Papai Noel precisa voltar para o Natal. Faz duas, quase três décadas, que ele se foi da minha casa. O trenó tombou? Ele se perdeu pelo caminho? O caminhão de refrigerante enguiçou para sempre? Nada. Papai Noel deixou de frequentar a minha casa quando minha mãe, distraída, esqueceu de disfarçar a própria letra cursiva na carta que, todo ano, o bom velhinho enviava a mim e aos meus irmãos. "É a letra da minha mãe!", lembro de ter pensado, ao desvendar o maior enigma natalino de todos os tempos.
Não sei se ali acabou a magia que era avaliar como foi o ano, escolher o presente e escrever para o Papai Noel pedindo para que ele olhasse para as coisas boas que eu havia feito ao longo do ano. Na infância, a ansiedade de receber o presente era a mesma de receber a carta de resposta, na qual o bom velhinho justificava o presente que escolheu nos dar. Que privilégio!
Mesmo depois de descobrir que a autora das cartas na verdade era minha mãe, continuei achando aquela atitude mágica e especial. Digna de reprodução em todos os lares. Mas, como já sabíamos a tediosa verdade sobre o Papai Noel, as cartinhas desapareceram e seguimos a vida. Ele se foi. Acabou a magia? Depois que meu filho nasceu, pensei: já é hora de consertar o trenó do Papai Noel para que ele volte à nossa casa.
Corta cena estou em São Paulo para uma espécie de pré-Natal na casa de uma família genuinamente paulistana e numerosa. Que delícia é amar o Natal. Lá, pais de quatro filhos me prepararam: vai ter a hora dos presentes que o Papai Noel vai trazer. Eles vêm todos do mesmo lugar, em embalagens especiais e iguais.
Depois do jantar, batata! De repente, grandes sacolões vermelhos aparecem na sala, um para cada criança, repletos de presentes. O momento é tão mágico que até mesmo nós, adultos, temos a certeza de que Papai Noel existe. Ele escreve cartas, separa os presentes em enormes sacos vermelhos e se preocupa com cada pedido feito pelas crianças.
Papai Noel não tombou o trenó. É que ele existe em espírito. Está nas cartas que podem ser adotadas nos Correios todos os anos para fazer alguém feliz. Está nos velhinhos barbudos que se espalham pelos shoppings e ganham nossas fotografias. Está nas ruas, nos olhares solidários que lançamos ao próximo. Está nos natais fora de época, nas confraternizações que fazemos com os amigos. As minhas tradições de natal incluem amigo secreto de brigadeiro e rouba-rouba de presentes. E as tuas?
Não deixem o Papai Noel ir embora, pelo amor de Deus. Abram a porta para ele voltar. Coloquem meia na janela, escrevam cartas, montem a árvore de Natal.
Dêem uma volta pelo Natal de Luz de Fortaleza. Se for de igreja, reze. Agradeça pelas coisas boas e faça um pacto consigo mesmo para ser cada dia melhor. Seja um pouco Papai Noel: exista! Segure o bom velhinho que é para ele voltar. Que a magia do Natal nunca se apague em nós.