Contrabando de mercúrio para garimpo ilegal gerou rombo de R$ 1,1 bilhão aos cofres públicos, diz PF

Sistemas do Ibama eram fraudados para fingir que movimentações do produto eram permitidas na Amazônia

Escrito por Redação ,
Legenda: No garimpo, mercúrio é valorizado por aderir facilmente ao ouro
Foto: Freepik

Um esquema de fraudes nos sistemas do  Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) para distribuir mercúrio contrabandeado a regiões de garimpo ilegal na Amazônia, teria gerado um prejuízo estimado aos cofres públicos de R$ 1,1 bilhão em quase uma década.

É o que estima a Polícia Federal (PF) durante as investigações da Operação Hermes (Hg),  deflagrada na última quinta-feira (1º). As informações são do Estadão.

A Justiça Federal autorizou a prisão de 14 pessoas: 5 em regime preventivo (quando não há prazo determinado para a soltura) e as outras 9 em caráter temporário (com possibilidade de renovação ou conversão em prisão preventiva).

Os bens dos investigados foram bloqueados e buscas foram permitidas em 49 endereços nos Estados de Mato Grosso, São Paulo, Goiás, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Rondônia, conforme decisão da juíza Raquel Coelho Dal Rio Silveira, da 1.ª Vara Federal de Campinas.

Os mandados foram cumpridos em imóveis comerciais e residenciais, depósitos e áreas de mineração. A PF chegou a solicitar buscas em um endereço em Portugal, mas o Ministério Público Federal (MPF) foi contra, devido a "formalidades de cooperação internacional".

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Para que serve o mercúrio?

O mercúrio é utilizado no garimpo pela capacidade de aderir ao ouro, o que facilita a separação do metal precioso. Depois, ele é aquecido até evaporar. A maior parte vai para a atmosfera e, após chuvas, chega aos rios. 

O metal é altamente tóxico e pode comprometer a saúde de animais e humanos. Todo o mercúrio usado no Brasil é importado porque o País não tem reservas naturais, e existem rotas clandestinas, principalmente na fronteira com a Bolívia.

O grupo investigado na Operação Hermes (Hg) é suspeito de fraudes nos sistemas oficiais do Ibama para fingir que o mercúrio contrabandeado é legal. 

"De se observar que, ao longo dos anos, após sucessivas suspensões de empresas autorizadas à importação de mercúrio, o esquema criminoso se rearticula de maneira extremamente ágil", disse a juíza na decisão.

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Como funcionava o esquema

A atividade criminosa seria operada pelo uso de declarações falsas de produção: empresas de fachada seriam criadas para declarar que haviam obtido o mercúrio por meio de reciclagem ou pela compra de créditos de outras empresas.

O destino seria o abastecimento de garimpos na Amazônia Legal (que compreende os Estados de Mato Grosso, Rondônia e Pará). A Justiça Federal apontou uma "imbricada relação de atravessadores e destinatários do produto".

A segunda estapa envolveria a lavagem do lucro obtido com o comércio ilegal do mercúrio contrabandeado. A PF apontou que empresas de fachada, testas de ferro e laranjas seriam usados para blindar as lideranças, além da compra e venda de imóveis e outros bens para dificultar o rastreio das autoridades.

O Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) também indicou "movimentações atípicas e suspeitas" entre os investigados. No esquema, a PF vê indícios de associação criminosa, contrabando, falsidade ideológica, uso de documento falso, crimes ambientais, receptação e lavagem de dinheiro.

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