Em meio à guerra, Putin assina independência de duas regiões da Ucrânia

Cerimônia que vai formalizar a anexação dos territórios à Rússia será nesta sexta-feira (30)

Escrito por Diário do Nordeste/AFP ,
vladimir putin
Legenda: Decretos publicados nesta quinta-feira por Putin reconheceram a independência de duas das regiões
Foto: Gavriil Grigorov/Sputnik/AFP

O presidente russo, Vladimir Putin, formalizará nesta sexta-feira (30), em uma cerimônia em Moscou, a anexação de territórios ucranianos à Rússia, um processo amplamente criticado pela comunidade internacional.

A Ucrânia, que tem o apoio dos países ocidentais, prometeu continuar com a contraofensiva iniciada há um mês, apesar das ameaças de Moscou de usar armas nucleares para proteger os territórios anexados.

Após referendos realizados de 23 a 27 de setembro, a cerimônia no Kremlin ratificará a anexação de quatro regiões da Ucrânia parcialmente controladas por Moscou: Donetsk e Luhansk, no leste; Kherson e Zaporizhzhia, no sul.

"Uma cerimônia de assinatura de acordos sobre a entrada de novos territórios na Federação da Rússia acontecerá amanhã (sexta-feira) às 15h (9h de Brasília) no Kremlin", afirmou o porta-voz da presidência russa, Dmitri Peskov. "Vladimir Putin pronunciará um discurso no evento", acrescentou.

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A capital russa prepara uma festa para celebrar a anexação das quatro regiões ucranianas, que acontecerá após a organização de "referendos" nas localidades.

As autoridades designadas pela Rússia nas quatro regiões ucranianas desembarcaram na quarta-feira (28) à noite em Moscou, segundo as agências de notícias russas.

Nesta quinta, o presidente Putin afirmou que os conflitos em países da antiga URSS, incluindo o da Ucrânia, são, "evidentemente",  o "resultado da queda da União Soviética".

Segundo ele, está-se formando, neste momento, "uma ordem mundial mais justa", por meio de um "processo difícil".

Em resposta à organização do evento, o presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, anunciou a realização de uma reunião "urgente", amanhã, de seu Conselho de Segurança Nacional. Longe de depor as armas, Kiev pede mais ajuda militar aos aliados para dar continuidade à contraofensiva nos territórios sob controle russo.

Um pedido ao qual o Senado dos Estados Unidos respondeu aprovando nesta quinta-feira um novo pacote de mais de US$ 12 bilhões, que inclui US$ 3 bilhões para armas, suprimentos e salários para o exército ucraniano.

Mesmo cenário da Crimeia

A Rússia acelerou o processo de anexação das regiões, após a grande contraofensiva de Kiev. A Ucrânia e os países ocidentais chamaram as votações de "farsas" e já afirmaram que não vão reconhecer a anexação dos territórios.

"Qualquer decisão de proceder à anexação das regiões ucranianas de Donesk, Lugansk, Kherson e Zaporizhzhia não terá qualquer valor legal e merece ser condenada (...) É uma escalada perigosa. Isso não tem lugar no mundo moderno", declarou o secretário-geral da ONU, António Guterres, nesta quinta.

O presidente americano, Joe Biden, prometeu nesta quinta-feira que "nunca, nunca, nunca" reconhecerá os resultados dos referendos "orquestrados pela Rússia" na Ucrânia.

Até a China, grande aliada da Rússia, pediu respeito à "integridade territorial de todos os países".

A Rússia segue o mesmo roteiro da anexação em 2014 da Crimeia, uma península do sul da Ucrânia, que também não foi reconhecida pela comunidade internacional.

A união dos territórios ucranianos representa uma escalada na ofensiva da Rússia.

Várias autoridades e analistas russos afirmaram que, quando estas áreas forem anexadas e consideradas por Moscou como parte de seu território, a Rússia poderá usar armas nucleares para "defendê-las".

Na semana passada, Putin declarou que a Rússia estava disposta a recorrer a "todos os meios" de seu arsenal para "defender" seu território.

Combates

Depois de recuperar grande parte do nordeste de seu território, a Ucrânia parece preparar uma operação para tentar reconquistar Lyman, cidade da região de Donetsk e importante centro ferroviário que o Exército russo controla desde maio.

As tropas ucranianas mantêm silêncio sobre as operações em curso, mas as autoridades separatistas na região já admitiram a dificuldade dos combates.

"O inimigo executa ataques para nos cercar", declarou Alexei Nikonorov, funcionário do governo de ocupação de Donetsk, a um canal russo. 

O Instituto para o Estudo da Guerra (ISW), um centro de pesquisas com sede nos Estados Unidos, destacou que "combates significativos" estão acontecendo na região. A reconquista de Lyman permitiria a Kiev avançar tanto na região de Donetsk como na vizinha Luhansk.

Ao mesmo tempo, as forças ucranianas recuperaram o controle da totalidade da cidade de Kupiansk, no nordeste, e expulsaram tropas russas da margem oriental do rio Oskil, constatou um repórter da AFP.

Os russos continuam bombardeando várias cidades ucranianas. Ao menos cinco civis morreram na parte sob controle ucraniano da região de Donetsk, e uma criança faleceu durante a noite em Dnipro (leste).

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