Taxa de transmissão da Covid-19 é mais baixa em crianças do que em adultos, indica estudo

Pesquisa sugere que crianças "não parecem ser a fonte" da infecção pelo coronavírus

Legenda: Pesquisadores ressaltam importância desenvolver diretrizes para a reabertura de escolas e estratégias de imunização
Foto: José Leomar

Um estudo conduzido por pesquisadores do Brasil e de outros países indica que crianças "não parecem ser a fonte da infecção" pelo coronavírus — elas, "mais frequentemente", adquiriram o vírus de pessoas adultas.

A prévia da pesquisa, publicada na revista Pediatrics, editada pela Sociedade Americana de Pediatria, aponta que os adultos "podem ter sido" os propagadores mais importantes devido à continuidade do trabalho fora de casa, o que predispôs exposição nos transportes e locais de trabalho. 

“A menos que essas crianças fossem portadoras do Sars-CoV-2 por um longo período, nossos resultados são compatíveis com a hipótese de que elas se infectam por contatos domiciliares, principalmente com seus pais ao invés de transmitir para eles”, diz o texto.

Como a pesquisa foi feita

O estudo captou testes de 667 pessoas em 259 casas da comunidade de Manguinhos, no Rio de Janeiro, entre maio e setembro de 2020. Ao todo, foram analisados:

  • 323 crianças (zero a 13 anos);
  • 54 adolescentes (14 a 19 anos);
  • 290 adultos.

A hipótese dos estudiosos era de que, se o coronavírus fosse transmitido principalmente de adultos e adolescentes para crianças, eles teriam anticorpos antes dos pequenos.

Os pesquisadores indicam que todas as 45 crianças que testaram positivo para o vírus no estudo tiveram contato com adultos ou adolescentes com sintomas da Covid-19. A infecção, inclusive, foi mais frequente em crianças com menos de um ano e entre 11 e 13 anos.

Se comparado com dados da cidade carioca, o estudo ainda destaca que um terço dos contatos domiciliares pesquisados fora exposto ao coronavírus por volta de agosto de 2020. A taxa, de 33%, é maior que a registrada na população geral da capital do Rio no mesmo período, com apenas 7,5%.

Inclusão em testes e imunização

O grupo de estudiosos defende que as crianças sejam incluídas nos ensaios clínicos de vacinas mesmo sem ser as principais fontes de infecção, pois, "se os adultos forem imunizados e as crianças não, elas podem continuar a perpetuar a epidemia".

Eles chamam a atenção de que, no caso de países como o Brasil, com alta incidência da Covid-19, a imunização deve chegar a no mínimo 85% da população para a pandemia ser contida.

“Nossas descobertas sugerem que em cenários como o estudado, escolas e creches poderiam potencialmente reabrir se medidas de segurança contra a Covid-19 fossem tomadas e os profissionais adequadamente imunizados”, aponta o texto.

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O estudo lembra que as crianças, em geral, seguem menos os protocolos sanitários e de distanciamento, o que motivou o fechamento de escolas de modo precoce em muitos países.

Após os resultados, os pesquisadores ressaltam que desenvolver diretrizes para a reabertura de escolas e estratégias de imunização é de "importância fundamental", particularmente em comunidades pobres, nas quais um número grande de pessoas vive sob o mesmo teto.

Detalhes da pesquisa

O estudo, realizado por pesquisadores da Fiocruz, da Universidade da Califórnia e da Escola de Medicina Tropical e Higiene de Londres, foi baseado no acompanhamento de crianças com menos de 14 anos que buscaram por atendimento no Centro de Saúde Escola Germano Sinval Faria, da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz), em Manguinhos.

Após isso, o segmento foi visitado em casa e submetido a testes de PCR e sorologia (IgG) junto aos demais moradores das residências.

Os autores do estudo frisam que os resultados são referentes ao local e ao período estudado, cenário distinto do atual — já que há novas variantes do vírus em circulação.