Você certamente já se deparou com alguma oferta de apostas online. É quase impossível rolar o feed nas redes sociais e não se deparar com algo sobre jogos como o de um certo tigrinho sorridente, que te incentiva a apostar cada vez mais. Nos vídeos curtos das redes, influencers dos mais diversos nichos publicam links com um jargão próprio: “liberei a plata de cinco”, “corram para a plata de um”. Tudo é vendido como uma grande chance para ganhar dinheiro rápido e fácil. E quem não quer algo assim? São caminhos para apostar valores relativamente baixos, mas que, quando se perde o controle, têm causado transtornos e prejudicado as vidas de muita gente no país.
⚠️ Atenção! O texto a seguir pode conter gatilhos emocionais. Pessoas com problemas de dependência ou vício em jogos podem recorrer a atendimento psicológico e psiquiátrico. Se, aliado a isso, você tem pensamentos suicidas, busque ajuda. O Centro de Valorização da Vida (CVV), por exemplo, oferece apoio através de chat na internet ou pelo telefone 188.
Difícil não conhecer alguém que perdeu 100, 200, 300 reais nestes jogos. Há casos bem mais graves, de gente que perdeu o controle e fez dívidas para seguir jogando. Milhares de reais jogados fora. Nesta semana, vi o caso de uma mãe que precisou mudar de cidade para fugir de agiota. Uma mulher confidenciou ter perdido todo o salário do mês do marido e não sabia como contar para ele. Quem não lembra da jovem que furtou mais de 170 mil reais do avô para apostar? Até influencers mirins estão divulgando esses jogos para o público infantil. O vício em jogos assim tem virado um problema de saúde pública no Brasil.
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No nosso país, as incertezas que pairam em torno da legalidade de caça níquel online estão prestes a começar a serem dissipadas, ainda que por meio de uma portaria do Governo, que, diferente de uma lei de fato, pode ser derrubada com certa facilidade. A ideia é regulamentar os jogos, permitindo-os, mas também estabelecendo algumas regras sobre eles.
Como? Plataformas teriam que ser hospedadas no Brasil e teriam de provar que são justas. A publicidade sobre os jogos também precisaria trazer a indicação explícita de que o jogo é restrito a maiores de 18 anos. Influencers e famosos que fizerem parte de anúncios dos jogos também teriam responsabilidade judicial.
Além disso, ficaria proibida a indicação destas plataformas de apostas como forma de renda extra, sendo tratada apenas como entretenimento. O Governo também precisaria fazer campanhas educativas e elaborar ações de prevenção em saúde. Outra medida prevista é colocar nas plataformas travas para apostadores compulsivos. Caso de fato essa portaria saia neste mês, como está previsto, as novas regras passam a ser aplicadas a partir do ano que vem.
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É preciso muita responsabilidade para tratar a questão do vício em apostas online, que se espalha com velocidade entre os mais diversos círculos de amigos. Para se ter uma ideia, os brasileiros gastaram mais de R$ 50 bilhões em sites de apostas no ano passado. Muitos se endividam e têm sua saúde mental seriamente abalada.
Nesta semana, em um grupo do whatsapp, uma amiga pediu ajuda para alertar uma conhecida, que já havia perdido algumas centenas de reais no tal jogo do tigrinho. Comentando com outra pessoa sobre o caso, ela confidenciou que também jogava e que já tinha perdido as contas de quanto havia perdido. O filho, um adolescente de 15 anos, se juntava com os amigos para apostar.
Em geral, eles são motivados por influenciadores, que postam ganhando centenas de reais ao vivo. Mas a polícia de Alagoas apontou, numa investigação, que influencers podem ter acesso a uma conta demo e, daí, terem facilidade de ganhar no jogo, uma realidade que pode ser bem diferente da dos apostadores reais.
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Depois de perder a irmã para o vício, a ativista Jessica Lobo abriu um perfil nas redes sociais para mostrar “a outra face do Tigrinho”. Ela atua fortemente para alertar os jogadores sobre o alto risco dessas apostas em caso de vício. Hoje, há grupos de apoio online para ajudar quem perdeu ou está perdendo o controle. Os relatos são fortes e graves.
Por isso, caro leitor, cuidado com a tentação do tigrinho e seus similares. Eles certamente continuarão chegando até você por SMS, pelo feed da rede social ou no storie de um influencer que você curte. Baixe um aplicativo de bloqueio, encontre amparo num grupo de apoio, busque ajuda. É questão de saúde pública, mas é também a sua vida e a dos seus.