'A mim o senhor não vai interromper', diz juiz a bombeiro no julgamento do caso boate Kiss
A testemunha foi a primeira a ser condenada criminalmente pela tragédia, por fraude processual, em 2015
A postura do juiz responsável pelo julgamento sobre o incêndio na boate Kiss, Orlando Faccini Neto, voltou a chamar a atenção dos espectadores que acompanhavam a sessão de terça-feira (7). Durante o depoimento do diretor do Departamento Administrativo do Corpo de Bombeiros Militar, Gerson da Rosa Pereira, o magistrado aumentou o tom de voz ao ser interrompido pela testemunha.
"A mim, o senhor não vai interromper", repetiu diversas vezes.
Gerson era chefe de Estado Maior dos bombeiros de Santa Maria na época do incêndio. Ele foi o primeiro a ser condenado criminalmente pela tragédia, por fraude processual, em 2015.
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A testemunha começou a responder os questionamentos do juiz antes das 15h. Ao ser indagado pelo Ministério Público, Gerson se mostrou incomodado com as perguntas, afirmando que as questões já eram objeto de inquérito policial e de processos judiciais, por isso não tinha "obrigação nenhuma de saber".
Faccini Neto repreendeu o bombeiro e disse que ele não estava dando o mesmo tratamento à promotora Lúcia Helena Callergari, do MP. "Todas as perguntas o senhor respondeu minimamente direcionando, quando menos, a cabeça para o interlocutor. Agora, a Dra Lúcia está fazendo perguntas e já é a segunda pergunta que o senhor não se dirige a ela e se dirige a mim. Vamos responder às perguntas, é simples", alegou.
O diretor continuou questionando o teor das perguntas feitas pela promotora, e o magistrado rebateu. "Eu não estou depreendendo nenhum constrangimento. É necessário compreender que o senhor tratou de diversas questões do âmbito técnico que podem não ser relacionados com suas funções quando outras pessoas lhe questionaram. Ela está tratando de temas similares que os demais arguentes trataram com o senhor. Acredito que as questões que ela está lhe fazendo o senhor está escolhendo [responder ou não]", disse Faccini Neto.
A interpelação seguiu por mais alguns minutos, mas, após a testemunha reclamar de cansaço, Faccini decidiu suspender a sessão por 1h para a janta. Ao todo, o depoimento durou cinco horas.