Escrivã encontrada morta denunciou assédio e agressão em áudios: 'virou a mesa em cima de mim'
Material está sendo analisado pela Polícia Civil, que instaurou procedimento administrativo disciplinar para apurar os fatos
A escrivã Rafaela Drumond, 31, encontrada morta no dia 9 de junho, relatou em áudios enviados a uma amiga em fevereiro deste ano episódios de assédio moral e sexual, perseguição, boicote e até uma tentativa de agressão física por parte de colegas de trabalho da Polícia Civil de Minas Gerais. As informações são do g1, que teve acesso às gravações.
Além dos áudios, um vídeo em que ela aparece sendo ofendida por um suposto colega está sendo periciado. O material está sendo analisado pela Polícia Civil.
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Em um dos áudios, a escrivã detalha o contexto do vídeo gravado por ela. Rafaela conta que se tratava de uma confraternização e, que após vários insultos, ele chegou a virar uma mesa contra ela, mas não a acertou.
"Sabe o que que ele pegou e fez? Virou a mesa em cima de mim, caiu cerveja na minha roupa, caiu [sic] os negócios que tavam na mesa na minha roupa. Na hora que acabou isso eu peguei meu telefone e comecei a gravar. Eu devia ter gravado desde o início", disse.
No áudio seguinte, Rafaela disse ter contado o episódio para o delegado e mostrado o vídeo. O superior perguntou se ela queria tomar alguma providência e ela disse que não, por receio de represálias na cidade.
"Não quis tomar providência porque ia me expor. Isso é Carandaí, cidade pequena. Com certeza ia se voltar contra quem? Contra a mulher. Eu deixei, prefiro abafar. Eu só não quero olhar na cara desse boçal nunca mais", narrou a escrivã.
Ainda segundo os relatos, Rafaela Drumond contou a colegas os problemas que vivia na unidade, mas foi aconselhada a esquecer: "Entra por um ouvido, sai pelo outro", disse em um dos áudios. No fim da gravação, ela ainda diz que sofreu um assédio sexual em 2022.
A escrivã era lotada em Carandaí e tentou conseguir uma transferência para a cidade de Conselheiro Lafaiete, na Região Central, fato que chegou ao conhecimento dos superiores.
A Polícia Civil disse que "objetos que guardam relação com a investigação" estão sendo periciados, como é o caso do celular dela, onde essas e outras trocas de mensagens estão armazenadas. O caso foi registrado como suicídio.
Procedimento administrativo
Além do inquérito investigativo, a Polícia Civil de Minas Gerais também instaurou um procedimento administrativo disciplinar para apurar os fatos. A instituição afirmou que "aguarda a finalização dos procedimentos de polícia judiciária para adoção das medidas legais cabíveis".
Rafaela foi encontrada morta pelos pais, e o caso foi registrado como suicídio. A Corregedoria da corporação apura as denúncias de assédio que teriam ocorrido na delegacia de Carandaí. Até o momento, ninguém foi suspenso.