Milhares de russos são presos em protestos contra convocação de reservistas para a guerra
A ordem de convocar 300 mil reservistas faz parte dos esforços do Kremlin em aumentar o contingente das forças armadas do país na Guerra da Ucrânia
Já passa de 2 mil o número de pessoas presas em protestos contra o decreto de mobilização militar anunciado pelo presidente Vladimir Putin na Rússia. A ordem de convocar 300 mil reservistas faz parte dos esforços do Kremlin em aumentar o contingente das forças armadas do país na Guerra da Ucrânia. Moscou afirma que apenas 5.937 soldados russos morreram nos sete meses de conflito.
"Entendemos que a mobilização afetará muitas pessoas que não se importavam com a guerra e esperamos que isso possa se tornar um momento crucial", disse o ativista Timofey Martynenko, do movimento de oposição Vesna, ou Spring, um dos principais impulsionadores dos protestos. "O regime não vai parar de destruir a Ucrânia - e a Rússia também", completou.
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Segundo o monitor independente de direitos OVD-Info, da Rússia, a polícia deteve 750 pessoas no sábado, 24, e outras 1,4 mil já haviam sido detidas na quarta-feira, 21, dia do anúncio, por se manifestarem sem autorização.
Também na quarta-feira, muitos homens em idade militar correram para deixar o país, como mostram os voos lotados de saída e o forte fluxo de russos em países fronteiriços, como Cazaquistão, Mongólia ou Geórgia, onde 2.300 veículos particulares aguardavam para entrar neste sábado, segundo autoridades regionais russas.
Rússia promete corrigir 'erros'
As autoridades russas prometeram neste domingo, 25, corrigir os "erros" depois que idosos, doentes e estudantes foram incluídos na campanha de recrutamento lançada em todo o país.
Quando o presidente russo, Vladimir Putin, anunciou, na quarta-feira, 21, a mobilização parcial dos reservistas para ir à Ucrânia, disse que apenas pessoas com conhecimentos ou experiência militar "relevantes" seriam convocadas. Mas muitos expressaram indignação após casos, às vezes absurdos, de pessoas inaptas para servir.
Na região de Volgograd, no sudoeste da Rússia, um centro de treinamento enviou de volta para casa um militar aposentado de 63 anos diabético e com problemas neurológicos.
Na mesma região, o diretor de uma pequena escola rural, Alexander Faltin, de 58 anos, recebeu a convocação, apesar de não ter experiência militar.
Sua filha publicou um vídeo nas redes sociais que viralizou. Ele conseguiu voltar para a casa após a revisão de seus documentos, segundo a agência RIA Novosti.
A presidente do Senado, Valentina Matviyenko, pediu neste domingo atenção aos governadores, que supervisionam as campanhas de mobilização.
"Os erros de mobilização (...) estão provocando reações ferozes na sociedade, e com razão", disse no Telegram.
'Prejudicar a confiança'
Esses erros são novos exemplos dos problemas logísticos que ocorreram desde o início da ofensiva da Rússia contra a Ucrânia em fevereiro.
No sábado, 24, a Rússia anunciou a substituição de seu principal general encarregado da logística em meio a uma campanha de mobilização.
Embora as autoridades apresentem a mobilização de pessoas teoricamente isentas como casos isolados, suas declarações expressam uma forma de preocupação com a reação indignada de uma parte da população.
Valeriy Fadeev, presidente do conselho de direitos humanos do Kremlin, pediu ao ministro da Defesa, Serguei Shoigu, que "resolva urgentemente os problemas" para evitar "minar a confiança do povo".
Ele citou várias aberrações, como o recrutamento de 70 pais de famílias numerosas na região leste da Buriácia e de enfermeiras e parteiras sem formação militar.
Fadeev disse que todos foram convocados "sob a ameaça de julgamento criminal".
Ele também criticou aqueles que "distribuem as convocações às 2 da manhã, como se estivessem tomando todos como desertores".
Esses métodos estão criando "descontentamento", alertou.
Vários estudantes disseram à AFP que receberam ligações, apesar de as autoridades terem prometido que não seriam incluídos na campanha de mobilização.
Ainda no sábado, Putin assinou um decreto confirmando que estudantes de centros de formação profissional e ensino superior estariam isentos de mobilização.
Outra situação que gerou polêmica é o caso de manifestantes contra a ofensiva na Ucrânia que receberam ordens de mobilização enquanto detidos.
O Kremlin disse que nesses casos "não havia nada de ilegal".