Família de motorista de aplicativo morto diz ter recebido vídeos com deboches do suspeito do crime
Matheus Campos Silva foi vítima de um atropelamento em São Paulo
A família de Matheus Campos Silva, de 21 anos, informou que recebeu vídeos zombando do jovem durante o enterro. O caso obteve grande repercussão após o suspeito, um motorista de aplicativo, gravar um vídeo falando "menos um fazendo o 'L'" (gesto utilizado por eleitores do presidente Lula, durante as eleições de 2022).
As informações são do Uol. Familiares receberam vídeos em que Matheus pede socorro e o motorista de aplicativo Christopher Gonçalves Rodrigues debocha do jovem. Matheus era suspeito de furto.
Paloma Campos Santiago e Talita Mayara, irmãs da vítima, afirmaram ao 5º DP, nessa quarta-feira (3), que os vídeos eram compartilhados em grupos de motoristas de aplicativo.
"Meu padrinho, que é motorista de aplicativo, recebeu nos grupos [o vídeo] do autor glorificando que tinha matado um assaltante. No começo eu não queria ver porque mostra meu irmão debaixo do carro, cheio de sangue e pedindo socorro. Eu não consegui ver mais.", disse Paloma Campos.
'Justiça com as próprias mãos não resolve nada'
A irmã também relatou que, caso o irmão estivesse furtando, ele deveria ser julgado pela Justiça e ser preso.
"O que o motorista fez foi horrível. Justiça com as próprias mãos não resolve nada. Ele matou o meu irmão. Não temos provas de que ele furtou o celular, mas isso não justifica. Não temos bandidos na família. Se ele tivesse roubado, iríamos agradecer pela prisão, para ele pagar pelo que ele fez", disse.
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Advogados da família
O advogado da família de Matheus, Walisson Silva, trabalha para indiciar Matheus por homicídio doloso, omissão de socorro e incitação ao ódio. Você julgar uma pessoa pelo furto de um celular, tirando a vida dela, é absurdo", explicou.
"Ele mata uma pessoa, nega que ela seja socorrida, ela fica agonizando e ele vai para as redes sociais vangloriar daquele fato covarde, trazendo um viés político. Isso leva a crer que foi um homicídio doloso (quando há intenção de matar)", explicou.
Investigações
A polícia trabalha para entender se o atropelamento foi intencional ou acidental. O delegado responsável pelo caso Percival Alcântara, titular do 5º DP, informou que os vídeos que incitam o crime serão analisados.
"Estamos levantando o máximo de provas possíveis porque não temos imagens [do circuito de segurança]. Também estamos apurando se ele prestou socorro ou se outra pessoa pediu", esclareceu.
Percival ainda informou que o motorista de aplicativo disse que o atropelamento foi acidental e ainda não apresentou um advogado para o caso.
Vítima do furto
A vítima do furto foi ouvida pela polícia para identificar ou não Matheus. "Mesmo se ele tivesse furtado e fugindo, isso não dá o direito de ninguém fazer justiça com as próprias mãos. Ninguém pode atropelar e matar uma pessoa porque ela estaria em fuga", explicou o delegado.
O delegado detalhou que a vítima de furto não conseguiu identificar o suspeito do crime contra ele. O intervalo entre o furto e o atropelamento teria sido de "dois a cinco segundos".
Conforme a testemunha, Matheus era o único que andava entre os veículos. O celular foi encontrado próximo ao corpo de Matheus.
Agentes da Guarda Civil de São Paulo (GCM) deverão ser ouvidos após o depoimento do motorista furtado. "Segundo o depoimento, no momento em que há o atropelamento, uma das testemunhas do carro sai e, junto com o Christopher, tentam parar uma ambulância, que não para porque já estava com um paciente. Depois eles tentam parar uma viatura da GCM e conseguem"
O que se sabe sobre o caso
Uma vítima de um furto, que registrou a ocorrência, afirma estar com as janelas abertas quando uma pessoa apareceu ao lado do veículo em que estava, pegou o celular dela e correu. Em seguida, ela disse ter avistado o mesmo indivíduo caído no chão após ter sido atropelado por Christopher.
O caso aconteceu no Viaduto Júlio de Mesquita, na Bela Vista, região central da capital paulista. Os investigadores buscam câmeras de seguranças próximas ao local e que possam ter registrado o atropelamento.
Testemunhas também devem auxiliar a apuração se houve ou não o crime de furto antes do incidente. Segundo o jornal Folha de S. Paulo, Matheus não possuía antecedentes criminais.