Capitão Cleisson, da polêmica ao respeito por Fortaleza e Ceará
Liderança dentro e fora de campo, o ex-volante teve passagens marcantes pelos dois clubes cearenses
É comum ao longo da carreira de um atleta existir uma mudança de posição. É natural alguns jogadores começarem como volantes e terminarem como zagueiros ou meias, o tradicional "camisa 10" se transformar em terceiro volante ou atacante. Mas atacante que se transforma em volante? Atuando com excelência em todas as funções? O ex-jogador, com muitas histórias no futebol cearense, foi o entrevistado desta semana no podcast Bate-Papo com os Craques.
Cleisson iniciou a carreira como centroavante, sendo peça fundamental e essencial na conquista do título da Libertadores pelo Cruzeiro em 1997. Pouco tempo antes na conquista da Copa do Brasil em 1993, foi preciso recuar para ser um segundo atacante ou "camisa 10", porque estava surgindo um jovem promissor e que precisava de espaço como centroavante. Quem seria esse cara que fez Cleisson mudar de posição?
"Eu mudei a primeira vez de posição no Cruzeiro, né?! Para o Ronaldo Fenômeno... o Ronaldo, meu Deus do Céu! Ele chegou na Toca aos 15 anos. Era um fenômeno mesmo! A turma sabia que ia estourar. Então o treinador pediu para conversar comigo, dizendo que estava chegando um garoto aí. Sabia que eu estava bem, fazendo gol e disse que ia colocar o Ronaldo como atacante, mas não ia me tirar do time. Mas me propôs a recuar um pouco, para jogar de meia e eu: claro! Sou nem louco de disputar posição com Ronaldo!"
Chegada ao Ceará
Já experiente, atuando como volante, Cleisson recebe uma proposta para jogar no Ceará, em um momento turbulento do clube, onde iniciava a fase de reconstrução entre a saída da gestão Eugênio Rabelo, para chegada de Evandro Leitão. Porém, a reputação do clube ainda estava manchada no mercado, mas Lula Pereira foi fundamental para a chegada do atleta.
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"Minha ida foi exclusivamente através do saudoso Lula Pereira. Ele me ligou, com aquele vozeirão dele: 'Negão, tô precisando de você aqui. Tô treinando o Ceará e vou formar um time bom'. Eu não tinha informações boas do Ceará, então o Lulão falou: 'Negão, você confia em mim? Então aceite'. Quando cheguei, me assustei. A estrutura completamente diferente de hoje. Academia, por exemplo, parecia coisa de várzea! Ele me pedia calma e disse que o time estava se organizando. Cara, faltando dez dias para iniciar a Série B, só tinha dez jogadores! E eu reclamava: 'e aí, Lula?' Ele com vozeirão: 'calma, negão!'. Faltando três dias para começar a Série B, chegaram 10, 15 jogadores. Fizemos dois coletivos de apronto e estreamos contra o Juventude no Castelão, essa foi minha chegada".
O início com vitória diante do Juventude trazia uma nova possibilidade e realidade ao trabalho do Lula Pereira, que rapidamente se encaixou, alternando com Vavá, Ciel e Luiz Carlos. E principalmente, com destaque, liderança e sendo capitão, Cleisson.
"Nosso ataque era Luiz Carlos e Ciel, os caras no auge. Mas não era o Ciel de hoje, era aquele Ciel de 2008 que dava muito problema pra gente. O Lula falava pra mim direto, me pedindo para cuidar do Ciel e eu não queria ser babá de ninguém, mas o Lulão me pediu para ficar de olho nos caras. Graças a Deus, o Ceará fez uma campanha espetacular, quando tínhamos Ciel e Luiz Carlos no ataque. Era G-4 pra gente. Infelizmente, no segundo turno, quando precisou vender os dois, porque financeiramente não estava bem, tivemos uma queda de rendimento e não podia contratar ninguém. Se o Ciel e Luiz Carlos tivessem no Ceará, com certeza a gente teria subido"
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Chegada polêmica no Fortaleza
Cleisson jogou em 2008 no Ceará, no ano seguinte, acabou se transferindo para o Fortaleza. Mas um episódio pessoal na vida do jogador atrapalhou a renovação com alvinegro, houve um desentendimento com Evandro Leitão, onde não foi possível a renovação.
"Meu pai tinha falecido e eu estava sem cabeça para futebol, foi o episódio mais triste da minha vida. O Evandro queria renovar antes de eu ir para BH, mas deixei claro que não tinha condições de falar em renovação. Tive algumas discussões com Evandro e acabamos nos desentendendo. Eu não conhecia tão bem a história do futebol cearense e o Evandro estava com receio que eu fosse para o Fortaleza, mas eu não sabia disso. Bom, não renovei com Ceará e acabei indo para o América de Natal... joguei seis jogos pelo América e o telefone toca, era Luiz Carlos Imperador me chamando para jogar no Fortaleza. Então Renan Vieira me liga, disse que o América não liberava. Mas conversei com pessoal lá e para minha surpresa, os caras me liberaram."
Tricampeão cearense e com uma Série B promissora, foi o ano do rebaixamento, mas Cleisson não participou da campanha inteira, porque se aposentou antes de chegar à metade da competição.
"Conquistamos o estadual em cima do Ceará, estádio lotado, dia chuvoso, foi um momento fantástico. Havia um desgaste de Copa do Brasil contra Flamengo, final contra Ceará. Na época, eu era capitão do Fortaleza e todo problema era Cleisson que tinha que resolver. Reunia os caras e dizia: 'gente, não vamos beber hoje, não era hora pra beber'. Ainda bem que eles me respeitavam e me ouviam, não bebiam de jeito nenhum! Acho que joguei só sete ou nove jogos na Série B. Eu cheguei do nada para o Renan Vieira e disse que não dava mais, tinha perdido o encanto e pedi a saída, me aposentei. Tinha perdido a motivação. Ele fez de tudo para me convencer do contrário, mas eu já tinha decidido.