Luizianne sobre apoio do PT: 'Difícil imaginar, 20 anos depois, passar pelo mesmo constrangimento'

Ex-prefeita antecipa a pré-candidatura à Prefeitura de Fortaleza em 2024 com tempo para colocar na mesa cartas que custaram caro nas últimas décadas

Legenda: Deputada federal Luizianne Lins, pré-candidata à Prefeitura de Fortaleza
Foto: Thiago Gadelha

Em 2024, quando a deputada federal Luizianne Lins (PT) pretende disputar a quinta eleição à Prefeitura de Fortaleza, completará duas décadas desde a primeira empreitada da petista no Executivo, em 2004, quando foi eleita prefeita. Foi uma disputa histórica, resolvida em segundo turno, sem o apoio até mesmo da cúpula de seu partido. 

Naquela época, o PT vivia um auge: Lula recém-eleito presidente da República, aumento da bancada de parlamentares no Congresso Nacional, fortalecimento de diretórios estaduais e municipais... Todo esse fôlego, no entanto, não foi ofertado à petista.

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Luizianne conseguiu o direito de ser candidata pelo PT, mas amargou durante todo o primeiro turno a oposição das lideranças do partido, inclusive do então presidente nacional, o cearense José Genoíno, irmão do deputado federal José Guimarães. Toda a energia do partido foi destinada à candidatura de Inácio Arruda, aliado de primeira ordem pelo PCdoB. 

A candidata do PT não recebeu apoio nem recursos. Para Arruda, o partido chegou a mobilizar showmícios e até material publicitário vinculando o presidente Lula ao candidato do PCdoB, barrado na Justiça por ação da campanha de Luizianne. O apoio só veio quando Luizianne levou a disputa para segundo turno, contra Moroni Torgan, candidato pelo PFL. 

Quase duas décadas depois, no cenário do PT pós-2022, com a volta de Lula à presidência da República, com o partido novamente fortalecido e com nomes disputando indicação para a disputa pela Prefeitura de Fortaleza, o fantasma de 2004 parece querer assombrar.

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"É difícil imaginar, 20 anos depois, passar pelo mesmo constrangimento", disse Luizianne Lins, em entrevista ao PontoPoder, na última quinta-feira (31), ao ser questionada sobre a interferência do PT nacional nas definições da Capital no próximo ano.

"Todas as pessoas que estavam naquele momento implicadas fizeram autocrítica pública. Então, assim, a autocrítica precisa ser na prática. O Lula não esteve aqui para fazer a campanha de outro candidato, mas, mesmo assim, em 2008, fui candidata à reeleição e ganhei em primeiro turno. Não tivemos a presença do Lula. Consegui trazer na campanha de 2012, do Elmano (de Freitas, hoje governador). Eu entendo os processos, essa coisa toda, faz parte também. Agora, espero, não preciso provar mais nada pra ninguém", ressalta.

Luizianne, com Lula e Elmano na campanha pela Prefeitura de Fortaleza, em 2012
Legenda: Luizianne, com Lula e Elmano na campanha pela Prefeitura de Fortaleza, em 2012
Foto: Arquivo/SVM

Para o próximo ano, Luizianne já anunciou sua pré-candidatura. Em 2016 e em 2020, após a derrota de seu candidato à sucessão em 2012, ela foi candidata. Nas duas ocasiões, em chapa pura, sem partidos aliados e sem uma articulação nacional que pudesse dar suporte. Nesses anos, o PT amargou derrotas nacionais, com o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e a prisão de Lula em 2018.

"Em 2004 eu fui eleita, em 2008 fui reeleita em primeiro turno - fui a única prefeita eleita no primeiro turno, não tem isso na história em Fortaleza. Em 2016, o PT passava por um dos piores momentos da sua história, que foi exatamente o impeachment, que agora gente viu que foi golpe, não houve a dita pedalada, foi um processo político; e 2016, eu fui para cumprir uma missão, que era deixar o partido em pé, inteiro, naquele momento tão difícil, em que a sociedade estava muito desconfiada por causa do impeachment da presidente, de tudo que ocorreu entorno disso. Em 2020, o Lula queria que eu fosse candidata. (...) A própria presidente Gleisi veio aqui para dizer: 'O Lula quer que você seja candidata em 2020'. Não era uma situação fácil para o PT, ele (Lula) tinha recém-saído (da prisão). Também foi muito difícil naquele momento. Fui cumprir missão duas vezes", disse Luizianne ao PontoPoder.

Com o PT novamente na crista da onda, no Ceará, está em xeque a articulação que o partido pretende fazer sobre a campanha em Fortaleza no próximo ano. A principal pressão está sobre a filiação do presidente da Assembleia Legislativa, Evandro Leitão, atualmente em processo de desfiliação do PDT.

Evandro é aliado dos principais líderes petistas no Estado, o governador, Elmano de Freitas, e o ministro da Educação, Camilo Santana. Tem ainda outros fiadores do partido, aliados no Legislativo. 

Ao antecipar o anúncio da pré-candidatura, Luizianne tenta materializar a discussão, com tempo para colocar suas cartas na mesa. A tal "missão cumprida" em 2016 e 2020 e o desprezo em 2004 não vão ficar fora dessa discussão. Vinte anos depois, saberá o PT administrar os interesses de diferentes aliados e lideranças? Aposto que não vamos demorar muito a saber, afinal, 2024 está bem ali.