Lockdown vai durar ainda mais se medidas forem desrespeitadas

Ninguém gosta de lockdown, mas quanto mais o decreto de isolamento for descumprido, mais vai durar a rigidez

Legenda: Só atividades essenciais devem funcionar no Ceará a partir de sábado (13)
Foto: Fabiane de Paula

Não existe fã de lockdown, acredite. Ninguém acorda, abre a janela e pensa, ao som do canto dos pássaros: "oh, mais um lindo dia sem poder sair de casa".

Nem mesmo os cientistas que defendem esta medida a apreciam. Idem para os prefeitos e governadores que a adotam. Reduzir a atividade econômica é impopular, reduz a arrecadação, eleva o desemprego. Submeter as pessoas ao isolamento, impedir visitas a entes queridos, principalmente após tanto tempo de pandemia, causa aflição, ansiedade, depressão, ataca a saúde mental.

Estas consequências lancinantes, sem dúvida, entram na conta das decisões como a anunciada pelo Governo do Estado ontem (11), de estender o isolamento social rígido a todo o Ceará e ampliar o prazo de vigência até o dia 21.

Contudo, prevalece o temor de não haver leitos para quem precisa, de não dar uma chance de sobrevivência a pacientes sem ar, de não conceder condições primárias para que os profissionais de saúde tenham o básico para trabalhar. Ninguém quer ver as cenas catastróficas de Manaus se repetirem.

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Por mais que haja um impacto econômico significativo (já abordei isso neste espaço), especialistas são quase unânimes ao enfatizar a necessidade de fechar logo para desafogar o sistema de saúde e, depois, reabrir com um pouco mais de tranquilidade. 

Inclusive, fica o questionamento: se a situação já estava em processo de deterioração não só em Fortaleza mas em todo o Estado, por que o lockdown da semana passada se deteve apenas à Capital?

Fórmula mais eficaz é vacina + lockdown

O recente lockdown de Portugal serve como exemplo de sucesso. Mas por lá, há uma diferença gritante: a vacinação está mais acelerada. A aliança entre vacinação e isolamento é o caminho mais célere para resolver de uma vez por todas a crise.

Nos Estados Unidos, há expectativa que, no início do segundo semestre, a vida esteja praticamente normal. Já por aqui, é difícil fazer projeção semelhante. O plano de vacinação nacional é atabalhoado, para usar um termo eufemístico.

Mas se tem um fator que deve alongar ainda mais o lockdown é o desreipeito a ele. Quanto mais gente circulando fora do que é permitido pelo decreto, mais o vírus se espalha, o que atrasa a recuperação dos números na saúde e, assim, deve obrigar o Estado a prorrogar as medidas rígidas e indigestas das quais todos nós já estamos saturados.

Alguns estão descumprindo para sobreviver, para garantir a substência. Há como julgar? Não.

Outros o fazem sem motivo oportuno, impelidos apenas por egoísmo, munidos por um ar de superioridade e inconsequência. Há como julgar? Sim.