Entre os causos de 'verme' e 'salvador', a trajetória do técnico Heriberto da Cunha

Com passagens marcantes, título cearense conquistado, turbulências e polêmicas, treinador conta histórias de momentos importantes por Fortaleza e Ceará

Legenda: Heriberto da Cunha em conversa com diretor Evandro Leitão
Foto: Kiko SIlva

Amante do profissionalismo no futebol, treinador ou ex-treinador? Hoje, Heriberto da Cunha é vice-presidente do Pouso Alegre/MG, equipe do interior mineiro que disputa a primeira divisão estadual e estará na Copa do Brasil de 2022. Mas antes, como treinador, passou por momentos turbulentos no Ceará e no Fortaleza, onde teve divergências com dirigentes, pediu demissão, colecionou polêmicas, mas sempre buscando o profissionalismo nos dois clubes.

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No Ceará, livrou o time do rebaixamento à Série B em 2007 e ficou para o planejamento em 2008. Saiu do clube por problemas internos e pouco tempo depois apareceu no maior rival, Fortaleza, onde foi campeão estadual. Saiu, voltou e ajudou o clube a se livrar do rebaixamento à Série C. Heriberto colecionou momentos marcantes e mantém o carinho e o coração presente nos dois maiores clubes do estado, referências no futebol Nordestino.

"Um povo que me acolheu com muito carinho e respeito. Sou muito grato ao povo cearense. Tenho uma gratidão por todos os cearenses, principalmente pelo convívio que tive esses anos. Eu só tenho agradecimentos, a torcida maravilhosa, que sempre me apoiou e me recebeu bem. É natural, quando se sai de um clube para o outro, uma decepção. Mas sempre me respeitaram. Eu torço muito por eles e aqui no Sul de Minas tem um grande torcedor de Ceará e Fortaleza."

Crise e "verme" do Ceará

Heriberto esteve no alvinegro em 2007, quando ajudou o time a fugir do rebaixamento na Série B. Para o ano de 2008, apesar da crise interna e política, por conta da transição de comando de Eugênio Rabelo para Evandro Leitão, o Ceará perdeu grande base da Série B e começou o estadual com dificuldades, inclusive, sofrendo goleada na estreia para o Horizonte e sendo desclassificado para o Icasa na final do primeiro turno.

"Foi um momento de transição que acreditei nos diretores, que o Ceará poderia mudar e que as coisas mudariam, infelizmente não aconteceu. Teve saída de presidente. Foi um momento que prejudicou bastante e tinha tudo para montar um grande time para 2008, porque muitos jogadores de qualidade saíram naquele momento. No fim de 2007, contra a Ponte Preta, a gente só tinha 3 ou 4 jogadores no banco de reservas. Foi um momento de muita pressão no clube", relata Heriberto da Cunha.

Neste processo de reestruturação, o Ceará passou por muitos problemas internos no clube. Em uma coletiva de imprensa, a torcida 'invadiu' o treino do time, pegando Heriberto da Cunha de surpresa que, irritado com o fato, citou um "verme" dentro do clube. Alguns especularam que poderia ser Dimas Filgueiras, um dos maiores ídolos alvinegros, mas a resposta era para o, na época, diretor-executivo Henrique César.

"Momento muito triste, momento que nem gostaria mais de tocar naquilo. Foi coisa mandada, não foi uma atitude da torcida do Ceará. Foram alguns torcedores que tiveram apoio de outros diretores para tirar o presidente. Foi um momento de desequilíbrio e falta de respeito com clube, por isso o maior problema do Ceará não era em campo, era fora dele. Os portões estavam fechados e foram abertos para isso. O próprio segurança me falou isso, que um diretor pediu para abrir o portão e trazer uma pressão pra gente. Ele não pensou no clube, só no valor individual dele para querer tomar conta do clube. Não quero citar o nome, era uma pessoa que conversava muito comigo, tinha até uma certa amizade e aproximação forte com clube. Naquele momento, infelizmente ou felizmente, eu tive a coragem de falar e me prejudicar", esclareceu Heriberto da Cunha.

Polêmica saída do Ceará e chegada ao Fortaleza

Uma das grandes polêmicas envolvendo o treinador Heriberto da Cunha vem de 2008, quando ele pede para sair do Ceará, entrega o cargo após uma sucessão de desgastes internos e, logo depois, é anunciado pelo Fortaleza.

"Foi tudo muito rápido, por isso a torcida do Ceará e alguns dirigentes desconfiaram que eu tinha um acerto com Fortaleza. Mentira! Eu nunca conversei com ninguém do Fortaleza. Eu vim pegar minhas coisas para ir embora, mas não sei como, já sabiam, antes de ser divulgado, que eu estava de saída do Ceará e tinha entregado o cargo no vestiário. Dentro do hotel, mais de onze da noite, recebi um telefonema de dirigente do Fortaleza, no momento estava triste e chateado, mas não tinha condições de conversar, então fui embora para São Paulo. Então, ele continuou insistindo e me ligando. Então, acabei acertando e aceitando. E por ter sido muito rápido, eles pensaram que eu tinha traído o Ceará, mas não aconteceu nada disso. Eu não queria que tivesse sido dessa forma, mas precisava lidar com a minha decisão", relatou Heriberto da Cunha. 

Título estadual e projeção de Osvaldo

Heriberto da Cunha/treinador/Fortaleza
Legenda: Heriberto da Cunha no título estadual pelo Fortaleza em 2008
Foto: Kiko Silva

Heriberto da Cunha foi campeão estadual pelo Fortaleza em 2008. Viveu momentos turbulentos na Série B, onde saiu do clube e depois retornou para ajudar o clube a escapar do rebaixamento. Nessa época, é quando surge a grande projeção do ídolo e garoto Osvaldo no tricolor.

"Esse menino tem uma história maravilhosa. Eu cheguei no Fortaleza e já tinha visto o Osvaldo em um jogo que o Silas era treinador, mas ele me chamou atenção. Eu estava no Ceará ainda. Eu fiz o primeiro jogo e ele não tinha sido convocado para partida, então cheguei no vestiário e ele estava muito triste, então me falou sobre a perda da mãe dele e relatou que não ficaria no Fortaleza, pois seria emprestado a um time do interior. Então eu disse pra ele que não seria emprestado, que eu iria aproveitá-lo no time."