A magia da arte
Quem não conhece as fotografias, instalações artísticas ou filmes da artista belga Agnès Varda (1928 - 2019) nem imagina o que está perdendo. Parece ser uma frase retórica, mas é séria. Ela é uma personalidade marcante, com trabalhos diversificados e uma poética própria, que se expressa de diversas maneiras, que incluem da observação do cotidiano a questões existenciais.
O documentário "Varda por Agnès", dirigido por ela mesma, constitui uma excelente introdução ao seu trabalho, porque o viés que a artista adota é o de mergulhar em seu processo de desenvolvimento de uma linguagem diferenciada. Ela explica, nesse sentido, que se apoia, na construção de seu mundo visual, em três pilares: a inspiração, a criação e o ato de compartilhar com o público as suas obras.
Primeira mulher a receber, em 2017, um Oscar pelo conjunto da obra, a diretora, que foi membro do júri do Festival de Veneza, em 1983, e do Festival de Cannes, em 2005, desenvolveu um experimentalismo no qual se permite fundir propostas e linguagens.
Em fotografias plenas de humanidade, nos filmes experimentais e nas instalações em que se vale de recursos digitais e da proximidade com as pessoas que documenta, como ao captar o discurso de viúvas de uma região da França, ela consegue mostrar a densidade do universal no particular, como realiza em seu projeto sobre as praias que frequentou na vida, que inclui a fictícia "construção" de uma delas perto de sua casa.
O grande ensinamento do documentário está na coragem de Varda dar vazão às suas ideias. Isso impressiona porque, de uma maneira ou de outra, com muito, pouco ou nenhum apoio, seus projetos foram sendo realizados, o que inclui desde uma primeira realização cinematográfica praticamente sem experiência a este documentário, que constitui autêntica aula de como transformar intuições em criações que possam ser compartilhadas com todos.
Oscar D'Ambrosio
Doutor em Educação, Arte e História da Cultura