Família de sobrinha que levou tio morto a banco defende mulher: 'Grande mal-entendido'

Erika de Souza foi presa após levar o parente, de 68 anos, a uma agência bancária para sacar um empréstimo. Porém, a morte dele foi constatada no local

Escrito por Redação ,
Montagem com imagens de Erika de Souza Vieira Nunes e Paulo Roberto Braga. Família de sobrinha que levou tio morto a banco defende mulher: 'Grande mal-entendido'
Legenda: Parentes afirmam que mulher sofre de transtornos psiquiátricos, tem alucinação e recorre a medicamentos
Foto: reprodução

Erika de Souza Vieira Nunes, 42 anos, foi presa ao ser flagrada levando o corpo do tio, identificado como Paulo Roberto Braga, de 68, a uma agência bancária para tentar sacar um empréstimo de R$ 17 mil no nome dele, em Bangu, na cidade do Rio de Janeiro. A mulher foi indiciada pelos crimes de tentativa de furto mediante fraude e vilipêndio a cadáver. Familiares dela e do idoso afirmam que caso seria um "mal-entendido"

Gostaria que as pessoas fossem mais sensíveis com essa situação que estamos vivendo. Estamos enfrentando a perda do nosso tio e esse grande mal-entendido com a nossa mãe."
Lucas Nunes dos Santos
Filho de Erika

Em entrevista ao Fantástico, exibida nesse domingo (21), parentes detalharam que o homem morava com a mulher, e outros três filhos dela, há cerca de 15 anos. O idoso tem irmãos, mas eles morariam em outras cidades. "Ele não teve filho, ele nunca se casou. Teve, sim, companheiras, mas família foi essa [da Erika] que acolheu ele e [com quem] ele viveu por bastante tempo", detalhou a tia dos dois, Ana Fátima Vieira. 

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Testemunhas relataram à Polícia que Paulo Roberto chegou ao shopping vivo, por volta das 12h50, da última terça-feira (16). Em depoimento, Erika disse que só percebeu que ele estava morto quando funcionários do banco prestaram socorro a ele, por volta das 14h, após constatarem que algo poderia estar errado com o cliente.

Em novas imagens dos últimos momentos dele, capturadas por câmeras de segurança e divulgadas pelo programa, é possível observar que, enquanto segurava a cabeça do tio, a sobrinha chegou a conversar com o homem várias vezes. Na gravação, o idoso não mostra sinais de resposta durante as interações.

Para a advogada de defesa da suspeita, Ana Carla de Souza Correa, inicialmente, a cliente não conseguia acreditar que o familiar estava morto.

A defesa técnica entende, até depois de algumas conversas com a senhora Erika, de que realmente ela não aceitou [a morte dele]. É a questão da negação de que ele poderia realmente está desfalecido, morto, naquele momento. Até porque ela conversa com ele."
Ana Carla de Souza Correa
Advogada de Erika

Já para o delegado da Polícia Civil, Fábio Souza, a mulher sabia que o tio não estava vivo e agiu mal intencionada. A corporação investigada se há outros empréstimos no nome do idoso. 

"Ela sabia que ele estava morto. Porque desde a hora do shopping, como eu disse, a cabeça dele está solta, a partir daí ele não dar mais sinais nenhum. Então, ela passou horas fazendo aquilo. E o que dá mais certeza ainda é a simulação dela de estar conversando com ele, de fazer com que os outros acreditem com que ele estava vivo, mesmo ela não tendo qualquer tipo de resposta dele", argumenta.

Segundo o filho da mulher, ela sofre de transtornos psiquiátricos, tem alucinações e toma remédios. Em laudos entregues pelos parentes, dois psiquiatras indicam que Erika deveria ser internada. O primeiro, de 2022, argumenta que a paciente sofre de dependência em sedativos, tem quadro de depressão, pensamentos suicidas e alucinações auditivas. O outro, de 2023, também afirma que ela tem dependência em sedativos, além de hipnóticos. 

Minha mãe criou seis filhos. Ela nunca precisou roubar, não precisou enganar ninguém para criar os seis filhos dela. A minha mãe encaminhou seis filhos nessa vida, e encaminhou muito bem, no caminho do estudo, no caminho do que é correto."
Lucas Nunes dos Santos
Filho de Erika

"Uma pessoa que tem problemas psiquiátricos pode não entender que o tio está morto, mas certamente ela não vai entender que tinha que pegar o dinheiro. Uma pessoa não pode ter uma consciência seletiva", argumenta o delegado Fábio Souza.  

O caso mal começou e já está se tendo uma punição anterior a uma decisão de uma sentença. Ou seja, já está sendo punida antes mesmo de ser condenada, se é se vai ser condenada.
Ana Carla de Souza Correa
Advogada de Erika
  

A morte do idoso foi constatada por volta das 15h20, e o laudo do Instituto Médico Legal (IML), concluído na noite da última quarta (17), aponta que o óbito ocorreu entre 11h30 e 14h30 da terça, por broncoaspiração de conteúdo estomacal e falência cardíaca.

Dinheiro seria para reforma de garagem

Durante os 15 anos que morava com a família da sobrinha, a saúde de Paulo Roberto teria se debilitado, apresentando dificuldade e locomoção, sendo necessário deixá-lo boa parte do dia em uma garagem no térreo da residência — onde havia uma cama simples, um vazo sanitário e outros poucos móveis. 

"Ele [Paulo Roberto] era motorista de ônibus. Uma excelente pessoa, porém, tinha essa dificuldade na relação com álcool", acrescentou o irmão de Erika, Jairo Barbosa Nunes Júnior.

Sem piso no chão e revestimento nas paredes, os R$ 17 mil provenientes do empréstimo seriam usados para reformar o local e comprar móveis, além de uma cadeira de rodas, para o idoso, segundo os familiares. Eles também apresentaram um documento que indica que a entrada no crédito teria sido realizada em março. 

O caso

Na última terça-feira (16), Erika levou o tio, Paulo Roberto Braga, 68 anos, a uma agência bancária para tentar liberar um empréstimo de R$ 17 mil em nome do idoso. No entanto, funcionárias notaram que o homem não estava responsivo.

Paulo Roberto foi enterrado neste sábado (4) no Rio de Janeiro. A partir de um benefício da Prefeitura da cidade, voltado a pessoas que alegam não ter condições financeiras de arcar com os custos do processo, o sepultamento foi gratuito.

A defesa de Erika afirma que o caso é consequência de um “surto de um efeito colateral”, uma vez que ela, segundo a advogada, tem depressão e toma remédios controlados. O pedido de liberdade condicional da mulher alega que ela tem uma filha que necessita de cuidados especiais.

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