Migrar para a Concacaf é possível para Palmeiras, Fortaleza e demais clubes brasileiros?
Leila Pereira propõe como forma de protestar à forma da Conmebol agir em casos de racismo

Com o objetivo de lutar por medidas mais firmes contra os frequentes e inúmeros casos de racismo registrados em competições da Conmebol, a presidente do Palmeiras, Leila Pereira, propôs a sugestão que os clubes brasileiros - como o Fortaleza, que vai disputar a Libertadores pela terceira vez em sua história neste ano - abandonassem a confederação sul-americana e buscassem abrigo na Concacaf, órgão que administra o futebol na América do Norte, América Central e Caribe. Inicialmente, a ideia foi uma forma de protestar, além de ressaltar a indignação por parte da dirigente. Caso a proposta fosse levada adiante, a empresária estaria de acordo com as possibilidades. Entretanto, há elementos que tornam a transição pouco provável.
Para um clube se filiar a uma confederação continental fora de sua localização geográfica é necessário que sua federação nacional - a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) - inicie o processo. Sendo assim, a CBF teria que se desfiliar da Conmebol e pedir para se tornar membro da Concacaf, o que passaria a ser requisito de aprovação da FIFA. Como efeito desse movimento, a Seleção Brasileira, nesse cenário, competiria nas Eliminatórias da Copa do Mundo da Concacaf, que possui um nível muito inferior às Eliminatórias da América do Sul.
"A Fifa pode, em circunstâncias excepcionais, autorizar uma confederação a conceder filiação a uma associação que pertença geograficamente a outro continente e não seja filiada à confederação naquele continente. A opinião da confederação geograficamente envolvida deve ser obtida", diz o estatuto da entidade e órgão máximo do futebol.
Cada caso é avaliado individualmente, junto de suas particularidades, como ocorreu nos casos da Austrália e de Israel, por exemplo. As duas nações competem fora de seus continentes, tanto no âmbito de seleções quanto no de clubes, por motivos distintos.
Os australianos trocaram a Confederação de Futebol da Oceania (OFC) pela Confederação Asiática de Futebol (AFC) por questões de competitividade, já que a seleção do país sempre se sobressaia nas Eliminatórias da Copa do Mundo, a exemplo da goleada por 31 a 0 sobre a Samoa Americana no de 2001, registrando a maior vitória da história das Qualificações globais . A troca de confederação do país se deu em 2005.
Já o caso de Israel, que disputa as Eliminatórias Europeias e tem seus clubes na Liga dos Campeões e Liga Europa, por causa dos conflitos que nutre no Oriente Médio, especialmente com a Palestina.
COMO A CBF TROCARIA DE CONFEDERAÇÃO?
Para clubes brasileiros se associarem à Concacaf, a CBF teria, primeiro, de pedir para deixar a Conmebol. De acordo com o estatuto da entidade sul-americana, a desfiliação de forma voluntária é permitida desde que a federação solicitante comunique a decisão seis meses antes do fim do calendário anual de competições. Além disso, também é exigido o cumprimento de "obrigações pendentes com a Conmebol ou outras associações membros" e a "ratificação da decisão perante o Congresso".
O estatuto da Concacaf, por sua vez, permite a filiação de federações fora de seu alcance geográfico, mas ressalta a soberania da Fifa em tomadas de decisão como essa. "Uma associação que esteja fora da região geográfica da Concacaf pode ser admitida como membro desde que não seja membro de nenhuma outra confederação. No entanto, tal admissão de membro à Concacaf deve estar de acordo com os estatutos da Fifa," diz o texto da organização.
Para solicitar a filiação junto à Concacaf, é preciso fazer uma solicitação por escrito à Secretaria Geral da entidade, acompanhada de uma série de documentos. Então, o Conselho da Concacaf pode emitir uma opinião ao Congresso, sobre a admissão ou não do pedido, antes da decisão final.
Leila Pereira falou em filiação à Concacaf, mas, se a ideia for reduzida a não disputar a Libertadores e jogar a Copa dos Campeões da Concacaf, tudo dependeria de um convite. Foi desse modo que times mexicanos fizeram o caminho inverso vindo para a América do Sul e de 1998 a 2016 disputando a Libertadores. A Federação Mexicana de Futebol (FMF), apesar da participação das suas equipes no torneio, nunca se filiou à Conmebol e a seleção do México continuou disputando as eliminatórias conjuntas de Caribe e Américas do Norte e Central.
Ainda assim, mesmo com o convite, a mudança também depende de aprovação da Fifa. Em movimento recente, no final de 2023, a FMF solicitou à Fifa que seus times voltassem a disputar a Libertadores, mas o pedido foi recusado.
"Sobre a Libertadores, temos um pedido do México para disputá-la. Falamos com a Fifa e devolvemos um documento à FMF que foi negado. Não foi autorizado porque temos a competição oficial, a nossa, que é o caminho para o Mundial de Clubes", disse Victor Montagliani, presidente da Concacaf, na ocasião.