Saúde mental e exercício: entenda como prática ajuda no combate a doenças como ansiedade e depressão
Neste Setembro Amarelo, a coluna conversou com especialistas sobre os benefícios do exercício físico para o bem-estar mental
A prática regular de exercícios proporciona uma série de benefícios físicos ao organismo, como ganho de massa muscular, controle de peso, prevenção e combate a doenças, entre outros. No entanto, os efeitos positivos de uma rotina de exercícios físicos vão além dos aspectos fisiológicos e contribuem também para o bem-estar psicológico.
O psiquiatra Pérsio de Deus explica que a relação entre a melhora da saúde mental e a prática de exercícios é consequência de uma reação química. O exercício físico resulta na liberação de endorfina — hormônio anestésico que alivia dores e estresse —, estimulando a produção de serotonina, neurotransmissor que promove sensação de prazer e que é capaz de combater transtornos como depressão e ansiedade.
O especialista destaca que a prática de exercício ainda aumenta a circulação cerebral, contribuindo para a melhora e a prevenção de isquemias, de demências, de esquecimentos, de falta de ânimo e de disposição, piorados pela má circulação nesse órgão.
Veja também
A conselheira do Conselho Regional de Educação Física da 5ª Região (CREF5), Maria de Lourdes Lima Ferreira, mestre em Ensino em Saúde, explica que para ter acesso aos benefícios mentais dos exercícios basta seguir a recomendação de frequência da Organização Mundial da Saúde (OMS).
A entidade internacional indica para adultos pelo menos de 150 a 300 minutos de exercício físico, de moderada intensidade, por semana. Já para crianças e adolescentes a recomendação é uma média de 60 minutos de exercícios aeróbicos moderados diariamente.
12 benefícios para a saúde mental
Ao Diário do Nordeste, os dois especialistas listaram alguns efeitos positivos associados à prática regular de exercícios para a melhora da saúde mental. São eles:
- estimulação da liberação de endorfina, que por sua vez aumenta a serotonina no cérebro — substância envolvida nos circuitos de prazer e de redução da depressão;
- melhora da microcirculação cerebral, tornando o cérebro mais ativo, diminuindo as chances de desenvolvimento de demência;
- alívio do chamado cérebro lógico, responsável pelo "processamento de informações" e que está constantemente sobrecarregado;
- redução de dores musculares e articulares, aumentando a qualidade de vida e o bem-estar do indivíduo;
- auxílio do controle do peso corporal, evitando doenças cardiovasculares e diabete;
- aumento da autoestima;
- elevação dos níveis de substâncias cerebrais como adrenalina e noradrenalina;
- estimulação da regeneração de fibras cerebrais (neurônios);
- melhora do foco, da atenção, da disciplina e da ordem, auxiliando pacientes com déficits ou distúrbios de atenção;
- exercícios em grupo e coletivos geram interação e sociabilização, que melhoram a saúde psíquica;
- alívio de sentimentos negativos, como raiva, ódio e agressividade, principalmente em casos de pessoas que reprimem ou guardam essas sensações;
- aumento da temperatura corporal, reduzindo a percepção de estresse.
Prática física pode reduzir uso de medicação
Pérsio de Deus destaca outro efeito positivo da prática: possibilitar que pacientes diagnosticados com transtornos psíquicos, como depressão, transtorno de ansiedade generalizada (TAG), entre outros, e que usam medicamentos, possam parar ou reduzir a dosagem de remédios. Ou seja, fazer exercícios regularmente pode permitir que esses indivíduos se tratem com terapias mais naturais.
Quanto mais os pacientes se dedicarem aos tratamentos naturais, advindos dos exercícios físicos, menos medicamentos! E não estou abordando somente transtornos psíquicos, mas também em distúrbios orgânicos, como transtornos cardiovasculares, diabete, doenças reumáticas, entre outras."
Exercícios de relaxamento, como ioga e pilates, quando associadas a outras terapias, como a psicoterapia, podem contribuir ainda mais para a redução de estímulos estressores e aumentar o equilíbrio mental.
Veja também
Qual melhor tipo de exercício?
Os especialistas explicam que o exercício ideal varia de pessoa para pessoa, porém, recomendam que o indivíduo dê preferência ao que ofereça mais prazer — evitando estabelecer uma relação de obrigação com a prática —, e que atenda à indicação de frequência da OMS.
"Não importa o tipo de exercício, o importante é adquirir disciplina e autoconceito, pois qualquer tipo de treino que for feito vai aumentar a temperatura corporal, provocando vários efeitos fisiológicos e que estão associados a melhoria da saúde mental", destaca Maria de Lourdes.
Pérsio de Deus destaca, porém, a existência de alguns estudos que relacionam tipos específicos de práticas físicas com a melhora de sintomas de certos diagnósticos. São eles:
- pessoas com transtornos de ansiedade se beneficiam, principalmente, de exercícios com movimento, como corrida, caminhada, natação etc;
- pacientes com depressão se favorecem por caminhadas e técnicas como pilates e hidroterapias, além de artes marciais, como Tai Chi Chuan, e exercícios com música (danças, balés e outras formas).
Tudo isso faz do exercício físico uma ferramenta imprescindível para a promoção da saúde mental. E o seu custo é muito menor se comparado a outros tratamentos medicamentosos."
O que saber antes de começar a se exercitar
Tanto o psiquiatra quanto a conselheira frisam a importância de passar por uma avaliação médica, antes de iniciar a prática de exercício físico. Segundo os profissionais, é nessa etapa que o paciente pode descobrir que tipo de exercício físico é mais indicado e quais limitações pode ter. Ter o acompanhamento de um profissional de educação física também é algo recomendado por ambos.
"Começar com exercícios leves e aumentar aos poucos a intensidade. Usar roupas leves e confortáveis. Escolher os melhores horários para fazer exercício físico ao ar livre, sendo os melhores horários o início da manhã ou o final da tarde", acrescenta Maria de Lourdes.