Sou de uma geração que cresceu com a presença de um homem de riso fácil e cabelo acaju na casa dos avós. Todo domingo ele estava lá, girando o baú da felicidade, cantando as pedras da Tele Sena, formando novos casais. Comunicador nato, Silvio Santos era rei nos domingos em família, divertindo a si e a um país inteiro com irreverência.
Como não lembrar do sofá e da logomarca de coração do programa “Em nome do Amor”? Das entrevistas e trajetórias de famosos, mas também dos casais desconhecidos que dançavam no palco tentando entender se havia margem para o romance.
Se você era criança nos anos 1990, certamente vai saber cantarolar: “Quando a solidão aperta, sempre é tempo de recomeçar. Sempre existe o perdão e uma nova razão para sonhar. O que você precisa é amor. Tudo é lindo em nome do amor”.
No programa Topa Tudo por Dinheiro, tentávamos adivinhar o desfecho de cenas que ele mostrava, jogávamos, apostávamos junto com a plateia e torcíamos para que levassem o dinheiro do apresentador. Silvio Santos segurava um domingo inteiro na televisão, com seu tradicional microfone acomodado na gravata. Nós e nossos avós sempre atentos.
Sou de uma geração que acompanhava o rei da televisão aos domingos, mas também que cresceu vendo os amigos imitarem Sílvio, o personagem ímpar da televisão. “Ma ôi, vem você pra cá”, dizia o homem que ocupou cenários e uma emissora de televisão, o SBT.
Silvio Santos fazia todos sorrir: crianças, adultos e idosos. Quando veio a internet, trechos de seus programas, muitos um tanto politicamente incorretos, logo viraram memes. Quem não lembra da criança fã do Raça Negra? Quem não tem uma memória inesquecível enquanto o assistia na TV, com seus bordões e voz icônicos?
Silvio pode até ter ido ficando um pouco antiquado para os novos tempos, mas sua trajetória se confunde com boa parte de nossa vida aos domingos. Vê-lo partir, aos 93 anos, traz tristeza e nostalgia.
Para além da perda de um grande comunicador e de uma verdadeira lenda para o país, é também uma perda pessoal: como se parte do mundo com nossos avós também estivesse indo embora. Obrigada por tudo, Silvio Santos.
*Este texto reflete, exclusivamente, a opinião da autora