Felipe Massa deve acionar judicialmente a Fórmula 1 e a Federação Internacional de Automobilismo (FIA) para assegurar o título do Mundial de 2008, quando foi vice-campeão com apenas um ponto a menos de diferença.
O posicionamento ocorre após as declarações de Bernie Ecclestone, ex-chefe da Fórmula 1, que confirmou ter conhecimento sobre a manipulação de resultados no GP de Cingapura, realizado naquele ano. Assim, o piloto brasileiro poderia ter ficado com o título no lugar de Lewis Hamilton.
"Isso é algo muito grave. Uma corrida foi roubada e nada foi feito. Só quero Justiça. O maior prejudicado fui eu. A gente sabe o que um título representa para o País", disse Massa a rede de TV CNN.
"Eu não tenho interesse financeiro nisso. Vou processar a FIA para ganhar dinheiro em cima, mas sem mudar o resultado? Isso não me interessa. O que me interessa apenas é a justiça correta dessa situação", declarou o piloto ao site Motorsport.com.br.
O brasileiro não acredita que possa dividir o título com o piloto inglês. "Não sei se é possível dividir um título. Se foi comprovado que aquela corrida foi roubada, ela tem que ser cancelada, essa é a justiça. É muito difícil dizer 'ah, tadinho' Não existe 'tadinho' no mundo, a situação é clara. Nós já vimos outras situações acontecendo no esporte, como (o ciclista) Lance Armstrong, que foi provado que ele estava dopado, ele perdeu todos os títulos. Qual é a diferença? (...) No final, quem mais saiu perdendo com esse resultado fui eu. Estamos indo atrás para entender tudo isso", concluiu Massa.
ENTENDA O CASO
O chamado "Cingapuragate", um dos casos mais rumorosos da história da F-1, aconteceu em setembro de 2008, na 15ª de 18 etapas daquela temporada. Na ocasião, Massa disputava o título com Hamilton. Foi o pole position da corrida e liderava a prova quando Nelsinho Piquet sofreu uma batida, o que mudou os rumos da disputa. Fernando Alonso, da mesma equipe Renault de Nelsinho, acabou ficando com a vitória naquele GP.
Um ano depois, Nelson Piquet veio a público para denunciar que seu filho batera de propósito por ordem de Flavio Briatore, então chefe da Renault, para beneficiar o companheiro de equipe, Alonso. O caso foi investigado pela FIA, que puniu os envolvidos Briatore foi banido da F-1, embora a decisão já tenha sido revogada, e o engenheiro Pat Symonds, outro responsável pela ordem para a batida, foi suspenso por cinco anos - atualmente é o diretor técnico da F-1.
A polêmica foi revivida no início de março, quando Ecclestone concedeu entrevista ao site F1-Insider na qual admitia que ele e o então presidente da FIA, Max Mosley, estavam cientes da armação ainda em 2008, após o episódio, antes mesmo da denúncia de Nelson Piquet, feita apenas no ano seguinte.
"Tivemos informações suficientes a tempo de investigar o assunto. De acordo com os regulamentos (da época), deveríamos ter cancelado a corrida em Cingapura naquelas condições", declarou.
"Decidimos não fazer nada. Queríamos proteger o esporte e evitar um grande escândalo. Por isso me esforcei para convencer meu ex-piloto Nelson Piquet a manter a calma", disse Ecclestone, em referência ao período em que era chefe de Piquet na já extinta equipe Brabham.
O então chefe da F-1 admitiu que poderia ter anulado o GP por causa da manipulação da Renault. "Naquela época, havia uma regra de que uma classificação ao Mundial após a cerimônia de premiação da FIA no final do ano era intocável. Então Hamilton foi presenteado com o troféu e estava tudo bem."
Se a prova tivesse sido anulada, Massa poderia ter se sagrado campeão mundial, uma vez que Hamilton terminou em 3º, enquanto o brasileiro foi apenas o 13º, sem somar pontos, após enfrentar um problema nos boxes - o pit stop havia sido motivado justamente pela entrada do safety car na pista após o acidente protagonizado por Nelsinho Piquet.
"Felipe Massa se tornaria campeão mundial, e não Lewis Hamilton. Hoje me solidarizo com Massa, sinto muito por ele. Afinal, ele ganhou a corrida em casa, em São Paulo, mas foi enganado e não levou o título que merecia. Hoje eu teria feito as coisas de outra forma", reconheceu Ecclestone. O título de 2008 foi decidido por apenas um ponto de diferença.