Guto Ferreira fala sobre permanência no Ceará e sonhos para 2021; veja entrevista

Técnico alvinegro conversou sobre seu trabalho no clube, expectativas para a reta final do Brasileirão e também sua vida pessoal

Legenda: "Eu prefiro trabalhar surpreendendo sempre, pensando grande, mas surpreendendo", contou Guto
Foto: Felipe Santos/CearaSC

Guto Ferreira vive um dos melhores momentos de sua carreira como técnico à frente do Ceará nesta temporada. O comandante alvinegro conquistou a Copa do Nordeste em 2020 de forma invicta, foi vice-campeão do Campeonato Cearense e ocupa a 10ª posição no Brasileirão, brigando por vaga na pré-Libertadores.

O Vovô faz sua melhor campanha na era de pontos corridos da elite nacional e se firmou com atuações seguras nos últimos jogos. Guto é responsável direto pelo ótimo desempenho e conversou com os repórteres Beatriz Carvalho e Lucas Catrib em entrevista exclusiva ao Sistema Verdes Mares, sobre seu trabalho no clube, projeções para a reta final do Brasileiro e os sonhos para a próxima temporada.

Confira a entrevista completa com Guto Ferreira

O futebol é meio ingrato, em alguns momentos vai do céu ao inferno rapidamente. Você não jogou profissionalmente, mas convive com isso há bastante tempo na função de técnico. O carinho da torcida do Ceará é muito grande com você. Como você lida com isso?

"É sempre muito bom receber o carinho e a gente tenta retribuir dando atenção às pessoas. Dificilmente trabalhamos na nossa terra, então somos sempre alguém de fora. A primeira coisa é absorver a cultura da melhor maneira possível e tentar valorizar a cultura do local. O Ceará é maravilhoso, sempre gostei de vir a Fortaleza, gosto da coisa do humor cearense. Vinha muito para shows de humor locais, adoro isso, é uma terapia. No mais é tratar da melhor maneira possível, mais tranquila. Lógico que quando estamos em uma situação que os resultados não estão acontecendo, evitar o contato para evitar algum tipo de situação, do torcedor ter o espaço para se manifestar e a gente receber um tratamento momentâneo. Quase sempre, mesmo nas fases difíceis, recebemos carinho, quando extrapola é porque alguma coisa está reprimindo o torcedor e ele acaba chegando nesse limite. Então de maneira natural, nem tanto o céu e nem tanto o inferno, tentar sempre o meio do caminho, pisando firme, sem empolgação, recebendo e tentando dar algo em troca do carinho que a gente recebe".

Primeiro objetivo do Ceará, que é a permanência, já está bem encaminhado, chegar no número mágico dos 45 pontos. Qual o próximo passo agora? Pré Libertadores ou Sul-americana, qual seria a sua e porquê?

"Primeiro, não estamos solidificados a manutenção. Então se eu quero estar sempre com os pés nos chão, temos que conquistar primeiro a manutenção. A medida que se consiga isso, ampliar a pontuação até um ponto que garanta matematicamente a classificação para a Sul-Americana. Conseguimos isso? Ainda tem jogos? É possível? Vamos trabalhar para conseguir mais".

Você entrega bons resultados em trabalhos nos últimos anos e esse ano está sendo ainda mais regular na Série A. É um diferencial na sua carreira essa campanha?

"A gente fica feliz que tem conseguido realizar bons trabalhos. Eu tenho uma equipe que me acompanha há 10 anos, o Valdir Júnior, preparador físico do mais alto nível, o André Luiz e o Alexandre, que são os auxiliares, eles me ajudam demais e a gente debate muito para fazer o melhor. E a gente tem conseguido. Cada um tem uma missão dentro da estrutura para que o trabalho ande da melhor maneira possível. A gente tem a felicidade de chegar nos clubes e ter profissionais do mais alto nível. O Ceará é fantástico, o staff tem profissionais muito qualificados, muito casados com a ideia do presidente, do clube, de buscar os melhores resultados possíveis e capacidade para isso. Estamos bem à vontade no clube, trabalhando ao lado de grandes profissionais e isso com certeza reflete no dia a dia. Essa campanha é bastante expressiva, porque foi o ano todo, desde junho, todas as competições que fomos bem. Não fomos mal em nenhuma, talvez no status podemos ter ido pior no Campeonato Cearense, mas chegamos na final. Vice-campeão é o pior? É pior por causa do nível do Ceará em relação ao nível da competição que está jogando. Na Copa do Brasil paramos nas quartas de final, mas ultrapassando grandes equipes, fomos campeões da Copa do Nordeste e estamos na primeira página do Campeonato Brasileiro. São resultados bastante expressivos, também oriundo da mentalidade do grupo, que desde o primeiro momento mostrou interesse e intenção de fazer história e estão conseguindo honrar esse pacto".

Legenda: "Gosto de trabalhar onde me sinto feliz e aqui me sinto feliz", disse Guto
Foto: Thiago Gadelha

Ao longo desses meses de trabalho, você teve o grande mérito de encontrar soluções para a equipe. Acabou dando oportunidade para alguns jogadores que pediam passagem. Léo Chu ganhou espaço. O próprio Richard virou titular. Mérito do técnico entender que tem oportunidade?

"Isso faz parte do nosso trabalho. Desde o primeiro momento coloquei para vocês que o objetivo, para se ter uma gestão sadia, é fazer com que todos se sintam importantes dentro do processo. Se sentir importante é eles fazerem o melhor deles e a medida que eles fazem o melhor, cabe a gente ter o discernimento de escolher quem se encaixa melhor na mecânica de jogo da equipe. Isso não quer dizer que tem jogadores inferiores, mas para aquela estratégia eles estão muito bem. O banco tem resolvido muitos jogos para nós. Isso mostra que o trabalho não se limita aos 11, mas ao plantel do Ceará. Às vezes é normal não conseguir soluções, até porque os adversários também nos estudam, tem sua qualidade, o futebol tem muitas vertentes que influenciam diretamente no jogo e às vezes você está frágil e isso reflete no resultado final. O mais importante é que temos conseguido mais acertar, do que errar. Isso porque os jogadores estão extremamente comprometidos".

Robinson já disse publicamente que tem interesse na sua permanência. Qual a sua postura? Qual a diferença do Ceará para os outros clubes?

"Aqui tenho o ambiente e a demonstração de uma tranquilidade, até nos momentos em que os resultados não estavam fluindo, tivemos por parte da direção a tranquilidade para superar essa barreira. Gosto de trabalhar onde me sinto feliz e aqui me sinto feliz. Interesse nós temos, o Ceará corre na frente sim, por tudo. Vamos aguardar, porque tudo é conversa e cada dia é um dia, mas o interesse existe. Sou feliz aqui, em um primeiro momento, a tendência é continuidade".

Em comparação a outros trabalhos e outros grupos que você comandou, qual o diferencial desse Ceará? Ele é o mais comprometido, mais unido?

"São várias vertentes que são importantes. Vejo o grupo do Ceará muito parecido com o grupo da Chape de 2016, aquela equipe que acabou tendo o acidente, participamos da formação deles, fomos campeões catarinenses e depois saímos para o Bahia, meses antes do acidente. Era uma equipe extremamente madura, muito objetiva, sabia o que queria e se impunha em campo com lideranças em campo como Cléber Santana, Diego, Danilo. A equipe do Ceará é muito parecida, mescla juventude com experiência, sabe o que quer, tem os seus objetivos e se entrega muito para isso. Ambos trabalham muito. Quando você tem uma equipe vencedora, sempre tem valências muito parecidas. O Sport tinha muito desses quesitos, o Bahia, a própria Ponte, quando fomos felizes. Primeiro o foco, depois a ambição de conquistar. Trabalho e maturidade direcionam uma equipe ao sucesso".

Todo treinador gosta de valorizar as peças que tem. Para você, o Vina é o melhor meia do futebol brasileiro? Por que ele conseguiu ser um destaque do Ceará na temporada 2020/2021?

"Se eu falar só da boca para fora, sem mostrar dados, vai ser só a opinião do Guto. Agora a pouco eu ouvia uma matéria que chegou até mim, se não me engano do Landim, que mostrava que o Vina é o primeiro em assistências, primeiro em finalizações certas, acho que são cinco quesitos que ele é primeiro no Campeonato Brasileiro e dois que fica em segundo, e por aí vai. Então fica difícil você dizer que ele não está entre os melhores, se não for o melhor. Acho que os dados mostram isso. Trabalhei com ele no Bahia, foi um momento de amadurecimento dele e depois passou pelo Atlético/MG e agora no Ceará é o momento que ele chegou num ponto de amadurecimento muito grande, onde ele tem noção do que precisa para conseguir esse sucesso. Tem trabalhado muito, feito sacrifícios e pago o preço para estar onde está".

Sonhos e metas para 2021?

"Sempre sonho em fazer grandes trabalhos e vencer. O que me impulsiona é sempre estar vencendo, o dia que não tiver a ambição de estar vencendo é a hora de parar. Estar no Ceará, não importa a competição que estejamos. Lógico que vamos ter os pés nos chão, pode ser que a gente não tenha a condição de chegar ao topo de determinadas competições, como o Campeonato Brasileiro, mas vamos trabalhar para fazer o melhor. Se 2020, que termina agora em 2021, foi muito bom, permanecendo aqui vamos fazer um trabalho melhor. Fazer sempre um ano melhor, esse era o lema na Chape. Sempre um ano melhor e de repente você está colhendo grandes feitos".

Reta final de campeonato, o que o torcedor pode esperar dos próximos duelos? À medida que vem uma grande vitória, como foi contra o Flamengo, aumenta a expectativa, o pessoal fica mais ansioso para a partida seguinte. O que se pode aguardar dos próximos duelos?

"Você falou uma palavra pesada, que ela delimita muitas vezes você atingir ou não o objetivo, que chama expectativa. Quando você cria uma expectativa muito grande e não atinge, você frusta. Quando você limita uma expectativa menor e atinge uma maior, você surpreende. Eu prefiro trabalhar surpreendendo sempre, pensando grande, mas surpreendendo. São jogos muito difíceis, talvez mais difíceis do que tivemos com bom desempenho. À medida que você faz resultados como fizemos, como jogamos contra o Inter, uma boa partida, o adversário vem muito mais preparado para te enfrentar, buscando explorar aquilo de deficiência que enxergou na sua equipe. Temos que fazer uma grande semana e ter uma mentalidade de enfrentamento muito mais forte para fazer um grande jogo e vencer o Bragantino. Ultrapassando o Bragantino vamos aos 42 pontos e estaremos prestes a selar a permanência, então vamos pensando na frente, jogo a jogo. O que tenho que dizer para o torcedor é que pode esperar. Se até aqui nós nos entregamos muito a esse trabalho, esse projeto, pode ter certeza que isso não vai parar, vamos até o limite para conseguir grandes coisas. Essas grandes coisas podem ser uma Sul-Americana sim, e de repente pode surpreender e ser algo maior".

Quem é o mais comédia do elenco do Ceará?

"(risos) Aí fica difícil, talvez seja o Alyson ou o Jacaré. Estão sempre brincando, mas o grupo todo é descontraído e é muito bom trabalhar com eles".

Quando o Guto não está trabalhando, ele está fazendo o quê? 

"Já estive umas duas vezes no Mercado dos Peixes, quando vinha para turismo sempre achava bem legal. Às vezes saio com o pessoal do clube aqui para comer algo, mas a maior parte do tempo é descansando, vendo jogos, estudando, vendo séries e viajando bastante. Às vezes vou para casa para ver esposa e filhos, mas basicamente é isso. Tenho atividades físicas pela manhã, dou uma caminhada no calçadão…".