O que dizem os especialistas sobre a venda da Lubnor pela Petrobras; entenda impactos

Refinaria que produz asfalto em Fortaleza foi negociada por US$ 34 milhões com a Grecor Investimentos em Participações Societárias Ltda

Legenda: A Lubnor tem capacidade de processamento de 8 mil barris/dia, é uma das líderes em produção de asfalto e a única no País a produzir lubrificantes naftênicos
Foto: FOTO: JUAREZ CAVALCANTI

Com a confirmação da venda da refinaria Lubrificantes e Derivados de Petróleo do Nordeste (Lubnor), em Fortaleza, pela Petrobras, o mercado já começa a tentar entender os impactos da negociação fechada em US$ 34 milhões.

O montante pago pela Lubnor foi questionado pelo Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), que indicou um prejuízo de 45% do total esperado pela refinaria. 

Enquanto parte dos especialistas aponta para possíveis ganhos de produtividade a partir da entrada da iniciativa privada, outros destacaram as chances de elevação de custos para prefeituras no Nordeste e pela criação no monopólio da produção de asfalto e lubrificantes naftênicos na região. 

De acordo com o consultor do setor de petróleo e gás, Bruno Iughetti, a decisão de vender a Lubnor foi positiva e consolida os planos da Petrobras de focar investimentos no setor de exploração de petróleo em águas profundas, ou pré-sal.

Além disso, ele comentou que a refinaria cearense poderá ter ganhos tecnológicos a partir da compra pela Grecor Investimentos em Participações Societárias Ltda, que já atua no setor de produção de asfalto. 

Esse cenário deve fazer com que a gama de produtos, segundo Iughetti, seja aumentada nos próximos anos, seguida também por um ganho de qualidade e produtividade. 

"Eu tenho uma posição clara e vejo de forma positiva porque a Petrobras prioritariamente vem concentrando investimentos na produção do pré-sal e está abrindo mão de ativos como a Lubnor. Mas vejo que o plano de desinvestimentos para a Lubnor seja retomado e desenvolvido a gama de produtos para a Lubnor. E isso é positivo porque a Petrobras teve como vencedora a Grepar que parte desse grupo já é especialista na produção de asfaltos", disse. 

Valor abaixo do esperado 

Segundo um estudo do Ineep, a Lubnor está sendo vendida por apenas 55% do preço ideal, considerando o "potencial importante de geração de caixa futuro" da unidade. 

“O estudo se baseia em dois cenários-base, considerando um piso cambial de US$ 5,08 e um pico de US$ 5,70. Essa faixa foi adotada em função da alta volatilidade cambial da economia brasileira no cenário de negociação do ativo. A partir desses dois cenários, e baseando-se nesse piso e pico cambial, o estudo conclui que a refinaria pode valer de US$ 62 milhões a US$ 70 milhões”, destacou o Ineep.

Já para Bruno Iughetti, o valor de US$ 34 milhões pagos pela Lubnor se explicaria pela falta de interessados no negócio atualmente. Como o setor contém um perfil muito específico, as definições estratégicas da Petrobras estariam corretas ao vender a refinaria por um preço "menor do que o esperado".

"Foi positivo e competitivo pelas análises internacionais porque são poucos pretendentes de entrar nesse serviço muito especializado. A Lubnor tem um perfil muito específico. Hoje, a refinaria produz um volume de 8 mil barris por dia e com a Grepar isso deve aumentar, elevando as vantagens da designação do mercado para atender a demanda", disse Iughetti.

Monopólio não deve afetar o mercado de asfalto no Brasil

Sobre a possibilidade de uma criação de monopólio do setor no Nordeste, o consultor defendeu que isso não seria, necessariamente um problema pelo fato da Petrobras, hoje, atuar sozinha nesse mercado regional. 

"Não acredito que isso venha a ocorrer. Não vejo nenhuma possibilidade de se virar um monopólio até porque já é hoje na mão da Petrobras. Mas na mão da iniciativa privada isso não deve afetar o mercado de asfalto no Brasil", disse.  

"A Lubinor já é dependente de asfalto importado e se espera com esse novo quadro, o Brasil deixe de ser dependente da complementação de asfalto. Seria através da ampliação do leque de tecnologia que a Lubnor ganha com essa iniciativa privada", completou Iughetti.

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Impactos negativos 

A perspectiva, contudo, não foi corroborada pelo diretor do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria do Petróleo (Sindipetro) no Ceará e Piauí, Wagner Fernandes. Um dos pontos questionados por ele foi o valor abaixo do esperado para a venda da Lubnor. 

Fernandes comparou o investimento feito pela 3R Petroleum e Participações para realizar a compra da Fazenda Belém, campo de petróleo em Icapuí (Ceará), por um valor até maior do que a Lubnor. O campo foi vendido em 2020, por US$ 35,2 milhões. Além disso, a falta de prazos para o pagamento da refinaria em Fortaleza foi apontada como um ponto suspeito da negociação. 

De acordo com a Petrobras, o total da venda é de "US$ 34 milhões, sendo (a) US$ 3,4 milhões pagos na data de hoje; (b) US$ 9,6 milhões a serem pagos no fechamento da transação e (c) US$ 21 milhões em pagamentos diferidos". 

Impactos diretos nas prefeituras do Nordeste

Essa operação, contudo, deverá, segundo Fernandes, gerar um monopólio privado na produção de asfalto e lubrificantes naftênicos, gerando impactos diretos nas contas das prefeituras do Nordeste. Como a Lubnor é uma das principais produtoras desses insumos no Brasil, ter um controlador privado daria liberdade para um controle de preços menos transparente. 

"Tem vários escândalos acontecendo, começando o valor de US$ 34 milhões e isso não pagaria nem o terreno da refinaria, além da importância porque fabrica boa parte do asfalto no mercado do nordeste e a única produz lubrificantes naftênicos. Além do valor irrisório isso vai ser parcelado, mas não apresentou os prazos", disse. 

Remanejamento de funcionários

Além disso, o Sindipetro questionou a decisão da Petrobras de remanejar todos os funcionários da Lubnor para uma outra unidade em Fortaleza e ceder os serviços deles à nova controladora da Lubnor até que haja uma adaptação completa das novas atividades. 

'Na nossa percepção, é um favorecimento a grupos econômicos, o antigo presidente é um chairman de uma empresa que comprou várias unidades da Petrobras. Vender unidades da Petrobras nesse momento com valores do mercado em alta dos derivados de petróleo demostra que ou você não é inteligente, ou está favorecendo alguém", ponderou.

Por conta disso, o Sindicato deverá entrar com um pedido no Ministério Público para tentar barrar a operação.

"Nós vamos acionar o Ministério Público, até porque estão vendo terrenos públicos e isso dilapida o patrimônio da Petrobras. Não há explicação de mercado que justificativa para isso. A unidade é estratégica e dá lucro e está estruturada há mais de 50 anos", explicou Fernandes.