Esquecimento ou Alzheimer? Saiba identificar os primeiros sinais e quando procurar ajuda
O transtorno, considerado a forma mais comum de demência, é um dos focos da campanha Fevereiro Roxo, que reforça a importância do diagnóstico precoce

Neste mês acontece a campanha Fevereiro Roxo, que destaca a importância do diagnóstico precoce de doenças graves, como o Alzheimer. A condição neurológica é a principal forma de demência no mundo, sendo marcada por sintomas como declínio de memória. Esquecer é um dos principais indícios do quadro, mas também algo comum ao envelhecer e em situações de estresse, então como diferenciá-lo dos primeiros sinais do transtorno?
O Ministério da Saúde define que essa é uma doença neurodegenerativa progressiva, sem cura e fatal. É caracterizada pela deterioração das funções cognitivas e pelo comprometimento gradual das atividades diárias, como o ato de engolir. Mais comum entre pessoas a partir dos 65 anos, ela pode se manifestar antes dessa idade, precocemente.
Com causa desconhecida, a condição pode ser influenciada por agentes genéticos, principalmente se acontecer na fase pré-senil (antes dos 65 anos), por fatores de risco (detalhados abaixo) ou pelo processo natural de envelhecimento.
À coluna, o médico psiquiatra Gilberto Sousa Alves, coordenador do Ambulatório de Demências do Hospital Nina Rodrigues (MA), explica que, além da memória, a doença afeta funções como linguagem, orientação espaço-temporal, planejamento e organização. Apresentar problemas nessas áreas, sem uma causa aparente, pode ser um alerta.
“O diagnóstico de demência deve ser sempre considerado quando o indivíduo tem dificuldades, por exemplo, no manejo do que chamamos das atividades instrumentais da vida diária, que seriam aquelas atividades mais complexas, como, por exemplo, pagar uma conta do banco, organizar a vida financeira, marcar uma consulta com o médico, dirigir.”
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Esquecimento ou Alzheimer? Entenda as diferenças
Um estudo científico, publicado ano passado no The New England Journal of Medicine, descobriu que alterações biológicas causadas pelo transtorno podem ser detectadas até 18 anos antes do início dos sintomas. Para esta fase não é necessário intervenção médica e nem possui tratamento, conforme destaca o médico Adalberto Studart Neto, coordenador do Departamento Científico de Neurologia Cognitiva e do Envelhecimento, da Academia Brasileira de Neurologia (ABN).
Além dela, há outras duas; uma caracterizada por sintomas leves, mas que não prejudicam a autonomia do paciente; e a terceira, que é quando começa o quadro de demência — inicialmente leve e progredido para avançado, estágio no qual o indivíduo perde completamente a independência.
O neurologista explica que nessa última fase o paciente apresenta os principais sintomas do Alzheimer, como dificuldade de memória, de raciocínio, de atenção, de fala, e alterações do comportamento, ficando mais apático ou, então, agitado, irritado e agressivo. No entanto, é importante ressaltar que alguns desses comportamentos podem ser causados por outros fatores, diferentes da doença.
A partir da conversa com os especialistas, a coluna elaborou uma tabela diferenciando esquecimentos comuns de possíveis sinais de alerta. Confira:
SINTOMA | ESQUECIMENTO COMUM | PODE SER ALZHEIMER |
---|---|---|
Falhas de memória | Esquecer nomes ou compromissos, mas lembrar depois. | Esquecer informações recentes e não conseguir recuperar. |
Repetição de fala | Repetir histórias e perguntas, mas perceber quando alertado. | Perguntar ou contar a mesma coisa várias vezes no mesmo dia, sem notar. |
Dificuldade com palavras | Demorar para lembrar, mas recuperar a palavra. | Trocar ou esquecer palavras simples e usar termos genéricos como "coisa". |
Desorientação em locais | Se confundir em lugares novos, mas conseguir se orientar. | Se perder em locais familiares e não saber voltar para casa. |
Dificuldade financeira | Atrasar pagamentos ocasionalmente, mas perceber e corrigir. | Esquecer contas recorrentes e ter dificuldades para administrar dinheiro. |
Tomada de decisões | Hesitar, mas conseguir analisar opções. | Esquecer contas recorrentes e ter dificuldades para administrar dinheiro. |
Dificuldade com tarefas diárias | Demorar mais para realizar algumas tarefas, mas finalizar. | Perder a autonomia para atividades básicas como cozinhar, se vestir e higiene pessoal. |
Confusão com tempo | Esquecer o dia da semana, mas se corrigir. | Confundir datas, horários e eventos frequentes. |
Quando procurar um médico
Studart destaca que o indivíduo deve procurar um especialista quando ele, ou seus familiares, identificar que está apresentando problemas de memória frequentes e progressivos, principalmente se tiver idade a partir dos 65 anos.
A dificuldade de memória é algo que o idoso saudável também pode ter, mas ela é eventual, não é intensa, a pessoa consegue realizar todas as atividades normalmente. Já a pessoa que começa a ter uma dificuldade mais constante, que vai piorando, que, por exemplo, tem dificuldade de lembrar compromissos, caminhos, às vezes se perde num caminho mais diferente, deve procurar um médico."
Já Alves lembra que além dos esquecimentos, há outros sinais, relacionados a mudanças de comportamento, que podem indicar a necessidade de procurar ajuda. “Deve-se considerar a necessidade de avaliação cognitiva até naqueles casos em que os primeiros sintomas ocorridos no indivíduo não são propriamente da cognição, da memória, mas, sim, psiquiátricos, como, por exemplo, desenvolver depressão, isolamento, uma indiferença em relação a problemas da vida.”
Neurologistas, geriatras e psicogeriatras são os especialistas mais indicados para atender pacientes com suspeita de demência, explica o coordenador da ABN. “A gente sempre orienta que médicos de outras áreas, se perceber que os pacientes estão declinando [a memória], encaminhem eles para uma avaliação. [...] Porque não é uma avaliação só de exames, tem que fazer uma avaliação cognitiva, entender se aquele sintoma é realmente de uma doença degenerativa, como Alzheimer.”
Como prevenir Alzheimer: dicas e fatores de risco
Um estudo publicado no periódico especializado The Lancet aponta que o crescimento populacional e o envelhecimento quase triplicarão os casos de demência até 2050. No Brasil, o Ministério da Saúde estima que 8,5% da população com 60 anos ou mais convivem com o diagnóstico.
Com a tendência ao aumento da quantidade de pessoas diagnosticadas com transtornos neurodegenerativos, como o Alzheimer, os especialistas destacam que algumas mudanças no estilo de vida podem evitar até 45% dos casos de demência, que não estão relacionados a agentes genéticos.
Ano passado, uma pesquisa, também divulgada pelo The Lancet, destacou que há 14 fatores, como educação, perda auditiva, hipertensão, obesidade, depressão e isolamento social, que podem aumentar o risco para desenvolvimento de demência. São eles:
- baixa escolaridade na infância aumenta chances em 5%;
- perda auditiva na vida adulta eleva risco em 7%;
- colesterol LDL alto, também conhecido como colesterol ruim, sobe em 7%;
- depressão na vida adulta aumenta chances em 3%;
- traumatismo craniano na meia-idade pode elevar risco em 3%;
- sedentarismo sobe chances em 2%;
- diabete eleva em 2%;
- fumar aumenta chances em 2%;
- hipertensão sobe risco em 2%;
- obesidade eleva chances em 1%;
- consumo excessivo de álcool sobe chances em 1%;
- isolamento social na terceira idade aumenta chances em 5%;
- poluição do ar aumenta risco em 3%;
- perda visual eleva chances em 2%.
Atuar na reversão desses fatores de risco podem influenciar, inclusive, no tratamento de pacientes já diagnosticados com Alzheimer, nas fases iniciais, contribuindo para a melhora da qualidade de vida dele e de cuidadores.
“Você pega um paciente com comprometimento cognitivo leve, orienta fazer atividade física com frequência regular, três vezes por semana, 30 minutos; faz treino de memória ou reabilitação cognitiva; melhora a alimentação; trata outras doenças que podem agravar a cognição. Isso também pode deixar essa pessoa mais tempo nessa fase da pré-demência”, explica Studart.
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Alimentação
A nutricionista Jamile Sarmento destaca que uma alimentação saudável também pode favorecer a prevenção e o tratamento do transtorno neurodegenerativo. Por exemplo, consumir itens ricos em fibras probióticas auxilia no equilíbrio da microbiota intestinal, evitando o excesso de bactérias inflamatórias no corpo e a elevação da produção de substâncias tóxicas no organismo.
Insumos como kombucha, kefir, iogurte natural, chucrute contribuem para equilibrar a flora intestinal, assim como aveia, alho, cebola, banana-verde, ao alimentarem os microrganismos considerados benéficos. "Reduzir alimentos inflamatórios, como açúcar e ultraprocessados, também pode contribuir para evitar o 'intestino permeável', que contribui para inflamações cerebrais", explica a especialista.
Se manter hidratado é outra dica destacada por Sarmento, que detalha que a desidratação crônica pode impactar negativamente o funcionamento cerebral. Ela aconselha que os indivíduos, principalmente idosos, devem consumir a quantidade necessária de água por dia, ou então ingerir itens ricos em líquidos, como chás, sucos e frutas como melancia, pepino, laranja e abobrinha.
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