Covid e Pesca da Lagosta: nem tudo que reluz é ouro

Escrito por Túlio Muniz , tuliomuniz@ufc.br

Legenda: Túlio Muniz é professor universitário
Foto: Arquivo pessoal

O Governo do Ceará tem combatido com responsabilidade a Covid-19. Contudo, 2021 será outro sem proteção de trabalhadores na pesca da lagosta, que começa em 1º de Junho e vai até 1º de Dezembro, e envolve, no País, cerca de 15 mil pessoas. 

O resultado varia de U$ 75 a U$ 90 milhões anuais em exportação, proporcionando um rendimento significativo, daí a alcunha de ‘o ouro do mar’ que os pescadores deram a lagosta. O Ceará é maior produtor e exportador nacional. 

Em 2019, antes da pandemia, as exportações de pescado em geral renderam mais de U$ 47 milhões, e 60% desse valor veio da lagosta. Aqui está o maior número de pescadores artesanais, que somavam, em 2020, mais de 8.300 cadastrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). 

Atividade gregária, a pesca da lagosta reúne um número expressivo de trabalhadores em uma mesma embarcação durante dias ou horas seguidos. Gera também aglomeração nos momentos de embarque e desembarque, e, não raro, nas chegadas nas praias, quando a captura é expressiva e muitas pessoas se reunem para comprar lagosta fresca. 

O cenário é ideal para propagação do coronavírus, e os municípios da faixa litôranea cearense aparecem como lugares de alto risco nos mapas de acompanhamento da pandemia. Muito por se tratarem de localidades desprovidas de atendimento médico adequado, o que se agrava no contexto da pandemia.

Aliás, este é um cenário comum naa costa basileira, conforme registra o Observatório dos Impactos do Coronavirus nas Comunidades Pesqueiras implantado em Março de 2020 na Universidade Federal do Paraná.

A pandemia é, portanto, uma ameaça a quem trabalha diretamente na pesca e também aos seus familiares, vizinhos, e aos turistas que frequentam o litoral cearense e mantêm contato estreito com moradores das comunidades (lembrando que turistas também podem ser transmissores do coronavírus). 

Seria interessante, neste retorno à pesca , que as autoridades adotassem estratégias de imunização dos pescadores e pescadoras. Não só para assegurar a manutenção da produção mas, sobretudo, para garantir a segurança e a vida dessas pessoas. 

Túlio Muniz 
Professor da Faced/UFC 

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