Legalmente PAIdrasto

Na semana do Dia dos Pais, Washington Santos Júnior conquistou na Justiça o reconhecimento da paternidade socioafetiva do enteado Davi

Legenda: O amor entre Washington e Davi mostra que famílias têm muitas formas de se reconfigurar
Foto: Arquivo pessoal

Quando o mecânico de helicópteros Washington Santos Júnior, de 49 anos, conheceu Davi, já era pai de dois filhos. O menino apareceu na sua vida -junto com a irmã, Bruna- para ensiná-lo a ser padrasto, quando ele iniciou um relacionamento com a mãe Jacqueline Acioly. Não demorou para que eles estabelecessem ali uma relação de confiança mútua.

"Desde o meu primeiro contato com Davi, já havia ali, sinais de que não era uma coisa qualquer", rememora Washington. Fazia alguns meses que ele se relacionava à distância com Jacqueline numa ponte aérea São Paulo-Fortaleza. Até que mudou-se para a casa da namorada e passou a conviver full time com o enteado, na época com 7 anos.

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Segundo a mãe, as conversas, as brincadeiras, a interação, a forma que um entrava no mundo do outro foi algo que surpreendeu a todos. Washington se aproximou e se conectou, preocupado em mostrar que não estava ali para substituir ninguém. "É uma relação profunda, sólida e de muita confiança", define ela.

Davi sempre teve contato com o pai biológico, com quem costuma conversar frequentemente. Mas a relação com o padrasto abriu caminho para outras formas de paternar. E mostra que o amor e as famílias têm muitas formas de se reconfigurar. "Para todos que nos conhecem desde então, sempre fomos pai e filho", conta Washington.

Não carecia de papel nenhum para atestar aquele amor, mas uma proposta de trabalho irrecusável levou aquela relação de paternidade informal pelo caminho da legalização. Washington recebeu uma proposta para um bom emprego fixo no exterior. Mas, para que ele e Jacqueline pudessem levar a criança, hoje com 11 anos, o vínculo precisaria ser reconhecido legalmente.

Por isso, eles foram à justiça cearense com a ajuda da advogada Alyne Aguiar para conseguir o reconhecimento da paternidade socioafetiva entre Washington e Davi, um elo criado pelo afeto e registrado na letra da lei para sempre. Como os outros filhos já são maiores e seguem suas vidas, o trio costuma estar sempre junto e não considerava a hipótese de se separar. 

padrasto, enteado e mãe
Legenda: A formalização do vínculo entre padrasto e enteado saiu na semana do Dia dos Pais
Foto: Arquivo Pessoal

"O processo todo demorou algo em torno de dois meses, e é muito criterioso, pois é irreversível. Mas no nosso caso, todos nós queríamos muito, então fomos em busca", conta Washington. Até o pai biológico apoiou a ideia, já que o filho poderá ter uma vida melhor fora do Brasil.

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A decisão judicial converteu Washington legalmente em uma espécie de PAIdrasto, e Davi ganhou mais um pai. A sentença veio num momento simbólico: a semana do Dia dos Pais. Mas não é a primeira vez que a vida lhe brinda nesta data: há muitos anos, um de seus filhos biológicos, Luan, também nasceu próximo ao segundo domingo de agosto. "O Dia dos Pais já era especial para mim, e é mais ainda agora", diz.

 "O processo em si já foi marcante, pois eu sempre tive o Davi como um filho legítimo, e isso só veio legalizar essa relação. O resultado do processo foi emocionante, inclusive com a reação de minha mãe por ganhar mais um neto"
Washington Santos
paidrasto

Se a mãe Jacqueline alguma vez já blindou os filhos em algum momento do relacionamento, hoje está certa de que a forma que o marido vê a paternidade foi peça fundamental para que a relação com ela prosperasse. "Foi assim que o Washington apareceu: com cuidado, respeitando meu momento, entendendo minhas aflições e entrando com delicadeza na minha vida e na vida de meus filhos", celebra.

Ela conta que a paternidade socioafetiva partiu de uma necessidade, mas tomou uma proporção emocional que ninguém imaginava. "Nosso conceito de relacionamento – seja de casal, seja de pai e filho - vai muito além de qualquer documento", diz. Durante o processo, ela diz ter entendido que não era “apenas” um documento. E define: "É a concretização de uma relação profunda e amorosa entre pai e filho".