Cientistas brasileiros conseguiram registrar a primeira vocalização de uma serpente na América do Sul. Os pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) filmaram o "canto" emitido por um exemplar de Dipsas catesbyi, conhecida como cobra papa-lesma ou dormideira, nativa do continente sul-americano.
A descoberta, publicada na revista científica Acta Amazônia, na última semana, foi realizada pelos profissionais em junho de 2021, quando observavam o hábito típico da espécie de esconder a cabeça entre o corpo. Na ocasião, eles gravavam o comportamento de um pequeno macho, quando foram surpreendidos pela emissão do que classificaram como "grito".
VEJA A VOCALIZAÇÃO DA SERPENTE
Nas imagens, divulgadas pelo Projeto Suaçuboia — iniciativa fundada por parte dos cientistas envolvidos na pesquisa —, é possível observar o momento em que o animal emite um som semelhante aos produzidos por brinquedos infantis.
O canto [...] teve duração de 0,06 segundo, atingindo 3036 Hz em sua frequência de pico com nota modulada, emitida por meio da exalação de ar pela laringe. Nossa hipótese é que emissões vocais estruturadas como esta são uma reação a uma tentativa de predação e podem ser uma característica compartilhada por outras espécies de Dipsadidae e outras serpentes", detalharam no artigo.
Ainda conforme o projeto, outra tese dos profissionais é a de que a vocalização seja um resquício evolutivo de lagartos, grupo mais próximo ao da serpente e que possui um repertório vocal variado e estudado.
Esta foi a primeira vez que cientistas registraram uma vocalização na América Latina. Mas a habilidade de "canto" em cobras não é inédita no mundo, outras espécies de serpentes nativas de outros locais, como América do Norte e Ásia, já apresentaram esse tipo de comportamento, segundo o Projeto Suaçuboia.
"Entretanto, tivemos a honra de não apenas ouvir como também filmar este comportamento de forma inédita para uma espécia comum aqui no Brasil", finalizam.
A papa-lesma, também conhecida como cobra dormideira, é uma espécie encontrada na região da Amazônia e em áreas de transição entre o bioma e o Cerrado, conforme o Inpa.
"A descoberta tem potencial para revolucionar a herpetologia na região, ao mesmo tempo em que destaca a importância da conservação dessas espécies", afirma o instituto.