Empresário Oto de Sá Cavalcante é homenageado com o Troféu Sereia de Ouro 2025
Já são seis décadas dedicadas à educação, mas quem vê o brilho nos olhos do empresário Oto de Sá Cavalcante, 79, ao falar sobre o tema, não duvida que ainda há muito por vir. Seja na sala de onde preside o Colégio Ari de Sá Cavalcante, nas dependências das cinco escolas em Fortaleza ou nos cômodos da casa onde mora, as dezenas de fotografias, livros inspiradores e recortes da trajetória profissional ilustram os principais pilares da vida do cearense: a educação e a família.
Os dois pontos se entrelaçam na biografia do primogênito do professor Ari de Sá Cavalcante (1918-1967), que herdou do pai o entusiasmo pelos estudos e pela leitura e desde 2001 dá seguimento ao seu legado, liderando a instituição de ensino que leva seu nome.
Nas últimas duas décadas, o Colégio Ari de Sá Cavalcante tem conquistado resultados importantes, que contribuem para o avanço da educação cearense. Em 2024, a instituição ocupou dois lugares no top 10 nacional de escolas com maior média no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). A sede da Major Facundo ficou na 4ª posição do ranking, com média geral 760,09, e a sede Mário Mamede em 7º lugar, com média 755,09.
A médica e pesquisadora Adriana Costa e Forti, a artista da tapeçaria Guiomar Marinho e o empresário e político Tasso Jereissati também recebem a comenda do Grupo Edson Queiroz (GEQ), na sexta-feira (26), no Ideal Clube.
A história de Oto como educador, no entanto, começou muito antes de sua trajetória como gestor, em agosto de 1964, quando o então estudante do curso de Engenharia Civil da Universidade Federal do Ceará tinha apenas 18 anos. A pedido do pai, tornou-se professor de matemática do Ginásio Farias Brito, instituição criada pelo professor Adualdo Batista em 1935 e dirigida pelo sócio Ari de Sá de 1941 a 1967.
“Acho que ele já estava plantando alguma coisa, pensando no futuro, e eu não”, lembra Oto. Com o falecimento precoce do patriarca, aos 49 anos, a mãe de Oto, professora Hildete de Sá Cavalcante, assumiu a administração da rede de ensino junto a família, e o primogênito, com apenas 21 anos, se viu obrigado a deixar a sonhada carreira na Engenharia Civil de lado – mesmo formando-se um ano depois, aos 22 anos – para se unir à diretoria.
O que começou como um desvio de percurso tornou-se, mais tarde, uma missão de vida. Os primeiros anos foram difíceis, mas pouco a pouco Oto encontrou na educação um propósito maior do que pensava encontrar na engenharia – talvez até maior do que o antigo sonho de jogar futebol profissionalmente, cultivado na infância. Decidiu que trabalharia para transformar vidas, assim como fez o pai.
“Foi um grande baque para nós, e eu tive que trabalhar no colégio por causa da morte do papai – de certo modo, para substituí-lo, junto com a nossa família. Nós ficamos trabalhando com o nosso sócio, e aí me apaixonei”, lembra. “Hoje eu tenho um prazer imenso em trabalhar com a educação. A educação é o serviço mais nobre que existe, porque ela forma todo mundo, ela forma todos os profissionais”, completa.
Mais que um gestor, Oto se apresenta como um entusiasta da educação, carreira que o projetou como empresário de sucesso e transformou o Colégio Ari de Sá em referência nacional de ensino. “Hoje eu não consigo me imaginar fazendo outra coisa. A atividade educacional realmente é fascinante”, conclui.
Sempre digo que você tem que ser feliz na família e no trabalho. Só um dos dois fica ruim. Então, se você é feliz da família, ótimo; mas se realize também profissionalmente. Nós precisamos dessas duas realizações, são dois pilares da vida, essenciais.”
Casado com Margarida Maria Porto Soares de Sá Cavalcante, pai de cinco filhos e avô de sete netos, hoje Oto compartilha com os familiares parte da rotina à frente de um dos maiores grupos de ensino do Nordeste – a esposa e o filho mais velho, Ari Neto, também trabalham na condução dos negócios da família.
Cada um a seu modo, todos relatam a admiração pelo empresário e, mais ainda, pelo pai e avô amoroso e presente – e reverenciam uma história que começou em 27 de maio de 1946.
Legado na educação
É impossível contar a história de Oto de Sá Cavalcante sem também elencar os principais feitos de seu pai, Ari de Sá Cavalcante, que o empresário considera como “estruturante” em sua vida. Para Oto, perdê-lo na juventude não reduziu em nada o sentimento e responsabilidade que sentia para com ele; pelo contrário, pareceu ampliá-los de forma exponencial.
Nascido em agosto de 1918 em Jucás, no interior do Ceará, Ari de Sá teve uma infância pobre e encontrou nos estudos uma forma de conseguir uma vida melhor. A dedicação incessante fez com que se tornasse professor no Colégio Militar do Ceará e, depois, professor e diretor de escolas particulares e da Faculdade Estadual de Ciências Econômicas do Estado.
Na juventude, a visão da educação como farol e a disciplina de Ari de Sá se tornaram valores fundamentais para Oto, o primeiro filho do casamento com a professora Hildete de Sá Cavalcante. Mais do que isso, a certeza de que os pais acreditavam no seu potencial e no seu futuro foram determinantes para que o jovem Oto se dedicasse aos estudos e realizasse o sonho de entrar na faculdade de engenharia – um sonho herdado, que o próprio Ari não conseguiu realizar.
“Entrei no vestibular com 17 anos, o mais novo da turma, por causa dele”, lembra Oto, orgulhoso. O estímulo, por vezes, vinha na forma de provocação ou de brincadeira. Dedicado, Ari esperava que os filhos estudassem e se dedicassem à leitura mesmo no tempo livre, para obter os melhores resultados.
Mas, acima da rigidez, existia a confiança de que eles tinham capacidade para realizar grandes feitos, algo que Oto levou não só para a criação de seus filhos, mas também para a base das escolas que administra.
“Acredite nos seus filhos. Se você tiver convicção que eles vão dar certo, eles vão dar certo. Agora, quando você tem convicção que vai dar certo, você faz um bocado de coisa para dar certo. Você não fica só parado, ‘eu acredito, eu acredito’ não”, aconselha.
Recomeço
A continuidade do legado do pai, inicialmente tocado na gestão do Colégio Farias Brito, junto à família, ganhou novo capítulo no fim de 2000, quando Hildete faleceu e a instituição de ensino foi dividida em dois grupos. Enquanto o Farias Brito manteve a marca original, coube a Oto de Sá a missão de recomeçar e criar um novo colégio.
Oto não teve dúvidas: nomearia a nova instituição em homenagem ao pai, não só pelo afeto familiar, “mas porque ele foi um educador, modéstia à parte, espetacular”. “É muito desagradável, eu diria, colocar no nome de um colégio uma pessoa que não tem nada a ver com a educação. No nosso caso, não. O meu pai era um educador, era um professor, era um intelectual, era um homem apaixonado pela leitura”, destaca.
Mesmo com estrutura física, percorrer o novo caminho foi “muito desafiador”. Era preciso conquistar clientes, construir uma marca quase do zero e enfrentar a desconfiança dos alunos e pais. Mas não levou muito tempo para que Oto se reerguesse. O primeiro passo foi cativar o público interno. Depois, reforçar laços com a comunidade escolar. Então, dedicar-se intensamente ao projeto de sua vida.
“Acho que, quando você trabalha com seriedade, quando você trabalha entusiasmado, a clientela acata aquilo muito bem, ela é receptiva. O mercado é cruel, e talvez deva ser mesmo, mas a clientela é muito bem intencionada”, pontua. “Então, nós trabalhamos muito, de manhã, de tarde, de noite”, afirma.
Em 2004, o Colégio Ari de Sá deu início a uma nova fase, que o colocaria em destaque em todo o País: a criação do Sistema Ari de Sá de Ensino, hoje adotado em centenas de escolas brasileiras. Em 2015, o grupo passou a atuar no Ensino Superior, com a criação da Faculdade Ari de Sá (hoje UniAri – Centro Universitário).
Apoio na busca pela vocação
Liderando as operações que ajudam a definir o destino de milhares de crianças, adolescentes e jovens, Oto de Sá Cavalcante aprendeu lições valiosas. A maior delas talvez seja que o entusiasmo pode transformar o mundo, mas é preciso que cada um de nós encontre sua missão e aceite esse chamado – nem todo mundo precisa ser médico ou advogado, por exemplo, e é preciso que pais e escola caminhem juntos para que cada aluno consiga trilhar o melhor caminho, sua vocação.
“O ideal é que cada um de nós descubra a sua vocação, cada um de nós se entusiasme por fazer alguma coisa, cada um de nós faça alguma coisa bem feita. Faça alguma coisa bem feita e pronto, porque se você fizer achando ruim, se você fizer mal feito, você não vai ser um profissional brilhante”, pontua.
“Então, o que a gente mais deve estimular no jovem é isso: ele tem que ser competente, tem que ser instruído e aí ele escolhe a vocação dele. Mas ele é que tem que escolher, nem que o pai se frustre. Quem tem que ser feliz é ele”, completa.
O pensamento parte de uma profunda confiança e esperança na juventude. “O jovem, se você for conversar com ele e ele notar que você é bem intencionado, ele se abre para você. O adulto não, já tem uma dose de desconfiança muito grande”, aponta. “Mas o jovem é muito bom, ele precisa e ele quer ser ajudado. Quando você é sincero com ele, quando você é bem intencionado, ele dá uma boa resposta. É fascinante”, conta.
Amor pela literatura
Além das valiosas lições aprendidas com os pais e dos anos dedicados aos estudos e à gestão, há outro ponto que Oto considera um alicerce em sua formação: a leitura. Se na adolescência e no início da juventude não demonstrava interesse nenhum pela literatura, após a partida do pai sentiu que devia “pagar uma dívida que tinha com ele”, que muito o estimulava a explorar o mundo dos livros, e começar a ler.
“[Pensava] ‘eu tenho que ler para atender o papai’, aí me apaixonei. Porque é como uma academia: os primeiros dias são horríveis, né? Aí você faz, faz e daqui a pouco você fica dependente. Eu sou dependente da leitura. O meu pai cobrou isso de mim e eu fui devagarzinho, devagarzinho, devagarzinho, e me entusiasmei”, conta.
Adentrar a casa do empresário é também adentrar o mundo mágico dos livros. Em diferentes pontos da residência, estantes e outros móveis com diversos exemplares – principalmente biografias, um de seus gêneros literários favoritos – demonstram a paixão aprimorada ao longo dos anos. “Comecei a gostar da leitura porque quem lê vive muito mais. Você vive outras experiências, você aprende com a experiência dos outros”, comenta.
Essa paixão pela literatura também pode ser encontrada em pequenas doses nas mensagens espalhadas pelas escolas do grupo Ari de Sá. De frases de pensadores clássicos a citações de empresários de sucesso, com tom motivacional ou reflexivo, as pílulas de conhecimento servem tanto como uma pausa na rotina corrida como um estímulo à curiosidade dos alunos.
Para o empresário, é preciso, no entanto, ir além: incentivar a paixão pela literatura desde cedo e vê-la como parte fundamental da formação. “Acho que a gente tem que encontrar um jeito de estimular os jovens a ler. Agora a gente não pode pegar uma criança pequenininha e dar para ela ler o grande Machado de Assis. Não dá, ela não vai entender, não vai absorver nada e você vai perder o leitor”, aponta Oto.
“Então, você tem que encontrar uma leitura apropriada para a idade dele, apropriada para o interesse dele, e aí ele vai se desenvolver. Então, acho que o país que se preza tem muitos compromissos, mas o compromisso com a leitura é fundamental”, conclui.
Sereia de Ouro
Um dos destaques da educação e da gestão empresarial do Ceará, Oto de Sá Cavalcante destacou a emoção e a surpresa em ser agraciado com o Troféu Sereia de Ouro pelas contribuições à educação do Estado.
“Sempre disse, e meus familiares sabem disso, que o prêmio mais sério que existe é o Sereia de Ouro. É o prêmio menos sujeito a influências. Então, receber o Sereia de Ouro é a maior homenagem que possa existir no Estado”, destaca. “Agora, acho que o Edson Queiroz queria cobrar da gente também. Eu estou lhe dando um prêmio, agora você trabalhe direito”, brinca, destacando a admiração pelo fundador do Grupo Edson Queiroz.
O empresário destaca que, no seu caso, a comenda é simbolicamente compartilhada, já que é fruto do trabalho do Colégio Ari de Sá e de toda a equipe que compõe a instituição. “A Sereia de Ouro não é só minha não. Talvez eu fique um pedacinho pequeno dela”, ri.
“Ela não pode homenagear muita gente, porque pelo critério dela, ela homenageia uma pessoa, aí tinha que ser eu. Mas o mais justo seria que todos fossem homenageados. Assim, eu gostaria de dizer que eles são os grandes responsáveis. Essa equipe que é vencedora”, ressalta.
A Comenda
Criado em 1971 pelo chanceler Edson Queiroz e por dona Yolanda Queiroz, o Troféu Sereia de Ouro é uma das mais tradicionais comendas do Ceará. Homenageia personalidades que se destacaram em diferentes setores de atuação, contribuindo para o desenvolvimento do Estado.
É concedido bienalmente pelo Grupo Edson Queiroz, em solenidade que será realizada na próxima sexta-feira (26), no Ideal Clube, com transmissão ao vivo pela TV Diário a partir das 20h.
A honraria já foi entregue a centenas de nomes, brilhantes em atividades públicas e privadas, e que seguem inspirando gerações.