CSP impacta em R$ 350 mi no prejuízo da Vale

De acordo com a CSP, o resultado no balanço da Vale mostra um "efeito contábil, mas que não tem efeito caixa"

Escrito por Redação ,
Legenda: A data de 'start up' da CSP estimada pela Vale é para o segundo semestre deste ano, por mais que a presidente Dilma Rousseff tenha divulgado, na semana passada, que o empreendimento começará a operar no início do ano que vem
Foto: FOTO: AG. REUTERS

A Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP) foi uma das responsáveis pelo prejuízo registrado, no primeiro trimestre desse ano, pela mineradora Vale, sócia do empreendimento cearense. A empresa teve uma perda de R$ 9,5 bilhões nos dois primeiros meses deste ano. Deste total, US$ 120 milhões foram por baixa gerada pela CSP, valor equivalente a cerca de R$ 350 milhões.

De acordo com a Vale, em seu relatório trimestral divulgado na última quinta-feira, o prejuízo com a siderúrgica cearense se deu no resultado de equivalência patrimonial da mineradora, que, no trimestre, registrou uma perda de US$ 271 milhões, influenciada também pela Samarco Mineração Ltda, empresa que pertence à Vale e à anglo-australiana BHP Billiton, com 50% das ações cada.

"Samarco contribuiu negativamente para o resultado de equivalência patrimonial em US$ 173 milhões, enquanto CSP contribuiu negativamente com US$ 120 milhões, devido ao impacto da depreciação do BRL (Real) em suas dívidas denominadas em USD (Dólar)", justificou a empresa.

A queda na equivalência patrimonial só não foi maior por conta dos lucros obtidos pelas pelotizadoras arrendadas pela Vale em Tubarão (US$ 24 milhões) e pela MRS (US$ 9 milhões), empresa de logística.

Participação

A Vale possui 50% das ações da CSP. A outra metade da participação é dividida pelas sul-coreanas Dongkuk e Posco, com 30% e 20%, respectivamente. Para o exercício de 2015, a Vale tem previstos US$ 185 milhões em investimentos, o equivalente a R$ 545 milhões.

Entretanto, a mineradora brasileira não realizou nenhum aporte no empreendimento ao longo dos três primeiros meses deste ano, conforme aponta o relatório.

Já foi investido pela Vale US$ 1,05 bilhão na siderúrgica cearense, desde o início do projeto. O aporte total estimado na usina é de US$ 2,73 bilhões, valor relativo à participação da empresa na 'joint venture'.

Financiamento

No relatório, a Vale destaca que a CSP concluiu um acordo de empréstimo de longo prazo de US$ 3 bilhões, afirmando que este montante "contribuirá para o cumprimento das principais necessidades de financiamento futuras do projeto". A empresa ressalta que a operação será feita diretamente pela CSP e não será consolidado na dívida total da Vale. O documento publicado mostra que a CSP está com 82% de avanço físico, com a montagem das estruturas metálicas alcançando 67% de execução. A data de 'start up' estimada pela Vale é para o segundo semestre deste ano, por mais que a presidente Dilma Rousseff tenha divulgado, na semana passada, que o empreendimento começará a operar no início do ano que vem. A assessoria da siderúrgica informa que deve-se considerar que "a CSP é composta por várias unidades operacionais, que estão sendo construídas de acordo com o cronograma integrado. Em decorrência, há uma sequência de partidas que terão início a partir do fim de 2015".

Depreciação

O prejuízo da Vale no período foi puxado principalmente pelo impacto causado pela depreciação de 20,8%, trimestre a trimestre, do real frente o dólar americano. A Vale investiu US$ 2,21 bilhões nos três primeiros meses do ano, montante que representa uma redução de US$ 377 milhões no comparativo com o mesmo período de 2014.

"Sem efeito caixa"

De acordo com nota enviada pela assessoria da CSP à redação sobre o desempenho da Vale, "trata-se de efeito contábil, mas que não tem efeito caixa. Pelas normas contábeis, os saldos em moeda estrangeira devem ser atualizados para o real (R$) a cada encerramento, portanto as dívidas da CSP em real (R$) ficaram mais caras, face à desvalorização cambial verificada nos três primeiros meses de 2015, algo em torno de 20%".

Acrescenta a nota que "o efeito dessa variação cambial precisa ser contabilizado como perda financeira no balanço da Vale, tendo em vista que a empresa tem participação de 50% na CSP e, nesse sentido ela deve, obrigatoriamente, reconhecer metade desta perda em seu balanço, pelo método contábil de equivalência patrimonial dos investimentos", conclui.

S&P rebaixa a nota da mineradora

São Paulo. A agência de classificação de riscos Standard & Poor's rebaixou ontem à noite, os ratings da Vale, incluindo seu rating de crédito corporativo, para BBB, de BBB+, com perspectiva negativa.

De acordo com a S&P, o rebaixamento reflete "a forte pressão do efeito combinado da queda nos preços do minério de ferro e dos níveis de investimento consideráveis na alavancagem da empresa em 2015 e 2016".

A mudança de rating também inclui as notas aos bonds da empresa emitidos pela Vale Canada, Vale Overseas Limited e PT Vale Indonesia Tbk. A entidade informou também que todos os ratings foram removidos da listagem de CreditWatch ou observação de crédito, na qual foram colocados com implicações negativas em 13 de abril de 2015.

A agência ressaltou em comunicado que, apesar de continuar a esperar uma redução significativa na alavancagem em 2017 e anos subsequentes, considera atualmente uma queda nos preços do minério de ferro.

Dessa forma, a S&P projeta métricas de crédito mais fracas, o que levou a agência a alterar a avaliação do perfil de risco financeiro da Vale de "intermediária" para "significativa".

Rentabilidade

"As quedas nos preços têm prejudicado os níveis de rentabilidade da indústria, afetando principalmente os produtores menos diversificados, como a Vale", ressaltou em comunicado.

A S&P citou outros dois fatores como os principais pontos fracos da Vale em comparação com outras empresas de metais e mineração com alto grau de investimento: a volatilidade da rentabilidade e a baixa diversificação do portfólio.

"Ainda assim, sua grande escala e liderança na posição de custo operacional suportam nossa avaliação do perfil de negócios 'forte'", afirmou a agência. Para quem , a Vale depende muito da venda de ativos e fontes não convencionais de caixa para impedir aumentos nos níveis de dívida, o que pressiona os ratings.

Sérgio de Sousa
Repórter

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