Afastado da presidência da CBF desde 7 de dezembro, Ednaldo Rodrigues não pretende voltar a concorrer ao cargo em nova eleição
A candidatura de Reinaldo Carneiro Bastos, presidente da Federação Paulista de Futebol (FPF), à presidência da CBF recebeu o apoio público de 30 clubes, entre eles Fortaleza e Ceará, e sete federações estaduais, por meio de um manifesto conjunto divulgado nesta sexta-feira. No texto, os signatários explicam que "outros clubes e federações preferiram não tornar seus votos públicos no momento", mas sinalizaram que também devem apoiar Reinaldo. O outro pré-candidato é Flávio Zveiter, ex-presidente do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD)
No caso dos times, o número de apoiadores declarados do presidente da FPF já representa a maioria das equipes aptas a votar, pois participam das eleições da CBF os 40 times integrantes das séries A e B do Brasileirão. Entre os clubes que estarão na elite em 2024, sete não assinaram: Flamengo, Botafogo, Grêmio, Vasco, Red Bull Bragantino, Vitória e Bahia. Um texto de John Textor, acionista majoritário da SAF botafoguense, foi publicado na quinta-feira dizendo que o clube não votaria "em bloco".
Apoio maciço
Os clubes da Série A que estão no manifesto, portanto, são Corinthians, Palmeiras, São Paulo, Atlético-MG, Cruzeiro, Fluminense, Internacional, Athletico-PR, Criciúma, Juventude, Atlético-GO, Cuiabá e Fortaleza. Rebaixado, o Santos também assinou o texto, assim como os demais paulistas da segunda divisão, caso de Botafogo de Ribeirão Preto, Novorizontino, Ponte Preta, Guarani, Mirassol e Ituano.
A lista de apoiadores entre os clubes da Série B também tem América, Amazonas, Chapecoense, Avaí, Ceará, Goiás, Operário Ferroviário, Sport e Vila Nova. Já as federações envolvidas, além da paulista, são as dos estados do Acre, Amapá, Mato Grosso, Paraná, Pernambuco, Rondônia e Tocantins.
Ao declarar a predileção por Reinaldo, o texto cita o histórico de banimentos e afastamentos recentes envolvendo o cargo de presidente da CBF, como ocorreu no dia 7 de dezembro com Ednaldo Rodrigues, por causa de irregularidades apontadas em sua eleição em 2022.
"As Oito Federações Estaduais e os 30 Clubes das Séries A e B do Campeonato Brasileiro aqui signatários se uniram e iniciam um movimento único e inédito. Estamos convictos de que o Futebol Brasileiro necessita de uma mudança efetiva, com um projeto moderno e ambicioso, e manifestamos, por meio desta carta, apoio público à eleição de Reinaldo Carneiro Bastos à presidência da CBF para o próximo ciclo", diz um trecho.
O comunicado também fala sobre a intervenção prometida pela Fifa e pela Conmebol, que enviarão representantes ao Brasil no início de janeiro para fiscalizar o processo eleitoral. "Nos colocamos à disposição da Fifa e da Conmebol, que, atentas, vêm ao Brasil no próximo mês para acompanhar o processo eleitoral que será realizado. Estaremos unidos para apoiar a lisura e transparência deste processo, para que o Futebol Brasileiro saia de uma vez por todas desta situação lamentável em que se encontra".
Além dos signatários acima, temos sinalizações de apoio de outros Clubes e Federações que preferem não tornar seus votos públicos no momento. As entidades aqui signatárias deste primeiro manifesto seguem em tratativas que visam ampliar este movimento, para que mais Federações e Clubes que acreditam neste projeto de resgate do Futebol Brasileiro participem desta mudança necessária.
Edinaldo não concorre
Afastado da presidência da CBF desde 7 de dezembro, Ednaldo Rodrigues não pretende voltar a concorrer ao cargo. Em sua primeira manifestação pública desde a destituição, o dirigente baiano disse aguardar os próximos desfechos judiciais para entender melhor se há viabilidade de retomar o mandato e garante que, caso o retorno não seja possível, está decidido a não participar de novas eleições, seja da votação prevista para janeiro, sob organização do interventor José Perdiz, ou para aquela que acontecerá em 2025, dentro do ciclo habitual de eleições da entidade.
"É preciso esperar a missão da Fifa e da Conmebol, e também as decisões da Justiça, para entender o cenário e ter alguma definição. Da minha parte, tenho conversado muito com minha família e assumi um compromisso: meu tempo de disputas eleitorais acabou", disse Ednaldo em entrevista à "Veja", ao ser questionado sobre sua visão a respeito do cenário político da CBF em meio à intervenção.
Nova eleição
A nova eleição da CBF se dá em razão de um processo que se arrastava por anos. Na eleição para presidente da CBF, cada clube das séries A e B tem direito a um voto, assim como as federações estaduais de futebol. Durante as últimas eleições, inclusive a de 2022, que colocou o agora destituído Ednaldo no poder, os votos das federações tiveram peso 3, contra pesos 2 e 1 dos clubes da primeira e segunda divisão, respectivamente.
Este sistema de divisão de pesos foi definido em uma assembleia em 2017, sem a participação dos clubes, o que feriu a Lei Pelé, por isso o Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) questionou o formato por meio de uma ação, movida em 2018.
Em julho de 2021, logo após o afastamento do então presidente Rogério Caboclo por causa de denúncias de assédio sexual - das quais o ex-mandatário foi inocentado pela Justiça -, foi determinado judicialmente que toda a diretoria eleita com Caboclo em 2017, de vices aos demais cargos, deveria ser destituída por ter sido escolhida sob as regras alteradas.
No início de agosto, Reinaldo Carneiro Bastos chegou a ser nomeado interventor da CBF, ao lado do presidente flamenguista Rodolfo Landim, mas a Justiça do Rio anulou a decisão. Dias depois, Ednaldo, então presidente da Federação Baiana, assumiu interinamente a presidência da CBF.
Antes de ser eleito oficialmente, em março de 2022, Ednaldo assinou um Termo de Ajustamento de Conduta, no qual se comprometia a rever o formato de votação, desta vez em uma assembleia realizada com presença dos clubes, que acabaram concordando em manter o valor dos pesos que causaram tanta polêmica. Algumas semanas depois, Ednaldo foi eleito, sem nenhuma chapa concorrente.
O problema que levou a destituição, contudo, não foi a manutenção dos pesos, mas uma reivindicação do ex-vice-presidente da CBF Gustavo Feijó, que defende que o acordo com o MPRJ beneficiou Ednaldo, uma vez que ainda era interino quando assinou o documento e foi eleito logo em seguida, sob as regras que ele mesmo homologou. Também é apontado o fato de o acordo ter sido celebrado apenas entre ele e um único promotor.
Atualmente, a CBF está sob comando de José Perdiz, presidente do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) e encarregado de realizar novas eleições até a segunda quinzena de janeiro. A votação não deve ocorrer antes de uma visita de membros da Fifa no dia 8 de janeiro. A entidade internacional reforçou, no último domingo, que não hesitará em sancionar a CBF, inclusive com suspensão, em caso de qualquer violação no processo de escolha de uma nova presidente.