A estrutura do jantar oferecido a filiados do PSDB incluiu do forró à música eletrônica para empolgar correligionários, mas o tamanho do evento refletiu, indiretamente, dificuldade de atrair votos
A rápida passagem do governador de São Paulo, João Doria, por Fortaleza, na sexta-feira (5), cumpriu a expectativa do que era possível diante do cenário local desfavorável à campanha do paulista nas prévias do PSDB para a Presidência da República: as ausências se confirmaram, a principal delas a do senador Tasso Jereissati (PSDB), mas ele também levou na bagagem manifestações de apoio de parlamentares cearenses que, até então, não haviam declarado voto.
No Hotel Marina Park, a estrutura do jantar oferecido a filiados do PSDB incluiu do forró à música eletrônica para empolgar correligionários, mas o tamanho do evento, evidenciado pela quantidade de mesas e cadeiras no salão, foi desde o início proporcional à dificuldade de confirmar presenças.
Com cerca de 50 pessoas distribuídas entre as mesas, o argumento oficial foi de que, por se tratar de um jantar, a agenda na capital cearense seria, de fato, restrita a menos filiados, mas o retrato do salão evidenciou também o peso do posicionamento da cúpula tucana local - favorável ao governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, na disputa interna do partido - na mobilização pró-Doria por aqui. Ao Diário do Nordeste na quinta (4), o presidente estadual do PSDB, Luiz Pontes, informou nem sequer ter sido convidado ao jantar.
Entre lideranças de maior expressão, prestigiaram o governador paulista o deputado federal Danilo Forte, os deputados estaduais Nelinho e Fernanda Pessoa, o prefeito de Maracanaú, Roberto Pessoa, e o ex-governador Lúcio Alcântara. Além de Doria, apenas Danilo, responsável por viabilizar a agenda em Fortaleza, fez uso da palavra antes da entrevista coletiva concedida pelo candidato.
Ele reconheceu que a vinda de Doria foi precedida por “dificuldades políticas” e, ao exaltar Tasso como a maior liderança do PSDB no Ceará, não poupou-se de dizer que “era importante estar presente aqui”. Em outro momento de seu pronunciamento, Danilo afirmou que “o PSDB não pode viver dentro de uma redoma” e fez, ainda, manifestação direta de apoio a Doria: “o Brasil precisa de gente com a sua coragem”, apontou.
Roberto Pessoa esteve ao lado do governador paulista na noite, foi chamado por ele de “amigo”, mas não discursou. É, internamente, tido como voto pró-Eduardo.
Apoio garantido
Segundo tucanos presentes, além de Danilo Forte, outros dois nomes que vinham se colocando como “abertos ao diálogo” com todos os candidatos, sem cravar apoio público, fecharam voto no governador paulista: Fernanda Pessoa e Nelinho. A eles caberá, na reta final até o dia da votação, marcada para 21 de novembro, tentar mobilizar aliados em suas bases eleitorais para dar a Doria alguma fatia do tucanato local.
A tarefa não é nada fácil. Nenhum deles tem tanta identificação histórica com a legenda quanto Tasso, que já na quinta se mobilizou junto a prefeitos e vices para garantir votos a Eduardo Leite.
Mobilizar é desafio
O cadastramento de filiados para que estejam aptos a votar nas prévias é um desafio para ambos os lados. O PSDB contabiliza quase 50 mil filiados no Ceará, mas nem de longe é este o número em disputa.
Aliados de Doria dizem que farão chamamentos semelhantes para tentar conquistar votantes, mas neste ponto a cúpula tucana no Ceará parece mesmo estar um passo à frente: neste sábado (6), a executiva estadual do PSDB fará uma espécie de mutirão, na sede do partido em Fortaleza, para auxiliar aqueles filiados que queiram se cadastrar para a votação. Tasso também atuará na articulação de uma visita de Eduardo Leite a Fortaleza nas próximas semanas.
Enquanto isso, neste sábado (6), Doria dá continuidade à campanha em Salvador. No Ceará, entre tucanos, ficou a reverberação do discurso do governador paulista: inclusive a defesa de que, já que as prévias são tidas como exercício democrático, qualquer disputa interna deve se encerrar com elas.