Ouça entrevista com Wellington Amorim, o 'artilheiro banguelo' do acesso do Ceará em 2009

Atacante viveu um dos momentos mais marcantes na carreira quando fez parte do time e elenco que levou o alvinegro, depois de 16 anos, à Série A do futebol basileiro

Legenda: Wellington Amorim comemorando gol pelo Ceará
Foto: Rodrigo Carvalho

Reconstrução, identidade e capacidade de decisão. Há muitos atributos para o elenco do Ceará que conseguiu o acesso em 2009 depois de 16 anos, momento histórico que marca a evolução do clube no contexto atual. Entre tantos nomes importantes e fundamentais, um dos atacantes Wellington Amorim fez parte da história principalmente como o "artilheiro do dente quebrado". 

"Cara... já passei por maus caminhos, mas esse aí e vou te falar... só não frustrou porque a emoção falou maior... ficar banguelo no acesso, cara! A gente ganhou da Ponte Preta e fomos para o hotel em Campinas, comemorando o tempo todo e eu estava atrás do Fabrício gritando e comemorando, então ele levantou o cotovelo e acabou quebrando meu dente na hora!. Falei com Jurandir (Júnior), que ele precisava arranjar um dentista em Campinas, ele correu atrás, mas não teve jeito. Tive que ficar banguelo no acesso". Conta com bom humor. 

Esse era o clima do grupo que conseguiu o acesso histórico em 2009, inclusive, todo elenco e comissão técnica possuem um grupo no whats app onde estão sempre em contato, mesmo 12 anos depois após o retorno do Ceará à primeira divisão do futebol brasileiro. Além de todos os atletas importantes da conquista, a união do elenco também fortaleceu a identidade com clube até hoje.

Wellington Amorim, Geraldo e Boiadeiro
Legenda: Wellington Amorim comemorando gol ao lado de Geraldo e Boiadeiro
Foto: Rodrigo Carvalho

"O Ceará foi especial porque havia 16 anos que não conquistava o acesso. Então já era o pensamento quando fui contratado pelo clube e graças a Deus a gente conseguiu, mas a caminhada foi difícil e emocionante. O início foi ruim, chegamos a ficar na zona de rebaixamento, então pensamos que seria mais um ano lutando contra o rebaixamento, mas o time teve poder de reação com trabalho do PC Gusmão. O grupo era muito unido, o acesso contra Ponte Preta, chegada no aeroporto e vou te falar... nunca tinha vivido isso na minha carreira. É emocionante." Resume, Wellington Amorim.

Início de vida e carreira

Wellington Amorim é de um interior próximo a Brumadinho, em Minas Gerais, chamado de Marinhos. Até chegar a vida profissional, ser jogador de futebol, o ex-atacante precisou trabalhar na roça para ajudar na renda familiar juntos dos seus outros três irmãos.

"Interior assim, era precário de interior para os pais e geralmente a gente trabalhava na roça, ou capinando. A gente tinha que ajudar, não tinha como. Eu com 13 ou 14 anos, que eu lembre, já ajudava minha mãe ou meu pai a capinar, cortar cana, fazer cerca e tudo isso eu tive que enfrentar nessa adolescência. Passei uns seis anos enfrentando o trabalho de roça." Conta, Wellington.

Chegada ao Ceará e acesso

O Ceará vivia um processo de reconstrução, ainda com o nome "sujo" no mercado e ser conhecido por atrasar salários, Evandro Leitão estava a frente do clube neste momento de buscar organizar a estrutura física e principalmente, o futebol no cenário nacional. 

"O primeiro contato que eu tive foi com Evandro Leitão, ele ligou para o meu empresário. Na época tinha Ceará, Vitória, Ponte Preta e Portuguesa interessados no meu futebol. Na época, infelizmente, o Ceará tinha uma fama de mal pagador. Eu estava com muita vontade de voltar a jogar no Nordeste, pois já tinha atuado no Sport, conversei com minha esposa. Então andei conversando com alguns amigos e me diziam para não ir, que o clube não pagou em 2007. Então conversei com Edu Sales, ele tinha jogado comigo no Figueirense, então ele me aconselhou a jogar no Ceará porque o clube tava organizando e o Evandro Leitão tinha palavra. Então a opinião dele foi importante para minha escolha". 

Além da sugestão de Edu Sales, atacante que passou pelo Ceará na época e a conversa com Esposa, Wellington Amorim guarda um carinho pelo ex-presidente alvinegro, Evandro Leitão.

"É uma pessoa muito especial pra mim, tive oportunidade de conhecê-lo. Sempre que ia ao clube recebia a gente com sorriso, uma conversa sempre direta. Deixava bem claro que iria cumprir com tudo que foi conversado, como fez na prática. Isso é muito difícil nos clubes por aí, onde o presidente só aparece quando ganha e quando ta muito ruim, chega pra xingar todo mundo. E o Evandro sempre estava presente no clube. Um cara de conversa muito sincera."

Início de trabalho com Zé Teodoro na Série B, no início da competição, Zé pede para sair do Ceará e acerta com Juventude. Então, o Ceará encontra em PC Gusmão a solução para seguir a caminhada em busca do acesso.

"Quando PC chegou eu já conhecia o trabalho. Tinha atuado no São Caetano, Figueirense e já sabia que era um grande treinador, mas nunca conseguia jogar com ele. A gente até conversou e ele falando né?! 'como é que pode, temos jogadores em mãos que são grandes atletas, mas que não conseguem joga'. Comigo foi assim, nos outros clubes não consegui atuar, mas eu só fui jogar, de fato, com PC Gusmão no Ceará. Ele tem uma característica de sempre conversar e brincar com a gente. Tinha essa proximidade com os jogadores, naturalmente foi trazendo uma união com a gente."

Ida ao Fortaleza para Série C

O projeto era de acesso para Série B, o Fortaleza trouxe uma boa base do time que teve sucesso no Campeonato Paulista, um deles, Wellington Amorim, a contratação mais festejada pelo torcedor, mas que no fim, resultou em dispensa e quase queda para Série D do futebol brasileiro.

"Como é complicado o futebol... fui eu, Dezinho, Esley. Tínhamos feito um Campeonato Paulista maravilhoso e chegamos a lidera. Quando montamos e chegou outros jogadores para o Fortaleza, achávamos que iríamos fazer uma grande campanha, mas infelizmente, não encaixou. A estreia foi contra o CRB, perdemos e nunca se encaixaram, nem sequência. Eu não atuei bem, parecia que tinha um peso para jogar em campo, pedi até dispensa ao Osmar (Baquit), porque estava só atrapalhando."