Mulher se passa por filha de militar durante 33 anos e recebe R$ 3,7 milhões em pensão
O golpe foi dado por iniciativa da avó da condenada, que identificou um militar sem filhos ou esposa em vida para deixar a pensão
Uma mulher de 55 anos foi condenada pela Justiça Militar por fingir ser filha de um ex-combatente da Segunda Guerra Mundial durante 33 anos para receber pensão, na cidade de Campo Grande (MS). Ana Lucia Umbelina Galache de Souza ganhou indevidamente R$ 3,7 milhões das Forças Armadas.
Ela foi condenada nessa quarta-feira (9) a três anos e três meses de reclusão. A defesa da mulher apelou, e agora o caso está no Superior Tribunal Militar (STM). No ano passado, Ana Lucia já havia sido condenada em primeira instância a devolver os valores recebidos.
A fraude começou em 17 de outubro de 1988, e só foi descoberta em 31 de maio de 2022. Ela conseguiu enganar o Exército com a ajuda de sua avó paterna, que a levou no cartório para mudar nome e data de nascimento.
O crime foi descoberto porque a própria avó denunciou a neta à Polícia Militar de Mato Grosso do Sul após ficar insatisfeita com o acordo financeiro que as duas tinham firmado.
"Em 2021, Conceição [avó], descontente com a parcela da pensão que lhe era transferida por sua neta, registrou a denúncia sobre a fraude, perante a Polícia Militar. No entanto, não chegou a ser inquirida na sindicância administrativa nem no inquérito policial, pois faleceu em maio de 2022", informou o processo do Tribunal de Contas da União (TCU)", trecho de processo ao qual o jornal O Globo teve acesso.
Veja também
Expedicionário da 2ª Guerra Mundial foi envolvido
O militar usado para a fraude foi o ex-integrante da Força Expedicionária Brasileira (FEB) Vicente Zarate, que morreu em 1988. O golpe foi planejado dois anos antes, conforme o Superior Tribunal, pois a avó da condenada soube que o militar não teria ninguém para deixar sua pensão.
Ela mudou o nome da neta, à época com 15 anos, para Ana Lucia Zarate, no Cartório Santos Pereira, em Campo Grande, no dia 25 de setembro de 1986. A mulher ainda fez uma nova identidade e um novo Cadastro de Pessoa Física (CPF).
Após a morte do expedicionário, a avó de Ana Lucia deu entrada imediatamente no pedido de pensão. Ao longo dos anos, a mulher chegou a receber mais de R$ 8 mil por mês.
“Assim agindo, a denunciada cometeu o delito de estelionato, tendo em vista que utilizou-se de sua falsa condição de dependente como meio de obter vantagens pecuniárias ilícitas, em prejuízo do erário, mantendo em erro a Administração Militar de modo continuado. Sua conduta perdurou por mais de 33 anos, de 17 de outubro de 1988 a 31 de maio de 2022, e o prejuízo causado foi contabilizado em R$ 3.723.344,07, conforme Laudo Pericial Contábil”, explicou a acusação.