A temporada dos ventos no Ceará é aguardada com ansiedade porque o nosso clima e geografia são favoráveis. Julho abre a porta para a chegada dos ventos, mas é em agosto que se fala oficialmente em temporada. Nosso padrão climático garante boas condições de sol e vento todos os dias. E nem no melhor dos picos mundo afora, há constância como a nossa. Um bom exemplo é o Havaí: por lá, Mauí é a meca do windsurfe, e a alta temporada pode dar dias consecutivos de ventos e outros tantos sem ele. Outro fator relevante é a variação de mar. Há opções de praias tanto para iniciantes quanto para quem treina manobras e movimentos mais complexos.
Jericoacoara é reconhecida internacionalmente como um lugar perfeito para o velejo. Tanto que é fácil encontrar coachings estrangeiros com grupos de velejadores. Mathias Pinheiro, velejador cearense campeão mundial, sul-americano, brasileiro e vice-europeu de windsurfe, está sempre no Havaí no 1º semestre para treinar e acompanhar de perto o desenvolvimento de equipamentos. No 2º, volta para treinar "em casa".
Atento, Mathias criou o "Bewind", clínicas para velejadores de windsurfe de nível intermediário e avançado. "As pessoas se surpreendem quando comento sobre lugares perfeitos que temos, ficam interessadas em saber mais e se impressionam", explica ele.
O "Surfin Sem Fim" está na 7ª edição. Totalmente voltado para kitesurfistas, é especializado em "downwinds", rotas que conectam destinos e que são realizadas velejando. Em 2013, o projeto nasceu com apenas duas rotas e vem crescendo de forma consistente. Para este ano, estão previstas 32 kitetrips, das quais 24 dentro do Ceará ou que têm no Ceará a maior parte do seu trajeto. Há as básicas, com 30km, até a mais radical, com 1.000km. O conceito de downwinds se refinou ainda mais com a presença de campeões mundiais.
Um bom exemplo é o cabo-verdiano Mitu Monteiro. Ele é campeão mundial e vice por três vezes. Anualmente, seu tempo treinando no Ceará pode chegar a até dois meses na Praia do Preá. "O vento forte, o sol e as águas quentes, as estruturas que existem à beira- mar, a boa alimentação, o povo simples e receptivo, tudo isso confirma este lugar como único para o esporte", disse.
Os downwinds são cada vez mais comuns para os praticantes de kite, pois constituem um desafio maior. São feitos por grupos de amigos ou eventos especiais, como o Iron Macho (1.200km entre Rio Grande do Norte e Maranhão).
E apesar de o Governo do Ceará ainda não ter medições específicas do crescimento desse nicho, sabe-se que ano a ano é nítido o aumento de turistas com foco na "Temporada dos Ventos". Um bom referencial está no E-group, composto por pousadas como Rancho do Peixe e Vila Kalango, com guarderias e equipamentos para a prática esportiva. É esperado um aumento de 30% em suas ocupações para 2019 comparado a 2018.
Por tudo isso, em novembro, o Ceará receberá mais uma vez uma etapa do Campeonato Mundial de Kitesurf Strapless, da Liga Internacional, GKA. Denominado Ceará Kite Pro, nele são escolhidos os melhores do mundo em saltos e manobras. Ainda é aguardada a confirmação da etapa do Mundial de Freestyle.
Mercado
Set Teixeira é um talento local que se divide entre o Circuito Mundial e sua escola de kite. Na escola, sua demanda aumenta a cada ano. Seus professores são nativos e dão aula em português e inglês. "O meu objetivo é construir um kitecenter, com pousada e loja somadas à minha escola, gerando empregos e oportunidades através do esporte".
Carlos Mário Bêbê, tetracampeão mundial de kite, é considerado um ícone. Morador da Lagoa do Cauípe, está atento à comunidade à sua volta. "Tenho visto crianças muito talentosas, mas que estão em comunidades simples. Acredito que se recebermos apoio e investimento, veremos surgir grandes campeões, inclusive mundiais".
“O Ceará é uma Meca do esporte e isso está ecoando mundialmente. Quem veleja, algum dia, tem que vir pra cá. A temporada longa é perfeita. O litoral oferece lugares e possibilidades sem igual no mundo; por isso o velejador que conhece o Ceará, com certeza, volta. Eu mesmo, volto todos os anos”, chancela Guilly Brandão, tricampeão mundial de kitesurf e nove vezes campeão brasileiro, capitão desde as primeiras rotas do Surfin Sem Fim.