Lula e Dilma vieram ao Ceará garantir o projeto
Por duas vezes, em seis anos, tanto Lula, quanto a presidente Dilma garantiram, cada um, a instalação da refinaria
O Ceará via-se em desprestígio diante da perda, após anos de disputa com Pernambuco, da primeira refinaria da Petrobras, após 30 anos sem investimento da empresa, em uma nova unidade de refino. A Refinaria do Nordeste (Rnest) ia para o estado vizinho, mas, diante de um rebuliço político criado, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou, em 2008, que os cearenses também seriam contemplados com uma das duas outras usinas que a estatal petrolífera planejava instalar.
> Estatal promete mitigar efeitos do fim de projetos
Daí, em agosto daquele ano, Lula veio ao Ceará para oficializar o anúncio da Premium II, assinando, juntamente com o governador Cid Gomes e o presidente da Petrobras, Sergio Gabrielli, um protocolo de entendimentos para a instalação do empreendimento do Estado.
Com pompa e circunstância, realizado no Complexo Industrial e Portuário do Pecém (Cipp), este foi o primeiro evento simbólico para a refinaria que contou com o chefe maior do Executivo nacional.
Início da novela
Na cerimônia de 2008, o presidente da República afirmou: "A refinaria do Ceará não é um projeto que pode ser, é um projeto que vai ser feito. Essa é uma decisão da diretoria da Petrobras e do Governo do Estado para que isso aconteça".
A plateia ovacionava e o Ceará se enchia de esperança e expectativa. Era a oficialização do início de uma grande novela. No dia seguinte, refletindo o peso do anúncio, a capa do Diário do Nordeste trazia a manchete: "Enfim, refinaria é do Ceará".
Naquela ocasião, foi definido que o início das obras seria em dezembro de 2009. Em dezembro de 2010, contudo, Lula voltou ao Ceará, nos últimos dias de seu segundo mandato, para lançar apenas o início das sondagens de terreno da unidade de refino e descerrar uma placa (também simbólica) do lançamento da pedra fundamental do empreendimento. "E, quando a gente pensa que vai inaugurar, ela (a refinaria) nem começou", desabafou, em seu discurso.
E reafirmou que, apesar dos atrasos, o compromisso com a refinaria seria cumprido: "Política não é feita apenas de realizações, política também é feita de gestos. E eu precisava fazer este gesto de voltar ao Ceará para poder assumir com o governador Cid, com o companheiro Gabrielli, com o povo do Ceará e com o povo do Brasil o compromisso final de que o Ceará, finalmente, terá a tão sonhada refinaria, que tanta gente prometeu e que não conseguiu fazer".
O compromisso passou para sua sucessora, Dilma Rousseff. Em abril de 2013, a presidenta veio ao Ceará para anunciar uma série de medidas para a seca e, entre elas, anunciou a doação do terreno de dois mil hectares no Cipp à Petrobras.
Em um momento tímido, encaixado na programação da chefe de Estado, o governador Cid Gomes e a nova presidente da estatal, Graça Foster, assinaram a escritura do terreno. Sem discursos. Sem entrevistas à imprensa cearense.
Desprestígio
E novembro do mesmo ano, Dilma voltou ao Estado para anunciar investimentos em mobilidade urbana e, na mesma cerimônia, chamou Foster para assinar o compromisso da Petrobras na instalação da reserva indígena Taba dos Anacé, dando fim a um impasse que durava quatro anos. "A decisão de instalar a refinaria Premium II, ela foi tomada. E hoje nós damos um passo", disse.
Ontem, o passo dado foi pra trás. O compromisso firmado pelos dois presidentes foi desfeito em apenas um comunicado, sem maiores esclarecimentos nem por parte da estatal nem, do governo federal. O Ceará continua desprestigiado. (SS)
Construção civil recebe cancelamento com decepção
A indústria da construção civil cearense recebeu com bastante decepção a decisão da Petrobras de encerrar os projetos de investimento para a implantação da refinaria Premium II, no município de Caucaia, situado na Região Metropolitana de Fortaleza, pois o setor teria participação direta na concretização do crescimento infraestrutural nos arredores do empreendimento.
O presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Ceará (Sinduscon-CE), André Montenegro, avalia que o anúncio da estatal representa um "prejuízo incalculável" para o Ceará, pois "uma refinaria dessas movimentaria o PIB (Produto Interno Bruto) cearense como um todo, traria renda, desenvolvimento".
O representante do Sinduscon-CE afirma que a construção civil teria papel bastante participativo no desenvolvimento econômico que a refinaria proporcionaria para Caucaia e municípios próximos, gerando a necessidade da construção de hospitais, residências, escolas e outras obras. "Nós, cearenses, não merecemos esse tipo de tratamento. Nós temos que lutar para que seja revista essa estratégia da Petrobras", defende Montenegro.
O presidente da Associação das Empresas de Construção Pesadas do Estado do Ceará (Aconpec), Dinalvo Diniz, também lamentou a decisão da estatal de interromper os investimentos para a Premium II.
"Essa não chega a ser uma grande surpresa para nós. Estivemos acompanhando a situação e sempre sentimos que não existia uma política firme de implantar a refinaria. Nós sabíamos que era algo muito distante", avalia. "Nós estivemos recentemente a refinaria de Pernambuco (Abreu e Lima) e vimos o que aquela região passou a ser. Seria algo bastante positivo para o nosso estado", acrescenta.
Maranhão repercute queda das refinarias
Enquanto o site da Petrobras continuava a divulgar a construção da refinaria Premium I no município de Bacabeira, no Maranhão, ontem, a imprensa do estado anunciava a desistência do projeto por parte da empresa.
No portal do jornal O Imparcial, a manchete ressalta o prejuízo de R$ 2,7 bilhões com as refinarias Premium I e II. No entanto, o veículo não cita a desistência dos projetos no Maranhão e Ceará por parte da Petrobras.
No portal G1 Maranhão a principal notícia destaca a desistência da companhia em relação às refinarias. A mesma notícia foi republicada na manchete do site Jornal Pequeno.
A matéria dos dois veículos trazia um gráfico citando os problemas enfrentados pela empresa petrolífera ao longo dos anos, que vão desde queda das ações, denúncias, falta de reajuste na gasolina, até a operação Lava Jato e dificuldades financeiras.
Previsão frustrada para este ano
Entre as promessas nascidas juntamente com a esperança trazida pela possível instalação da refinaria Premium II no Ceará, a geração de empregos estava entre a maior delas. Em 2010, a previsão era de 20 mil postos de trabalho diretos e indiretos no pico da construção, período estimado para este ano.
A previsão foi publicada na edição do dia 29 de dezembro de 2010 do Diário do Nordeste.
Na época, o então secretário de Infraestrutura do Ceará, Adail Fontenele ressaltou a criação de 126 escolas de ensino profissionalizante nos últimos quatro anos no Estado.
A expectativa também girava em torno da criação do Centro de Treinamento Técnico do Ceará (CTTC), a ser instalado no Pecém. O equipamento teria capacidade para treinar 12 mil pessoas anualmente.