Buscas por jornalista e indigenista desaparecidos são ampliadas na Amazônia

Funai informou que 15 servidores da fundação e da Força Nacional atuam nas buscas pela dupla que havia viajado para entrevistar indígenas

Escrito por Diário do Nordeste/AFP ,
montagem com bruno pereira e dom phillips, desaparecidos na amazônia
Legenda: Bruno Pereira e Dom Phillips estão desaparecidos desde este domingo (5)
Foto: Divulgação Funai/Reprodução Twitter

As autoridades brasileiras retomaram nesta terça-feira (7) as buscas pelo jornalista britânico e o indigenista desaparecidos desde domingo (5) no Vale do Javari, no Amazonas, após receber ameaças

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A Fundação Nacional do Índio (Funai) e a Força Nacional de Segurança Pública (FNSP), coordenada pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública, anunciaram que ampliaram as buscas. As informações são do G1.

A Funai informou que a operação tem 15 servidores no total.

Dom Phillips, de 57 anos, colaborador do jornal britânico The Guardian, desapareceu enquanto realizava uma investigação para um livro com o indigenista Bruno Pereira.

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Ameaças 

Os dois homens não são vistos desde a manhã de domingo. Eles haviam "recebido ameaças na semana [anterior] ao seu desaparecimento", revelou, em nota, a União das Organizações Indígenas do Vale do Javari (Univaja) e o Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas Isolados e Recentemente Contatados (OPI).

O Vale do Javari é uma região de difícil acesso, próxima à fronteira com o Peru e a Colômbia, e especialmente afetada pela presença de garimpeiros e madeireiros ilegais que exploram a região.

Após buscas iniciais sem sucesso, a Polícia Federal (PF) e a Marinha retomaram as operações nesta terça. A Marinha enviou um helicóptero, dois barcos e uma moto aquática para fazer buscas na área, segundo a imprensa da região.

O Governo, que expressou sua "grande preocupação", garantiu, em nota, que a PF está agindo "para localizá-los o quanto antes". Assegurou ainda que se for um ato criminoso, "tomará todas as medidas para levar os responsáveis à justiça".

'Uma aventura não recomendável', diz Bolsonaro 

O presidente Jair Bolsonaro, por sua vez, disse nesta terça que a expedição de ambos era uma "aventura não recomendável", e acrescentou que eles podem, inclusive, ter sido "executados".

"Realmente, duas pessoas apenas num barco, numa região daquela, completamente selvagem, é uma aventura que não é recomendável que se faça. Tudo pode acontecer. Pode ser um acidente, pode ser que eles tenham sido executados. Tudo pode acontecer", afirmou o presidente ao SBT News.

"A gente espera e pede a Deus que sejam encontrados brevemente. As Forças Armadas estão trabalhando com muito afinco na região", acrescentou Bolsonaro.

Denúncia de descaso

Nesta terça, organizações de defesa dos indígenas denunciaram descaso nas buscas pela dupla desaparecido, chamando o Governo Federal de "omisso". 

A nota foi assinada por Univaja, OPI, Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB) e Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB).

As entidades pedem "de maneira urgente uma ação eficaz de apuração dos fatos e de busca imediata" e ressalta que a cada hora que se passa a vida do indigenista e do jornalista inglês corram mais perigo. 

Últimos passos

Phillips e Pereira haviam viajado de barco até a localidade de Lago Jaburu e deveriam retornar à cidade de Atalaia do Norte na manhã de domingo. O objetivo era entrevistar indígenas.

Eles começaram a viagem de retorno no domingo de manhã, parando na comunidade de São Rafael, onde Pereira tinha marcado um encontro com um líder local. 

Como ele não apareceu, os dois homens seguiram para Atalaia do Norte. A última vez que foram vistos foi em São Gabriel, perto de São Rafael. 

"Eu tô entrando no mato amanhã. Daqui a uns 15 dias ou menos até eu tô por Atalaia do Norte. E chego dia 6", disse o indigenista em áudio sem data publicado nesta terça pelo jornal O Globo.

Phillips e Pereira viajavam em um barco novo com 70 litros de gasolina e usavam equipamentos de comunicação via satélite. 

Depoimentos 

A polícia colheu declarações, na segunda-feira, de duas pessoas que teriam sido as últimas a vê-los, confirmou à AFP uma fonte da PF.

Pereira, especialista da Funai, recebe regularmente ameaças de madeireiros e garimpeiros ilegais. Em um vídeo divulgado nas redes sociais, a irmã do jornalista, Sian Phillips, pediu "às autoridades brasileiras que façam todo o possível [...] O tempo é crucial".

"Sabíamos que era um lugar perigoso, mas Dom acreditava que era possível salvar a natureza e os indígenas", disse a irmã, que mora no Reino Unido, visivelmente angustiada.

Indígenas 

Phillips, que também colaborou com New York Times e Washington Post, é casado e mora no Brasil há cerca de 15 anos. 

Ele havia viajado com Pereira em 2018 para o Vale do Javari para escrever uma história para o Guardian. Nesta terra indígena vivem 6,3 mil indígenas de 26 grupos diferentes, 19 deles isolados, segundo a ONG Instituto Socioambiental. 

A violência nessa região, situado no oeste do Amazonas, aumentou nos últimos anos. A base local da Funai, instalada para proteger e auxiliar os indígenas, sofreu vários ataques desde o final de 2018, incluindo a morte a tiros em 2019 de um de seus funcionários.

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