Exclusivo: com prejuízo e baixa ocupação, Azul Conecta cancela voos no interior do Ceará
Quatro dos cinco voos regionais da Azul Conecta (subsidiária sub-regional da Azul Linhas Aéreas) para o interior do Ceará serão suspensos a partir da primeira quinzena de março, após dois anos e meio de operações. A companhia confirmou a informação com exclusividade para a Coluna.
O cancelamento dos voos da Conecta envolve as cidades de Sobral, Iguatu, Crateús e São Benedito. Apenas Jericoacoara (Cruz) manterá frequências com a subsidiária.
ERRAMOS (Atualização feita no dia 7 de janeiro às 20h47): Na primeira versão deste texto, a Coluna informou que todos os cinco voos da Azul Conecta no Estado haviam sido suspensos. A informação correta, de que foram descontinuados quatro dos cinco voos, foi incluída no texto ainda na noite desta terça-feira (6).
Segundo a Azul, fatores como o aumento “brutal de custos”, a subida forte do dólar e dificuldades com a cadeia de suprimentos aeronáuticos em todo o mundo foram decisivos para a decisão ora tomada.
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Os voos da Azul Conecta foram lançados no segundo semestre de 2022 em parceria com o governo do Ceará para o desenvolvimento da aviação regional e interiorização da aviação.
As rotas difundiram a aviação comercial regular por todas as regiões do Estado, enquanto rendia menores alíquotas de ICMS sobre querosene de aviação para a Azul Linhas Aéreas no Ceará.
Ocorre, porém, que as ocupações dos voos, conforme sempre noticiadas, eram baixíssimas, médias menores que 30%.
Os problemas pareceram visíveis quando a Azul informou o fim das operações em Aracati, que tinha as piores ocupações entre todas as cidades atendidas com voos regionais.
Com uma base a menos, não adiantou a Azul incrementar frequências de duas para três semanais, posicionar todos os voos diretos entre Fortaleza e o Interior (São Benedito, Sobral, Iguatu, Crateús) e ajustar os dias das frequências para segundas, quartas e sextas, dias mais apropriados para quem trabalha: as ocupações continuaram marginais.
As localidades não “compraram” as operações, seja por desconhecimento, por acreditarem ERRONEAMENTE que o Cessna Caravan pode não ser seguro, ou pelos preços serem maiores que os ônibus, quando compradas passagens com pouca antecedência.
Cesar Grandolfo, gerente de Relações Governamentais da Azul, explica que a companhia aérea chegou a ouvir os atores envolvidos do Interior para buscar aumentar a atratividade dos voos e fez ajustes na malha até em Fortaleza para melhorar as conexões para viagens nacionais. Porém, agora com o incremento de custos, a operação se inviabiliza totalmente: “as ocupações mesmo assim eram baixas, o que para o Cessna Caravan (aeronave) de 9 assentos significava operar com um passageiro numa perna e voltar vazio na outra”.
Contudo, a Azul informa que as análises são cíclicas e que por hora "trata-se apenas de suspensão": "num próximo ciclo, poderíamos reavaliar a situação dos voos", disse Grandolfo.
"O estado deu os benefícios, a Azul buscou melhorar o serviço, mas não se tornou algo sustentável, sobretudo com o cenário econômico atual", explicou a Azul.
Por hora, porém, a companhia informa que não haverá descontinuidades da Conecta em voos de estados como Paraíba e Pernambuco, que também não possuem grandes taxas de ocupação, mas eram regularmente maiores que as ocupações no Ceará.
Olhar para frente
A Coluna conversou também com Vitor Silva, gerente-geral de Malha, Planejamento Estratégico e Alianças da Azul. Segundo ele, já se iniciaram conversas com o novo titular da Secretaria de Turismo do Ceará (Setur/CE), Eduardo Bismarck e pode-se esperar a manutenção de conversas buscando novas oportunidades de voos para o Estado no segundo semestre.
“É do interesse da Azul trabalhar com o Ceará, é um estado amigo e imaginamos, por exemplo, que novas oportunidades de voos nacionais como as que existem com a Azul Viagens em estados como Alagoas, Pernambuco e Bahia podem se fortalecer. O Ceará é um estado parceiro, podemos buscar novos caminhos.”, disse Vitor Silva.
Fortaleza tem tido número interessante de voos semanais da Azul Viagens, sobretudo na alta estação com duas saídas semanais, por exemplo, para Uberlândia. Porém, são menos voos que vários estados do Nordeste.
A Azul tem historicamente a menor fatia de mercado do aeroporto de Fortaleza, atrás de Latam e Gol. Isso pode ser atribuída ao grande hub Azul em Recife que consolida muitos voos na capital pernambucana, tornando difícil o lançamento de mais voos em Fortaleza.
Apesar disso, o fim das operações com a Conecta no interior do Ceará abre oportunidades para a repactuação de descontos tributários para a Azul. Com as bases da Conecta, a alíquota paga pela companhia era de 7% sobre o querosene, ao invés de 20%, tarifa cheia.
Com a suspensão das bases Conecta, a companhia deverá perder todo o desconto no estado (inclusive da Azul) e é natural que novas rodadas de negociações ocorram.
Dado que a componente regional não logrou êxito, urge que a nova gestão da Setur corra com rodadas negociais para que a companhia aérea traga mais voos para Fortaleza, por exemplo, algo muito importante. Ou ainda, que busque a atração de voos nacionais para cidades como Sobral, que ainda não foi testada nacionalmente e possui bastante potencial.
Hoje, porém, o decreto que está vigente, o famigerado decreto 35.547, cobra que as companhias façam voos internacionais a partir de Fortaleza, algo que a Azul não parece estar disposta a ter novamente, sobretudo, porque sofre agora com grande aumento no dólar.
“É prematuro falar de voos internacionais, acredito que Fortaleza já atingiu uma boa quantidade de voos internacionais com outras companhias”, comentou Vitor Silva.
Sobre os Cessna Caravans que operam no Ceará, a Azul informou que eles deverão permanecer na frota e passarão por manutenções programadas, quando deverão ser remanejados nacionalmente.