Quem são Dom Phillips e Bruno Pereira e o que eles faziam na Amazônia?
Jornalista e indigenista foram mortos durante pesquisa para livro de britânico
As mortes do jornalista Dom Phillips, 58, e do indigenista Bruno Pereira, 41, repercutiram no mundo pela brutalidade do crime. Um trabalho de pesquisa para o livro do britânico, bem com a luta do brasileiro em defensa das terras indígenas, acabou trazendo novos holofotes para os problemas relacionados ao crime organizado na Amazônia.
Bruno Pereira era servidor da Funai
Bruno Perreira era servidor da Fundação Nacional do Índio (Funai) licenciado. Ele atuou como coordenador geral de índios isolado de recente contato. Por cerca de 10 anos, ele atuou na Terra Indígena Vale do Javari.
Uma das últimas operações com contribuição de Bruno aconteceu em 2019, quando ele ainda era coordenador de índios isolados. Várias incursões no território ajudou a mapear o crime e possibilitou a destruição de mais de 50 balsas de garimpo.
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Depois da operação, Bruno foi exonerado do cargo e ele acabou pedindo licença sem remuneração.
Após deixar o cargo público, Bruno foi convidado pela União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja). Ele ajudava a identificar e combater ameaças. Em 2020, ele denunciou a volta dos garimpeiros na região menos de um ano depois da operação.
Dom Phillips deixou o Reino Unido para morar no Brasil
Dom Phillips começou a carreira como jornalista cultural. Nos anos 1990, foi repórter e editor de uma revista de música eletrônica no Reino Unido. Em 2007, veio morar no Brasil colaborando com grandes veículos de notícias do mundo. Parte das matérias produzidas por ele eram voltadas para questões ambientais e problemas enfrentados pelas comunidades indígenas.
Em 2019, o britânico chegou a participar de um evento com Jair Bolsonaro sobre a preservação da Amazônia. No encontro, ele perguntou ao presidente: "Como o senhor presidente pretender convencer e mostrar para o mundo que realmente o governo tem uma preocupação séria com a Amazônia".
Jair Bolsonaro respondeu: "Primeiro, você tem que entender que a Amazônia e do Brasil e não de vocês".
Bruno e Dom ficaram próximos em expedição realizada em 2018
Alessandra Sampaio, esposa de Dom Phillips declarou, em entrevista ao Fantástico, que o britânico ficou próximo de Bruno em expedição realizada no ano de 2018.
Na última viagem dos dois, antes de serem mortos, Dom Phillips foi com Bruno para fazer entrevistas com lideranças indígenas e povos ribeirinhos para produção do livro "Como Salvar a Amazônia". Ao todo, quatro capítulos da obra estão escritos.
Últimos momentos de Bruno e Dom
No dia 1º de junho de 2022, o jornalista e o indigenista se encontram em Atalaia do Norte. Os dois passaram a viajar para realizar as entrevistas ao longo do rio Itaquaí. O ponto mais distante que eles chegaram foi o lago do Jaburu, quando retornaram.
No domingo (5), na volta para Atalaia do Norte, após entrevistas, eles pararam na comunidade São Rafael. Bruno teria um encontro com um líder comunitário conhecido por Churrasco, Manoel Samino da Costa. Em relato ao Fantástico, ele falou que ficou sabendo que eles passaram lá, mas no momento da visita, ele estava no lago.
Bruno e Dom saíram as 6h30 de São Rafael, com lancha nova e combustível suficiente para chegar até Atalia. A demora para chegar na base de apoio em Atalaia do Norte fez a Univaja ligar o alerta sobre o paredeiro deles.
Buscas
Bruno e Dom foram vistos pela última vez na comunidade São Rafael, a cerca de 2 horas de lancha da sede de Atalaia do Norte e próxima à Terra Indígena Vale do Javari. A reserva é palco de conflitos relacionados ao tráfico de drogas, roubo de madeira e garimpo ilegal.
A procura pelos dois teve início no próprio domingo do desaparecimento, dia 5 de junho, por integrantes da Univaja. Como não conseguiram localizá-los, acionaram as autoridades, que passaram a procurá-los a partir do dia seguinte.
As buscas envolveram o Exército, a Marinha, a Secretaria de Segurança Pública do Amazonas (SSP-AM) e a PF, além de cerca de cem indígenas voluntários.
Mortes com tiros
De acordo com o superintendente da PF, as investigações seguem em sigilo e não é possível dizer a motivação do crime. Ele afirmou ainda que Amarildo, em depoimento, relatou que matou os dois com disparos de arma de fogo, mas que apenas a perícia poderá dar certeza sobre a causa da morte.
Além de Amarildo, também está preso um irmão dele, Oseney da Costa de Oliveira, conhecido como "Dos Santos", mas, segundo a PF, ele não confessou envolvimento no caso. A participação no crime de uma terceira pessoa, citada por Amarildo, está sendo investigada e novas prisões não estão descartadas.
Os "remanescentes humanos" foram levados para o município de Atalaia do Norte no início da noite, em sacolas. De acordo com a Polícia Federal, eles foram ser encaminhados para perícia, em Brasília.