Por estes dias, tenho pensado em Bill Murray. Mais especificamente, naquele clássico da Sessão da Tarde por ele estrelado: Feitiço do Tempo. No filme, Murray vive um repórter que fica literalmente preso no tempo, acordando várias vezes no mesmo dia. E que dia!
É mais ou menos esta a sensação neste novo-velho momento da pandemia, um constante déjà vu. Estamos encarcerados em 2020, um ano que teima em não findar. Mortes, muitas mortes, luto, internações, depressão, ansiedade, lockdown, auxílio emergencial, redução de jornada, desemprego. Até quando ficaremos reféns neste looping aterrorizante?
Nem todo o mundo está aprisionado neste conto que poderia ter sido criado por Stephen King. Há países que estão voltando à vida normal ou o mais próximo a que se pode chegar disso. Já há lugares em que shows são realizados com milhares de pessoas, como na Nova Zelândia e na China. E sem culpa.
Os Estados Unidos pretendem imunizar todos os adultos até o meio do ano. A Europa não deve ficar longe disso. Portugal, por exemplo, beirou o colapso no início do ano e, com a aceleração da vacinação e o lockdown, já é um dos lugares mais seguros do continente.
Prisioneiros da inépcia
Enquanto parte do mundo já está liberada para encontros, beijos, abraços e até aglomerações, o Brasil está fadado a este carrossel imparável de horrores, fruto de incompetência, negligência, falta de coordenação nacional, inércia na busca pela vacina por parte do Governo Federal nos momentos-chaves, menosprezo diário à crise sanitária por parte do presidente, desrespeito de parcela da população às medidas de contingência e muitos outros fatores.
Se mesmo para quem está saudável, empregado e com os entes queridos sadios, é angustiante assistir à repetição interminável deste caos, imagine aqueles que se encontram com a saúde debilitada, com parentes na UTI, sem falar nos desempregados e financeiramente desalentados.
Bill Murray conseguiu sair do dia que se repetia. E nós, quando deixaremos o ano infinito para trás?