Dribles que viraram ouro
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Redação
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Eleito melhor jogador da Copa das Confederações de 1997, Denílson conta os segredos do grupo campeão do torneio
Um 12º jogador de luxo. Assim podemos definir a passagem de Denílson pela Seleção Brasileira. Atualmente comentarista da Band, o ex-jogador tem uma história vitoriosa com a amarelinha e, em 1997, encantou o mundo na Copa das Confederações, o que lhe rendeu o prêmio de melhor jogador daquela edição do torneio, disputado pela primeira vez pelo Brasil.
Na Copa do Mundo de 1998, a base do ano anterior foi mantida e Denilson continuou no grupo Foto: Divulgação
Seu protagonismo no evento, disputado na Arábia Saudita, foi visto com surpresa pelo então atleta. Em 1997, o Brasil contava com a base tetracampeã do mundo e tinha, no ataque, a dupla Romário e Ronaldo.
"Quando anunciaram meu nome, fiquei extremamente surpreso e acredito que o elenco inteiro tenha ficado também. Estava atuando com o grande e já consagrado Romário, além de Ronaldo, que começava a trilhar seu caminho glorioso. Foi um momento maravilhoso", avalia Denílson. "Qualquer prêmio individual pela Seleção é para ser comemorado. Senti o reconhecimento de todos, e o que aquela camisa pode proporcionar", completa ele.
Com apenas um gol no campeonato, o ex-jogador acredita que a irreverência de seu futebol fez a diferença na escolha. "Romário foi o artilheiro daquele ano e eu tinha minha individualidade e habilidade. No fim das contas, acredito que os árabes preferiram os dribles", pontua.
Seleção dos carecas
A irreverência, inclusive, foi uma das marcas do time campeão de 1997. Uma das imagens mais lembradas quando se fala daquele grupo é o corte de cabelo. Com gosto duvidoso, o Brasil passou a ser conhecido como a "seleção dos carecas". O momento serviu para fortalecer as relações interpessoais na equipe.
"Não lembro bem como começou, mas eu devia estar no meio. Não recordo quem, mas algum jogador estava cortando o cabelo no quarto, quando o Bebeto quis cortar também. O que ninguém esperava, era que o corte do baiano ficasse com uma falha na nuca, obrigando-o a raspar tudo. Entre risos e gozações, fizemos com que todo mundo raspasse também", salienta o comentarista, lembrando que o momento foi bem revelador para alguns: "Dunga ficou muito feio, mas o Leonardo surpreendeu. Aquele cabelo bonitão que ele tinha servia apenas para esconder o orelhão dele. Recordo também que o único que não aderiu ao corte foi o Gonçalves; apesar das nossas tentativas, ele assumiu que usava aplique, então o poupamos da máquina".
Do contra
Apesar do momento de descontração, nem tudo foi alegria. Muitos apontam que a oposição de Rogério Ceni em raspar o cabelo - o que acabou acontecendo à força - foi um dos motivos para que o eterno goleiro do São Paulo não tivesse grandes oportunidades no selecionado nacional. No fim das contas, Denílson crê que o grupo errou em raspar o couro cabeludo do arqueiro, mas brinca ao dizer que os jogadores apenas anteciparam a ação do tempo.
"Fizemos uma bobagem. Tínhamos que respeitar a individualidade de cada um, principalmente por estarmos convivendo em equipe. Mas também não sei qual o motivo de tanta objeção da parte dele; ele já era feio e narigudo. Taí, agora, além de feio, é careca. Nós só antecipamos o que o tempo faria", declara, entre uma risada e outra.
Desde a criação da Copa das Confederações, jamais uma seleção conquistou o torneio e no ano seguinte levantou a Copa do Mundo. Contudo, a expectativa sempre rondou os campeões. Foi o caso do time que representou o Brasil na Copa do Mundo de 1998, na França. A derrota brasileira para os franceses intriga até hoje. Em grande parte, aponta-se o corte de Romário como o erro definitivo de Zagallo na campanha.
"Não acredito que Romário faria a diferença. É, sem dúvida, um grande jogador, mas fomos muito bem até a final; acredito, inclusive, que nossa decisão foi contra a Holanda. Perdemos o título quando Ronaldo passou mal. Aquilo afetou todo o grupo e, com ou sem Romário, não venceríamos", finaliza o craque.
FIQUE POR DENTRO
Jogada inicia hoje série sobre o torneio
O caderno Jogada inicia hoje uma série especial de reportagens para aquecer as turbinas dos fãs do futebol para a Copa das Confederações, evento promovido pela Fifa que será realizado este ano em seis cidades brasileiras _ entre elas, Fortaleza _ como preparação para a Copa do Mundo de 2014.
Até o próximo dia 13 de junho (dois dias antes da abertura, entre Brasil e Japão, em Brasília), o Diário do Nordeste contará a história das seis edições anteriores do torneio (em 1992 e 1995, a competição tinha o nome de Copa do Rei Fahd, em homenagem ao então rei da Arábia Saudita, onde a competição foi disputada, sem a presença brasileira).
Para resgatar como foram as disputas a partir da edição de 1997, o Jogada trará matérias especiais com jogadores brasileiros que disputaram a competição. O primeiro convidado é o ex-meia-atacante Denílson, pentacampeão do mundo com a Seleção em 2002.
Arábia Saudita foi palco para o show da dupla ´Ro-Ro´
A campanha do Brasil na Copa das Confederações de 1997 pode não ter sido um primor, mas os brasileiros jogaram o suficiente para provar ao mundo que o título ficou nas mãos certas. Em cinco jogos, a Seleção Brasileira somou quatro vitórias e empatou apenas uma vez.
A Seleção Brasileira - marcada pelos cabelos raspados - usou a Copa das Confederações de 1997 como teste para o Mundial de 1998 Foto: Folha Press
O escrete canarinho estreava no torneio, que deixava de se chamar Copa Rei Fahd e recebia a nomenclatura atual, com a expectativa de colocar em campo a dupla ´Ro-Ro´, com Romário e Ronaldo no ataque.
Em gramados árabes, os atletas não decepcionaram. Romário foi o artilheiro do certame com sete gols e ainda foi considerado o segundo melhor jogador do torneio. Ronaldo, por sua vez, balançou as redes em quatro oportunidades, sendo o terceiro maior goleador.
Naquela edição, o Brasil foi a campo com a base que defenderia o pavilhão nacional na Copa do Mundo da França. Entre os titulares, foram mantidos: Cafu, Aldair, Júnior Baiano, Roberto Carlos, Dunga, Leonardo e o ´Fenômeno´ Ronaldo.
Apesar de a Copa das Confederações reunir, basicamente, as equipes campeãs continentais, a edição de 1997 contou com uma importante ausência.
Vencedora da Eurocopa, a Alemanha abdicou da vaga e foi substituída pela República Tcheca, vice-campeã do certame.
O torneio também ficou marcado pelas goleadas. O Brasil foi autor de duas: 3 a 0 na Arábia Saudita e 6 a 0 na final contra a Austrália. Também houve os 5 a 0 do México sobre os sauditas e os 6 a 1 dos tchecos contra o Emirados Árabes Unidos.
Participaram daquele certame: Arábia Saudita, Austrália, Uruguai, República Tcheca, México, África do Sul, Emirados Árabes e Brasil.
Denílson crê em vida dura para o Brasil neste ano
Mesmo pendurando as chuteiras, a carreira de Denílson continua cruzando com a Copa das Confederações. Agora, como comentarista, o ex-jogador terá de analisar o que vê dentro das quatro linhas e, pelo que confidenciou à reportagem, deve ser obrigado a fazer algumas críticas à Seleção Brasileira.
"Não creio que o Brasil vá ter vida fácil. Na verdade, não acredito sequer em título para o Brasil. Só espero que os torcedores compreendam que esta é uma oportunidade para encontrar uma base titular e entrosar a equipe. Felipão deve estar consciente disso, e seria legal que a torcida apoiasse até o fim", avalia o craque da edição de 1997.
Para ele, Lucas pode ser o curinga para este grupo. Versátil, o meia do Paris Saint-Germain é apontado como substituto de Denílson.
"Talvez o estilo de Lucas seja o mais próximo ao meu. Também o vejo como o 12º jogador, tal qual eu fui", conclui.
EDUARDO BUCHHOLZ
REPÓRTER
Um 12º jogador de luxo. Assim podemos definir a passagem de Denílson pela Seleção Brasileira. Atualmente comentarista da Band, o ex-jogador tem uma história vitoriosa com a amarelinha e, em 1997, encantou o mundo na Copa das Confederações, o que lhe rendeu o prêmio de melhor jogador daquela edição do torneio, disputado pela primeira vez pelo Brasil.
Na Copa do Mundo de 1998, a base do ano anterior foi mantida e Denilson continuou no grupo Foto: Divulgação
Seu protagonismo no evento, disputado na Arábia Saudita, foi visto com surpresa pelo então atleta. Em 1997, o Brasil contava com a base tetracampeã do mundo e tinha, no ataque, a dupla Romário e Ronaldo.
"Quando anunciaram meu nome, fiquei extremamente surpreso e acredito que o elenco inteiro tenha ficado também. Estava atuando com o grande e já consagrado Romário, além de Ronaldo, que começava a trilhar seu caminho glorioso. Foi um momento maravilhoso", avalia Denílson. "Qualquer prêmio individual pela Seleção é para ser comemorado. Senti o reconhecimento de todos, e o que aquela camisa pode proporcionar", completa ele.
Com apenas um gol no campeonato, o ex-jogador acredita que a irreverência de seu futebol fez a diferença na escolha. "Romário foi o artilheiro daquele ano e eu tinha minha individualidade e habilidade. No fim das contas, acredito que os árabes preferiram os dribles", pontua.
Seleção dos carecas
A irreverência, inclusive, foi uma das marcas do time campeão de 1997. Uma das imagens mais lembradas quando se fala daquele grupo é o corte de cabelo. Com gosto duvidoso, o Brasil passou a ser conhecido como a "seleção dos carecas". O momento serviu para fortalecer as relações interpessoais na equipe.
"Não lembro bem como começou, mas eu devia estar no meio. Não recordo quem, mas algum jogador estava cortando o cabelo no quarto, quando o Bebeto quis cortar também. O que ninguém esperava, era que o corte do baiano ficasse com uma falha na nuca, obrigando-o a raspar tudo. Entre risos e gozações, fizemos com que todo mundo raspasse também", salienta o comentarista, lembrando que o momento foi bem revelador para alguns: "Dunga ficou muito feio, mas o Leonardo surpreendeu. Aquele cabelo bonitão que ele tinha servia apenas para esconder o orelhão dele. Recordo também que o único que não aderiu ao corte foi o Gonçalves; apesar das nossas tentativas, ele assumiu que usava aplique, então o poupamos da máquina".
Do contra
Apesar do momento de descontração, nem tudo foi alegria. Muitos apontam que a oposição de Rogério Ceni em raspar o cabelo - o que acabou acontecendo à força - foi um dos motivos para que o eterno goleiro do São Paulo não tivesse grandes oportunidades no selecionado nacional. No fim das contas, Denílson crê que o grupo errou em raspar o couro cabeludo do arqueiro, mas brinca ao dizer que os jogadores apenas anteciparam a ação do tempo.
"Fizemos uma bobagem. Tínhamos que respeitar a individualidade de cada um, principalmente por estarmos convivendo em equipe. Mas também não sei qual o motivo de tanta objeção da parte dele; ele já era feio e narigudo. Taí, agora, além de feio, é careca. Nós só antecipamos o que o tempo faria", declara, entre uma risada e outra.
Desde a criação da Copa das Confederações, jamais uma seleção conquistou o torneio e no ano seguinte levantou a Copa do Mundo. Contudo, a expectativa sempre rondou os campeões. Foi o caso do time que representou o Brasil na Copa do Mundo de 1998, na França. A derrota brasileira para os franceses intriga até hoje. Em grande parte, aponta-se o corte de Romário como o erro definitivo de Zagallo na campanha.
"Não acredito que Romário faria a diferença. É, sem dúvida, um grande jogador, mas fomos muito bem até a final; acredito, inclusive, que nossa decisão foi contra a Holanda. Perdemos o título quando Ronaldo passou mal. Aquilo afetou todo o grupo e, com ou sem Romário, não venceríamos", finaliza o craque.
FIQUE POR DENTRO
Jogada inicia hoje série sobre o torneio
O caderno Jogada inicia hoje uma série especial de reportagens para aquecer as turbinas dos fãs do futebol para a Copa das Confederações, evento promovido pela Fifa que será realizado este ano em seis cidades brasileiras _ entre elas, Fortaleza _ como preparação para a Copa do Mundo de 2014.
Até o próximo dia 13 de junho (dois dias antes da abertura, entre Brasil e Japão, em Brasília), o Diário do Nordeste contará a história das seis edições anteriores do torneio (em 1992 e 1995, a competição tinha o nome de Copa do Rei Fahd, em homenagem ao então rei da Arábia Saudita, onde a competição foi disputada, sem a presença brasileira).
Para resgatar como foram as disputas a partir da edição de 1997, o Jogada trará matérias especiais com jogadores brasileiros que disputaram a competição. O primeiro convidado é o ex-meia-atacante Denílson, pentacampeão do mundo com a Seleção em 2002.
Arábia Saudita foi palco para o show da dupla ´Ro-Ro´
A campanha do Brasil na Copa das Confederações de 1997 pode não ter sido um primor, mas os brasileiros jogaram o suficiente para provar ao mundo que o título ficou nas mãos certas. Em cinco jogos, a Seleção Brasileira somou quatro vitórias e empatou apenas uma vez.
A Seleção Brasileira - marcada pelos cabelos raspados - usou a Copa das Confederações de 1997 como teste para o Mundial de 1998 Foto: Folha Press
O escrete canarinho estreava no torneio, que deixava de se chamar Copa Rei Fahd e recebia a nomenclatura atual, com a expectativa de colocar em campo a dupla ´Ro-Ro´, com Romário e Ronaldo no ataque.
Em gramados árabes, os atletas não decepcionaram. Romário foi o artilheiro do certame com sete gols e ainda foi considerado o segundo melhor jogador do torneio. Ronaldo, por sua vez, balançou as redes em quatro oportunidades, sendo o terceiro maior goleador.
Naquela edição, o Brasil foi a campo com a base que defenderia o pavilhão nacional na Copa do Mundo da França. Entre os titulares, foram mantidos: Cafu, Aldair, Júnior Baiano, Roberto Carlos, Dunga, Leonardo e o ´Fenômeno´ Ronaldo.
Apesar de a Copa das Confederações reunir, basicamente, as equipes campeãs continentais, a edição de 1997 contou com uma importante ausência.
Vencedora da Eurocopa, a Alemanha abdicou da vaga e foi substituída pela República Tcheca, vice-campeã do certame.
O torneio também ficou marcado pelas goleadas. O Brasil foi autor de duas: 3 a 0 na Arábia Saudita e 6 a 0 na final contra a Austrália. Também houve os 5 a 0 do México sobre os sauditas e os 6 a 1 dos tchecos contra o Emirados Árabes Unidos.
Participaram daquele certame: Arábia Saudita, Austrália, Uruguai, República Tcheca, México, África do Sul, Emirados Árabes e Brasil.
Denílson crê em vida dura para o Brasil neste ano
Mesmo pendurando as chuteiras, a carreira de Denílson continua cruzando com a Copa das Confederações. Agora, como comentarista, o ex-jogador terá de analisar o que vê dentro das quatro linhas e, pelo que confidenciou à reportagem, deve ser obrigado a fazer algumas críticas à Seleção Brasileira.
"Não creio que o Brasil vá ter vida fácil. Na verdade, não acredito sequer em título para o Brasil. Só espero que os torcedores compreendam que esta é uma oportunidade para encontrar uma base titular e entrosar a equipe. Felipão deve estar consciente disso, e seria legal que a torcida apoiasse até o fim", avalia o craque da edição de 1997.
Para ele, Lucas pode ser o curinga para este grupo. Versátil, o meia do Paris Saint-Germain é apontado como substituto de Denílson.
"Talvez o estilo de Lucas seja o mais próximo ao meu. Também o vejo como o 12º jogador, tal qual eu fui", conclui.
EDUARDO BUCHHOLZ
REPÓRTER