ceará neste ano; mercado ainda se recupera

Previsão financeira faz parte de um levantamento da Federação Cearense de Atletismo, que projeta mais de 110 mil atletas apenas em Fortaleza

Legenda: Movimentação financeira passa por ampla cadeia produtiva do setor, que vai desde acompanhamento médico à compra de equipamentos
Foto: Shutterstock

Tendo passado por alguns bloqueios durante o período da pandemia, o mercado de corridas de ruas começou a dar sinais claros de recuperação e deverá movimentar mais de R$ 6 milhões em 2022.

A estimativa é da Federação Cearense de Atletismo (FCAt), que prevê 35 eventos oficiais impulsionando toda a cadeia produtiva do setor, desde empregos diretos e indiretos até a comercialização de produtos e venda de serviços. 

A previsão financeira, que supera estimativas de anos anteriores ao período pandêmico, está baseada no crescimento do número de praticantes, segundo o presidente da FCAt, e por uma maior dedicação dos atletas com preocupações com a própria saúde, potencializadas pelo cenário da covid-19.

Jerry Welton Gadelha destacou que, atualmente, existem mais de 110 mil corredores apenas em Fortaleza, e esse público tem constantemente buscado melhorar o próprio desempenho. 

Os cuidados fazem com que mais recursos sejam destinados a equipamentos específicos, acompanhamento nutricional, assessorias esportivas e cuidados médicos, movimento volumes financeiros maiores. 

"Com certeza, as corridas de ruas são um fenômeno, e foram abraçadas pelo cearense e pelo brasileiro. O setor vinha crescendo até 2020, mas tivemos dois anos de pandemia, e 2022 ainda vemos sequelas com todas as cadeias produtivas se recuperando. A tendência é voltar a crescer o número de eventos, mas com uma situação nova porque as pessoas já vinham com uma mudança de comportamento de fazer mais atividade física e se olhar mais para saúde. Então as corridas devem crescer exponencialmente a partir de agora", disse Gadelha.

A perspectiva foi corroborada por Fernando Elpídio, diretor da Nova Letra Eventos Criativos e idealizador de eventos de corrida, que reforçou o cenário de recuperação desse mercado, prevendo um crescimento de mais de 100% no número de eventos oficiais em 2023. 

"Certamente que há um potencial. Não teremos mais provas esse ano por falta de patrocínio, já que os custos estão mais altos e as empresas estão deixando para o ano que vem, mas devemos voltar ao patamar de 2020 no próximo ano, colocando Fortaleza como a Capital com a maior número de provas. Com o potencial turístico, como a orla possibilita, teremos provas locais e nacionais, podemos passar de 70 eventos oficiais em 2023", comentou. 

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Custos e exigências de mercado 

Para se ter uma ideia da movimentação financeira gerada pelas corridas de rua, Elpídio diz que os eventos contam com pelo menos 300 empregos gerados no dia da prova, diretos e indiretos, além das 120 pessoas trabalhando no processo de organização. 

A rede de profissionais serve para garantir as demandas dos corredores sobre os eventos esportivos, gerando uma movimentação constante da cadeia produtiva. Elpídio destacou que os atletas sempre buscam bons kits, medalhas, suporte de hidratação durante a corrida, algum tipo de alimentação, além de uma boa estrutura de organização e planejamento de prova. 

As exigências acabam gerando demanda no mercado e ajuda a movimentar o fluxo financeiro do segmento.  

"O principal hoje que o atleta busca é atendimento. Passamos muito tempo com medo, então as provas com atendimento mais humanizado tem dado bons resultados, e responder em um tempo mais ágil é grande diferencial porque temos 3 pontos de contato com o cliente, inscrição, entrega de kits e a prova, e todos esses pontos contam e pesam para atrair os corredores", comentou. 

Segundo os cálculos do diretor da Nova Letra, as organizadoras chegam a movimentar R$ 150 por cada atleta envolvido em uma prova. E um evento com mais de 4 mil atletas precisaria de investimento mínimo, de acordo com Fernando, de R$ 550 mil. 

Legenda: Fortaleza conta com mais de 110 mil corredores segundo a FCAt
Foto: Thiago Gadelha

Atualização de modelos

Mas com diversas incertezas no cenário econômico nacional, muitos insumos ficaram mais caros nos últimos anos, tendo gerado impactos tanto para as organizadoras quanto para os corredores, que perderam parte do poder de compra por conta da pressão inflacionária. Para tentar contornar as possíveis dificuldades financeiras, o setor tem atualizado modelo de vendas, organizando inscrições em lotes ou adotando descontos para grupos de atletas.

Alguns desses modelos já foram adotados na 21k Terra da Luz, próxima corrida realizada pela Nova Letra. O evento acontecerá no dia 18 de setembro e tem a expectativa de receber pelo menos 4 mil atletas. 

"Financeiramente, como houve um aumento dos materiais, os valores aumentaram, então estamos buscando formas diferentes de pagamento. Inscrições em grupo, juntando 10 ou 20 pessoas pode dar desconto, usamos o formato de lotes, então tínhamos uma média de R$ 90 a R$ 100  por inscrição, mas tivemos de baixar esse valor para atender um número maior de pessoas e tentar ganhar no volume. E tem dado certo", comentou Elpídio.

"O público ficou mais exigente e sempre fazíamos no mesmo formato, mas as provas que procuraram um conceito diferente, se agregando à cidade, acabam atraindo mais e estão apresentando resultados financeiros melhores também", completou. 

Potencial turístico

E é esse potencial turístico que pode impulsionar o mercado de corridas de rua ainda mais nos próximos anos, segundo o presidente da Federação Cearense de Atletismo. Jerry Welton projetou até mesmo a atração de um evento internacional para o Ceará caso o mercado continue dando sinais de recuperação. 

"Esse é um mercado complexo e depende de atração. A Volta da Pampulha e a São Silvestre têm apelo nacional e internacional porque existe todo um processo de qualificação do evento. Fortaleza vem se desenvolvendo há mais 20 anos e a cidade tem um potencial turístico muito grande. Fomos uma capital de trânsito, com turistas desembarcando aqui e indo para outros pontos turísticos, mas Fortaleza tem um potencial, mas os eventos de negócios e as corridas de ruas podem criar uma demanda para as pessoas ficarem aqui", explicou.

Contudo, o mercado local ainda precisaria atrair um grande player antes contar com um evento internacional organizado em Fortaleza. Além disso, seria preciso melhorar a infraestrutura da cidade relacionada aos eventos esportivos. 

"Primeiro, para ter um evento internacional, precisaríamos de um organizador com recursos para o plano de marketing, de fazer um plano maior e ligar o evento a uma coisa a mais, como na maratona da Disney, em quem aviões lotados saem de Fortaleza. O que agrega valor ao evento? A pessoa pensa em vir para Fortaleza apenas para correr o evento internacional de Fortaleza? Acredito que hoje não", disse Welton.